sábado, 20 de junho de 2020

Reflexão - Tom Slater ("The Spectator")

(sublinhados meus)

Farewell, Uncle Ben


Farewell, Uncle Ben
Uncle Ben on a shop shelf, for now (Getty images)

The mini cultural revolution unleashed by the Black Lives Matter movement, this campaign of cleansing society of any reminder of a more racist past, has been remarkable in its speed and scope. Statues have been toppled. Sitcom episodes have been memory-holed. Actors have been forced into grovelling apologies for once playing a non-white character. Now, perhaps inevitably, they’ve come for the rice products.
This is the news that beloved rice brand Uncle Ben’s is set to scrap its brand character – the eponymous fictional rice farmer – for some reason or other to do with Black Lives Matter. The reasoning behind this will be curious to most. After all, Uncle Ben is not a racist caricature, mocking black people. He’s just black. But in the name of anti-racism, food giant Mars feels it is time for him to go
‘As we listen to the voices of consumers, especially in the black community, and to the voice of our associates worldwide, we recognise that now is the right time to evolve the Uncle Ben’s brand, including its visual brand identity, which we will do’, Mars said in a statement. ‘Racism has no place in society. We stand in solidarity with the black community, our associates and our partners in the fight for social justice.’
This is nutty even by the standard of the past few weeks. The idea that a kindly looking African-American gentleman on a packet of microwaveable rice is somehow fuelling racism is one even the more woke would struggle with. The only petition I can find calling for this has a mighty 500 signatures. It claims that Uncle Ben is actually an ‘Uncle Tom’, which one can only hope is a joke.
Some people over the years have criticised the brand. A New York Times piece from 2007 discusses the ‘contentious history of Uncle Ben as the black face of a white company, wearing a bow tie evocative of servants and Pullman porters and bearing a title reflecting how white Southerners once used “uncle” and “aunt” as honorifics for older blacks because they refused to say “Mr” and “Mrs”.’


But if Uncle Ben does bear an imprint of racism and Jim Crow, it is one that few today would recognise, or certainly get that upset about. I mean, we’re talking about rice here. In 2007, in an attempt to reckon with his ‘contentious’ history, Ben was made ‘chairman’ of the company. On a website, you could look around his ‘office’, leading to complaints that it didn’t feature any books by civil-rights figures. This level of scrutiny of fictional characters is absurd. 
Unfortunately, common sense has been the first casualty of this culture war, as companies and brands have rushed to make statements that are ultimately trivial if we’re supposed to be talking about tackling racism. Many seem to be acting without really thinking, harried by the ‘bold’ moves of others. The Uncle Ben announcement comes after Quaker Foods announced it would be dropping Aunt Jemima syrup, a character whose origins track back to a more explicitly racist minstrel-show stereotype.
Many on the anti-racist left are trying to distance themselves from the excesses of this moment. But they have to take responsibility for this hysteria. For years, their hypersensitivity and determination to see racism everywhere has led us into endless niche debates that are of zero consequence to anyone. If you remember, the last time we were talking about rice and race was when Dawn Butler MP accused Jamie Oliver of cultural appropriation over his ‘jerk rice’ pouches.
This obsession with trivialities is how we’ve ended up here: with the image of a black man being removed from a rice packet in the name of anti-racism. A once proud movement for equality has been reduced to a bad joke.

Reflexão - Henrique Neto

(sublinhados meus)

Pobreza, ignorância, escolaridade, educação e estupidez

O que continua a acontecer nos EUA, com o assassínio de negros às mãos de alguns brutamontes vestidos de polícias, é não apenas incompreensível mas revoltante.

Nestes meses de pandemia tem-se falado muito sobre a pobreza, quer relativamente a Portugal, quer em relação a muitos outros países, como em África, no Brasil e mesmo nos Estados Unidos. Todavia, fala-se pouco de ignorância, habitualmente ligada à pobreza, mas não só. A ignorância não existe apenas entre os pobres, mas também em muitos outros setores das sociedades em que a escolaridade formal não corresponde, pelo que temos visto, a um nível de desenvolvimento intelectual e cívico minimamente aceitável. Terá de haver outras razões, que serão da área das neurociências, da vida em família, das relações sociais ou outras.
Por exemplo, em Portugal temos tido exemplos de pessoas pertencentes a claques do futebol que se comportam como animais, sem o mínimo de discernimento próprio de seres humanos, mesmo em assembleias-gerais onde alguns energúmenos se deixam arrastar pela paixão, ódios e vinganças várias. Estarão envolvidos pobres e ricos, mas o fenómeno é o mesmo.
Esta semana soubemos que alguns destes seres pouco humanos vandalizaram uma estátua do Padre António Vieira, a quem o nosso grande poeta Fernando Pessoa chamou o príncipe da língua portuguesa – neste caso, provavelmente, com origem na cegueira ideológica que julga o passado com os critérios do presente. Para mais, vandalizar a estátua do homem que mais se bateu pela dignidade dos povos originais do Brasil é não apenas ignorância, para se tornar na estupidez mais perversa. Mas o mesmo seria se a vítima fosse Afonso de Albuquerque.
Para espanto da racionalidade e do conhecimento desenvolvidos ao longo de séculos, temos agora dirigentes de países, como Donald Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil, que fazem da ignorância e da estupidez a sua marca política. Quando os ouvimos falar não podemos deixar de nos espantar como tais fenómenos são possíveis no séc. xxi, no mesmo tempo em que os homens foram à Lua, viajam pelo espaço, curam doenças, desenvolvem espantosas tecnologias, como o Skype ou o Zoom, que nos permitem ver e falar com as nossas famílias a milhares de quilómetros de distância.
O que continua a acontecer nos Estados Unidos, com o assassínio de negros às mãos de alguns brutamontes vestidos de polícias, anos depois de Luther King, de Kennedy e de Obama, é não apenas incompreensível mas revoltante e coloca em causa o modelo de educação que é fornecido a milhões de crianças e de jovens em todo o mundo.
No nosso tempo temos de ter a humildade de voltar a definir com maior rigor as palavras pobreza, ignorância e educação, tanto como escola e família. Temos de ir à raiz da ciência e das tecnologias que os homens criaram para encontrar novas formas de estudar o fenómeno desta sub-humanidade que compromete os resultados de milhares de anos de avanços civilizacionais do nosso planeta.
Temos de voltar a definir o valor das ideologias. Porque não podemos continuar a julgar o passado e os nossos antepassados apenas, ou principalmente, com base em conceitos ideológicos. Devemos, naturalmente, honrar aqueles que no passado viram mais longe e anteviram os tempos futuros, mas não podemos passar a vida a julgar a esmagadora maioria que não conseguiu fazê-lo no seu tempo. Para não tornar ainda mais confuso e estúpido o processo histórico, temos de deixar em paz os nossos antepassados e as suas fraquezas, deixando o seu estudo aos historiadores, para nos concentrarmos no cumprimento dos valores do nosso tempo.
Neste campo, a batalha ideológica entre os bons e os maus do passado ou o combate ideológico entre os adeptos de Trump e os demolidores dos monumentos da nossa história, como feito pelo ISIS e como está a ser feito por reação à morte dos negros americanos. Ou a comparação ideológica entre os campos de concentração nazis e o Gulag soviético, o que poderá deixar muito satisfeitos os ideólogos de sinal contrário, para ser, de facto, apenas mais uma demonstração da ignorância e da irracionalidade deste tempo em que vivemos.
Repito, o que se está a passar neste tempo, por que o nosso turno é responsável, não é aceitável e é perigoso. Vamos antes tentar estudar as origens da ignorância e da estupidez, com a certeza de que, se tentarmos fazê-lo através de mais ignorância e de mais estupidez de sinais contrários, é porque pertencemos a gerações que não estão à altura das mudanças necessárias no nosso tempo.

Empresário
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade

Reflexão - Alberto Gonçalves (no Observador)

(sublinhados meus)

As minhas indignações não são menos do que as deles 
Venho por este meio informar as autoridades competentes das coisas que me incomodam, as quais gostaria que fossem removidas sem demora e, nos casos aplicáveis, incineradas de seguida.
20 jun 2020, 00:12

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Lamentavelmente, ainda não atingi a sofisticação necessária para combater o racismo, o sexismo, o capitalismo, o fascismo, o colonialismo, o cubismo e outras calamidades através da vandalização de estátuas, da destruição de propriedade alheia e do roubo de televisores em lojas da especialidade. Isso não significa que eu não seja sensível e não me ofenda. Pelo contrário, sinto muito e ofendo-me imenso. Sucede apenas que reajo a impulsos diferentes daqueles que movem os comunistas, perdão, os pacifistas que arrasam tudo o que lhes surge à frente. E que não sou pessoa para me manifestar em público, arriscando apanhar covid ou sarna. Assim, venho por este meio informar as autoridades competentes das coisas que me incomodam, as quais gostaria que fossem removidas sem demora e, nos casos aplicáveis, incineradas de seguida.
Estatuária
As estátuas “clássicas” e figurativas não me maçam. Nem me entusiasmam: nunca me aproximei de uma para descobrir a personagem representada. Poderia haver um busto de Idi Amin na minha rua e eu continuaria sem saber. Se calhar, até há. O que não há é direito de encher o país com rotundas e, depois, encher as rotundas com o esterco visual designado por “arte pública”. Às vezes, o esterco é despejado fora das rotundas, como aconteceu – agora sim – perto de minha casa com a “obra” de um tal Cabrita Reis. Consta que aquilo custou 300 mil euros. Venda-se ao ferro-velho e recupere-se 50 paus. É verdade que os hábitos recomendam a mera vandalização, mas vandalizar “arte pública” é, inevitavelmente, melhorá-la.
Toponímia
No Norte o problema é menos grave. No Sul, porém, existe a hipótese de darmos por nós a conduzir na Avenida Álvaro Cunhal, na rua General Vasco Gonçalves, na rua Che Guevara (juro: é na Amadora) ou na rua Vladimir Ilitch Lenine (na Póvoa de Santa Iria, que não conheço e fique ceguinho se um dia vier a conhecer). Parecendo que não, é aborrecido aturar homenagens a assassinos, consumados ou platónicos. É favor trocar os nomes em questão por gente que não colaborou, directa ou indirectamente, com opressões e chacinas. De caminho, aproveitem para rever a rua de Leça da Palmeira evocativa de um professor de físico-química que era pedófilo, e a quem o meu pai, seu explicando, ameaçou, cito, “partir-lhe o focinho”.
Audiovisual
 A HBO proibiu o “Gone With The Wind”. A BBC censurou o “Fawlty Towers”. A Netflix varreu não sei quantos filmes a título de “ofensivos”. Por mim, podem continuar a sanha e desaparecer com tudo. Fora o “Us” (com restrições) e o “Better Call Saul” (sem restrições), há anos que não aparece filme ou série ficcionais de que goste. E o que gosto tenho em DVD. Mesmo os documentários, o último género a fintar ocasionalmente as palermices vigentes, estão a especializar-se na “denúncia” – do sr. Trump, do sistema judicial americano, do sistema prisional americano, da indústria alimentar, da indústria farmacêutica, dos dramas “ambientais” e do que calha. Detesto denunciantes. E detesto “causas”.
Literatura
Alfabetizadas através da leitura de tutoriais de guerrilha urbana e embalagens de tofu, as patrulhas da moral correm logo a vetar Mark Twain e George Orwell. Não faz mal: tenho as obras completas em local seguro. No entanto, se é para queimar livros, reclamo a queima de: 1) “narrativas” dedicadas a divulgar ao mundo os debates do autor com o respectivo “eu interior”, estilo José Luís Peixoto ou Gustavo Santos; 2) “romances históricos” cujo romancista confunde a História com o enredo do “Vamos Jogar ao Totobola”, estilo Isabel Stilwell ou o filho do prof. Freitas; 3) derivações pacóvias e “exóticas” do “realismo mágico”, estilo José Saramago ou Mia Couto; 4) lirismo a cargo de “poetas” interessadíssimos nos resultados da bola e em rimar obsessivamente “país” com “diz”, estilo Manuel Alegre e Manuel Alegre; 5) toda a literatura que é infantil na medida em que os perpetradores são demasiado limitados para rabiscar textos legíveis por um adulto normal, estilo Isabel Alçada e Alice Vieira; 6) qualquer obra consumida na Festa do “Avante!” e no acampamento de Verão do BE (estou a brincar: os camaradas só conseguem ler slogans em t-shirts, e alguns desistem a meio).

Universidade
Sempre ofendidos, os “progressistas” que berram na rua, e praticam homeopatia em casa, querem cancelar o ensino de factos e trocá-lo pelo ensino das comichões que lhes perpassam a meninge. Exemplo? O papel de Churchill na II Guerra deve ser escondido porque o velho Winston não apreciava indianos e era brusco com as senhoras. Dado não frequentar universidades, tanto se me dá. Só reivindico o encerramento, e subsequente demolição, de toda a instituição académica que aceite, ou sequer pondere aceitar, a docência de Boaventura de Sousa Santos, ou que permita que os seus docentes mencionem o nome de Boaventura de Sousa Santos em tom abonatório e não para saudável efeito de galhofa.
“Media” e “redes sociais”
Os comunistas, perdão, os anti-racistas pretendem a censura das opiniões que os fazem chorar. Eu não pretendo censurar as opiniões que me fazem rir.

Humanidade
Conforme lhes compete, os “anti-fascistas”, “anti-racistas” e anti-etc. desejam, assaz legitimamente, abater as criaturas que não pensam como eles – ou, se formos exactos, as criaturas que pensam. Neste domínio, não tenho apetites de reciprocidade. É certo que quando, três anos após Pedrógão e no início da maior derrocada económica da contemporaneidade, as mais altas figuras do regime se juntam em cerimónia patética a celebrar a realização de uns jogos da bola em Lisboa, a minha vontade imediata era que um raio fulminasse os figurões e fosse por ali fora, a fulminar as figurinhas da hierarquia. A cada dia, as afirmações do Presidente da República, do primeiro-ministro e das “autoridades” em geral refinam o carácter grotesco e o desprezo profundo pela ralé. Mas não sou adepto de soluções drásticas: basta-me que deportem os figurões e as figurinhas para um ermo a milhares de quilómetros daqui. O problema é que, por causa da covid, já quase nenhum país aceita portugueses. E esses portugueses em particular não seriam tolerados mesmo sem covid. Voltemos então à hipótese do raio fulminante.









quinta-feira, 18 de junho de 2020

terça-feira, 16 de junho de 2020

Reflexão - LBC (estátuas)

Statues, a different approach; once they were symbols, now they are targets.








quarta-feira, 10 de junho de 2020

Séries - Abandoned engineering S1


Cadeia na Estónia, auto estrada no Brasil, pista de gelo em Sarajevo, ponte na Florida, barragem em Itália.
Estruturas "imortais"...










Reflexão - London statues toppled

How did we get here?

How can we stop these troubled times?


How can the mob be stopped?




Who was Edward Colston and why was his Bristol statue toppled?

Slave trader was a member of the Royal African Company which had a monopoly on the west African trade in the late 17th century

Edward Colston was a slave trader, merchant and philanthropist whose statue in Bristol was toppled by anti-racism protesters.
Edward Colston was a slave trader, merchant and philanthropist whose statue in Bristol was toppled during Black Lives Matters protests. Photograph: Alamy
The statue of slave trader Edward Colston that was toppled from its plinth and pushed into the docks by protesters has long caused anger and divided opinion in Bristol.
The 5.5-metre (18ft) bronze statue had stood on Colston Avenue since 1895 as a memorial to his philanthropic works, an avenue he developed after divesting himself of links to a company involved in the selling of tens of thousands of slaves. His works in the city included money to sustain schools, almshouses and churches.
Although Colston was born in the city in 1636, he never lived there as an adult. All his slave-trading was conducted out of the City of London.
Colston grew up in a wealthy merchant family in Bristol and after going to school in London he established himself as a successful trader in textiles and wool.
In 1680 he joined the Royal African Company (RAC) company that had a monopoly on the west African slave trade. It was formally headed by the brother of King Charles II who later took the throne as James II. The company branded the slaves – including women and children – with its RAC initials on their chests.
It is believed to have sold about 100,000 west African people in the Caribbean and the Americas between 1672 and 1689 and it was through this company that Colston made the bulk of his fortune, using profits to move into money lending.
Cheers as Bristol protesters pull down statue of 17th century slave trader – video
He sold his shares in the company to William, Prince of Orange, in 1689 after the latter had orchestrated the Glorious Revolution and seized power from James the year before.
Colston then began to develop a reputation as a philanthropist who donated to charitable causes such as schools and hospitals in Bristol and London. He briefly served as a Tory MP for Bristol before dying in Mortlake, Surrey, in 1721. He is buried in All Saints Church in Bristol.
His philanthropy has meant the Colston name permeates Bristol. Besides the statue, there is Colston’s, an independent school, named after him, along with a concert hall, Colston Hall, a high-rise office office block, Colston Tower, Colston Street and Colston Avenue.
Campaigners have argued for years that his connections with slavery mean his contribution to the city should be reassessed. It was decided in 2018 to change the the statue’s plaque to include mention to his slave-trading activities but a final wording was never agreed.
“Whilst history shouldn’t be forgotten, these people who benefited from the enslavement of individuals do not deserve the honour of a statue. This should be reserved for those who bring about positive change and who fight for peace, equality and social unity,” the petition reads.
“We hereby encourage Bristol city council to remove the Edward Colston statue. He does not represent our diverse and multicultural city.”

Bristol Museums has sought to explain the reason for Colston’s statue remaining the city and says on its website that “Colston never, as far as we know, traded in enslaved Africans on his own account”.
But it added: “What we do know is that he was an active member of the governing body of the RAC, which traded in enslaved Africans, for 11 years.”