quarta-feira, 29 de setembro de 2021

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Reflexão - Henrique Neto

 

Uma tragédia nacional

Pessoalmente, tenho muita dificuldade em compreender que quase metade dos portugueses, a julgar pelas sondagens, mostre a vontade de voltar a votar no Partido Socialista. Não entendo porque revela um grau de satisfação com a governação do País que a realidade não justifica e porque as políticas do Governo conduzem-nos a uma situação económica e social ainda pior no futuro, não havendo sinais do primeiro-ministro António Costa compreender a situação. Mais, trata-se da parte de muitos portugueses de uma decisão profundamente irracional, porque teria sido preferível terem dado uma maioria ao PS nas últimas eleições, evitando a influência negativa do PCP e do Bloco de Esquerda na governação.

Também difícil de compreender, porque uma maioria dos portugueses que deu a vitória a José Sócrates, está agora de forma esmagadora contra o anterior primeiro-ministro, aparentemente não se dando conta de que as políticas de agora são essencialmente as mesmas. A corrupção no aparelho de Estado, os empregos para os “boys”, a submissão aos grandes interesses económicos e os erros feitos nos investimentos realizados ou previstos rea-
lizar, são em tudo semelhantes. Ou seja, será que os eleitores portugueses vivem uma realidade paralela à própria realidade, ou seja, são incapazes de aprender com o passado? Ou têm apenas receio de que a situação do país possa ainda piorar?

Como disse, tenho dificuldade em compreender que, como aqui mostrei a semana passada, os portugueses não saibam que os seus rendimentos decrescem em relação à média da União Europeia, enquanto os rendimentos nos países da antiga cortina de ferro crescem. Ou que a economia portuguesa está a bater um recorde de estagnação que já leva mais de vinte anos e que o investimento é anémico e a dívida não cessa de aumentar. Pior, que as decisões políticas e económicas de António Costa só podem piorar a situação, mesmo em relação ao desastre das políticas passadas de José Sócrates. Ou que o Programa de Resistência e Resiliência de 16.000 milhões de euros da União Europeia, representa um exercício de venalidade política e não de desenvolvimento do País.

Uma das razões reside no prometido investimento, ou na ausência de investimento produtivo criador de riqueza. Durante os últimos seis anos, os orçamentos do Estado, um a seguir a outro, previram investimentos na Saúde, na Educação, na Habituação e em Obras Públicas, investimentos que nunca forma realizados. Espero que os leitores ainda se recordem das célebres cativações. Ou se lembrem de alguns dos investimentos feitos e outros anunciados, por exemplo: Quimonda; La Seda; helicópteros Kamov; nacionalização do BPN; rede Siresp; parcerias público/privadas; porto do Barreiro; aeroporto do Montijo; exploração de petróleo, de gás, de lítio e de hidrogénio; a ligação por ferrovia a todas as sedes de distrito; etc.. Trata-se de alguns investimentos já feitos com resultados desastrosos, que serviram apenas para aumentar a dívida pública e investimentos que nunca saíram do papel, de pura propaganda.

Temos agora o investimento na TAP, que era uma empresa privada com resultados muito apreciáveis em termos de crescimento da empresa, de aumento do número de aviões e de rotas, vivendo em relativa paz social e que o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, resolveu nacionalizar à revelia de todas as outras soluções encontradas pela União Europeia para ajudar as empresas do sector a resistir à crise. Já lá vão 1200 milhões de euros e ainda não existe no terreno um plano de reorganização, a maioria dos aviões continua no chão e as empresas estrangeiras têm sucesso no nosso próprio mercado ao aumentarem o número de voos para o Porto, para o Algarve, Madeira e Açores. Acresce que as greves já começaram para desespero dos turistas que nos visitam.

Mas é na ferrovia que o ministro Pedro Nuno Santos leva a asneira ao seu nível mais alto. Tendo feito um bom trabalho na recuperação dos comboios deixados no lixo pelos seus antecessores, recuperou-os agora para o serviço, mas paralelamente desenvolveu a mentira de que os espanhóis nada fizeram para mudar a bitola ibérica para a bitola UIC, que é o padrão em uso em toda a Europa, sabendo-se que a Espanha já está do outro lado da fronteira portuguesa de Bragança com novos comboios e que os portugueses daquela região, atravessando a fronteira, já podem ir a Madrid em menos tempo do que ao Porto. Como se sabe, os espanhóis têm hoje uma das mais modernas redes ferroviárias da Europa, com ligação a França na Catalunha, e em breve terão pronta uma segunda ligação através do País Basco por túneis em construção nos Pirenéus.

O ministro sabe ainda que o governo espanhol deixou de pensar nas ligações a Portugal por desinteresse do nosso País na bitola UIC, tendo dado preferência à via do Mediterrâneo em construção e que ligará o porto de Algeciras, concorrente de Sines, a Valência, Barcelona e a França, uma linha de maior valor para a economia espanhola.

Nuno Santos mente sistematicamente aos portugueses, o que faz de forma consciente por razões ideológicas, nomeadamente quando insiste que a bitola ibérica não será um problema na ligação da ferrovia portuguesa a Europa, recusando-se a explicar como isso se fará, um milagre ainda não descoberto pelos espanhóis e por alguns outros países da antiga cortina de ferro, que gastaram dezenas de milhares de milhões de euros, financiados pela União Europeia, para mudar de bitola.

O ministro Pedro Nuno Santos ao planear a modernização da ferrovia portuguesa em bitola ibérica, para serviço apenas no território nacional, está a conduzir a nossa economia para a dependência dos transportes espanhóis, nomeadamente porque as empresas ferroviárias europeias não entrarão em Portugal por ausência de material circulante, que é especial e mais caro, por não haver no mundo mais do que um só cliente, Portugal. Ou seja, o resultado é a manutenção do monopólio da empresa Medway, que já domina o mercado nacional de mercadorias e que em combinação com a antiga rede espanhola terá o exclusivo do transporte das mercadorias portuguesas de e para a Europa, com transbordo, naturalmente. A que preço?

Aliás, Portugal já está a sofrer esse efeito ao comprar novos comboios que são de fabrico especial, mais caros e com prazos de entrega ridículos de muitos anos, algo que o ministro escamoteia ao conhecimento dos portugueses. Esta é a filosofia da geringonça, transformar Portugal num país do terceiro mundo e só formalmente pertencente à União Europeia, mas de facto o parceiro na Europa de países como Cuba ou a Venezuela.

António Costa e o ministro Pedro Nuno Santos, seu putativo substituto, estão a conduzir Portugal para a cauda da União Europeia e para a irrelevância entre as nações desenvolvidas. Fazem-no através da mentira, de negócios nunca explicados e do apoio que lhes é dado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda. Que muitos portugueses deixem é a maior tragédia nacional.■

Reflexão - VetVals (Jantar)

 Em 02set2021 na "Antiga Casa Marítima" com J.Azevedo, M.V.Oliveira e A.Duarte









sábado, 25 de setembro de 2021

Reflexão - Almoço (IST 2)

Almoço na Trafaria (Antiga Casa Marítima) em 16.09.2021 com o Augusto FS, Zé Bento RM e o Simão M .

Curioso como a idade vai aproximando as pessoas, tornando-as mais humanas e sensíveis.





Reflexão - Érica Liane

Funny how these things are. Is there some kind of injustice in our lives? Why some must leave much before they should? Why did you leave when you have all your life in front of you?

Why did you choose to wonder around the world?

I just met you in stage. And it was enough to see what you carry, all your true hapiness.

Nice to meet you.

 



terça-feira, 14 de setembro de 2021

Livros - Hubert Reeves (Já não terei tempo)

 


Livros - Reformar Portugal

Um livro com quase 20 anos, relido agora. Colaborações de renome e com muita actualidade ( na altura e agora)

Conclusão - não temos salvação!...




segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Reflexão - Jaime Nogueira Pinto

(Jaime Nogueira Pinto)

 

O dia em que a Economist descobriu a esquerda iliberal /premium

Só espero que a não-esquerda esteja pelo menos tão atenta ao que por aí anda e ao que aí vem como os liberais da The Economist – que tardaram a identificar a ameaça mas que o fizeram.

10 set 2021, 00:10

 

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Foi com surpresa que vi a capa da última The Economist. Sobre um fundo amarelo vivo, um púlpito de madeira crivado de flechas e um título: “The Threat from the Iliberal Left”.

 

 

 

Teria a Economist finalmente descoberto a existência de uma “esquerda iliberal”? E logo de uma esquerda iliberal ameaçadora? Leio regularmente a revista, na sua constante apologia do globalismo e correspondente ataque aos “iliberais identitários” e populistas, com Trump e Orbán à cabeça; que dedicasse agora um número à descoberta e à ameaça da “esquerda iliberal” pareceu-me digno de nota.  Um autêntico despertar.

A “novidade” para a qual The Economist tenta alertar os seus leitores mais distraídos é a existência de uma forte corrente de “esquerda iliberal”, nada e criada nos santuários do liberalismo histórico – da liberdade religiosa, da liberdade de expressão, de representação popular. É aí, sobretudo nas universidades da Califórnia e em algumas da Costa Leste, que se desenvolve e estabelece hoje uma cultura neo-puritana de proibição, punição e cancelamento, a lembrar o castigo e a humilhação de Hester Prynne em The Scarlet Letter, de Nataniel Hawthorne, ou o banimento dos dissidentes Roger Williams e Anne Hutchinson, de Massachusetts Bay.

The Economist faz um bom levantamento das origens filosóficas e políticas desta ofensiva e da estratégia seguida pelo wokismo – um movimento surgido nos Estados Unidos para “acordar” ou “despertar” a opinião pública para a discriminação racial depois da Grande Depressão, mas que, entretanto, se multiplicou para dominar a Terra, “impondo uma ortodoxia” e intimidando e punindo os dissidentes.

 

 

É certo que os pastores do novo dogma e os seus prosélitos já não podem amarrar os dissidentes ao pelourinho ou enforcá-los e queimá-los fisicamente, mas vão-no fazendo mais requintadamente e como podem, recorrendo a novas a variadas formas de alcatrão e penas – encorajando e premiando a denúncia, caluniando os pecadores públicos, segregando-os, calando-os, expulsando-os exemplarmente.

Assim, segundo The Economist, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha 70 a 80% dos académicos não-alinhados confessam-se hostilizados pelos colegas e pelos estudantes e 68% dos estudantes admitem que não dizem o que pensam, não vão os colegas considerar as suas opiniões ofensivas.

Ou seja, há uma “esquerda iliberal” que, puritana e inquisitorialmente, tem vindo a entreter-se a traçar limites à livre expressão. E o número de endoutrinados ou de noviços é já significativo: 40% dos nascidos já neste milénio (os chamados “millennials”) acham que devem banir-se teses e opiniões ofensivas para “as minorias”; e, sempre de acordo com The Economist, estão também zelosamente empenhados na denúncia, julgamento, punição e expulsão dos hereges.

 

Em 2018 Colin Wright, da Penn State University, escreveu dois artigos em que defendia que o sexo era uma realidade biológica e não uma construção social. Blasfemo, desmancha prazeres, machista, transfóbico, racista; pronta acusação de prática de “ciência racialista” e consequente expulsão da universidade. Ainda teve a solidariedade privada de alguns colegas, mas ninguém se atreveu a contratá-lo.

Para a promoção da diversidade

Outra das actividades de eleição da dita esquerda iliberal é a “promoção da diversidade” mediante a censura de livros considerados perigosos. A actividade envolve “releitura crítica”, escrutínio de fobias através dos tempos, denúncia dos silêncios ou excessos dos clássicos (“clássicos” para quem?  Para “a maioria opressora”, evidentemente) e estabelecimento de um Index. E as famosas queimas de livros pelos nazis também voltaram: no Canadá, em 2019, milhares de livros de banda desenhada – do Tintim, do Asterix, do Lucky Luke – foram para a fogueira por desrespeito a muitas, variadas e imaginadas populações autóctones.

Cada vez mais frequentemente se cancelam projectos e edições ou se condiciona a sua execução, tradução ou publicação à remoção de determinadas premissas e expressões e à sua substituição por premissas e expressões mais ortodoxas.

Alexandra Duncan, uma norte-americana branca, renunciou à publicação de Ember Days, um romance escrito do ponto de vista de uma mulher negra, depois de lhe terem chamado à atenção que estava a incorrer no crime de “apropriação cultural”. A retratação de Duncan, em forma de autocrítica (que pode ver-se na íntegra em What the Cancellation of Alexandra Duncan’s Ember Days can Teach Us About Allyship) não é muito diferente em estilo e em conteúdo das “confissões” dos réus dos processos do estalinismo dos anos 30.

 

É assim que Duncan se arrepende, se penitencia, se autoflagela e promete não voltar a narrar, submetendo-se ao processo de reeducação em “Allyship” que poderá, eventualmente, conduzi-la à salvação (caso os escrupulosos representantes da comunidade Gullah Geechee e “os colegas”, uma vez concluído o processo, venham a aceitá-la como “aliada”):

Alguns colegas, preocupados, chamaram-me à atenção para a premissa do meu livro… fazendo-me notar que era ofensiva. A cultura Gullah Geechee foi sistematicamente reprimida e apagada, e eu, na minha irreflectida tentativa de escrever um livro que fosse inclusivo das culturas de Charleston e de Lowcountry, onde o enredo decorre, participei nessa mesma repressão. A minha limitada concepção do mundo, de pessoa branca, levou-me a crer que podia descrever e encarnar uma personagem dessa cultura.

O facto de não ter percebido os problemas que essa minha premissa inicial levantava ao longo da investigação que fiz para o livro, era, já de si, uma inequívoca prova de que nunca poderia ser eu a contar a história. Estou profundamente arrependida e envergonhada por ter cometido um erro desta gravidade e espero que as minhas acções não afectem negativamente a luta por uma maior diversidade na literatura infantil… Tenho um enorme respeito pelos autores e pela comunidade Gullah Geechee e pensar que o meu trabalho os possa ter prejudicado é para mim uma fonte de grande consternação”.

E voltou-se à pré-exigência de conformismo ideológico. Na Universidade da Califórnia, os concorrentes a lugares académicos têm de preencher declarações sobre como pensam “promover a diversidade, a equidade e a inclusão” – e são admitidos ou recusados mais em função desses bons propósitos do que de outros requisitos curriculares. Vale a pena ler a carta de demissão de Peter Boghossian, da Portland State University, um pensador e professor de Filosofia, ateu e de esquerda, que ousa questionar a ortodoxia e blasfemar contra a transformação das universidades de “bastions of free thinking” em “social justice factories”, cuja missão parece não ser já a de ensinar estudantes a pensar, mas a de treinar activistas na arte de bem macaquear “as certezas morais dos ideólogos.”

 

Da blasfémia ao “crime de ódio”

Sempre seguindo The Economist, o artigo “Imposing Ortodoxy: Echoes of the confessional state”, lembra que na Escócia, pátria do Iluminismo setecentista de Edimburgo, foi agora abolido o crime de blasfémia, um crime de que não havia participações desde 1843.

Mas talvez porque o sagrado seja agora outro ou porque se queira instituir um novo sagrado, ao mesmo tempo que se suprimiu a blasfémia, instituiu-se, em Março deste ano de 2021, o “crime de ódio”.  E o que é o “crime de ódio”? É todo o acto “verbal ou físico”, com origem no “preconceito”, que possa “prejudicar a coesão da sociedade” ao ofender “as comunidades minoritárias”. E o diploma que o instituiu na Escócia encoraja os ofendidos a comunicarem por email ou por telefone qualquer manifestação de “ódio às minorias”.

As vítimas deste crime são todos os que, por motivos “de deficiência, de raça, de religião, de orientação sexual ou de identidade transgénica”, se sintam ofendidos por terceiros. E ao modo neopuritano, quem tenha conhecimento das ofensas é encorajado a denunciar os prevaricadores: “We want you to report it. Licença para apedrejar, portanto.

O crime de blasfémia consistia em dizer ou escrever palavras contra Deus e a religião, com intenção de causar perturbação e desordem na comunidade. O “crime de ódio”, que, segundo The Economist, pode levar até sete anos de prisão, é mais vasto e abre toda uma panóplia de novas possibilidades.

Sem exageros apocalípticos, que acabam por ser dissuasores da resistência, não posso deixar de chamar a atenção para a vaga censória que, sob vestes sofisticadas e para proteger a população da “desinformação” e do “preconceito”, se está a criar no Ocidente. Como não podia deixar de ser, a “desinformação” e o “preconceito” que “põem em risco a Democracia” vêm sempre e só de heréticos que actuam sobretudo nas “redes sociais” e são manipulados por fascistas foragidos de Saló, “supremacistas brancos” do Klan, e, entre nós, por hordas de reaccionários, saudosistas do salazarismo e machistas homofóbicos. Há, por isso, que proibir e reprimir os veículos desses agentes do Mal.

 

E como agem os agentes do Mal para agredir a Democracia? Caluniando os políticos, maculando os profissionais dos media, enxovalhando os académicos progressistas. E, claro, disseminando o discurso de ódio. Então, para defender “as minorias” de algum povo enganado por falsos pastores, vá de pôr em vigor uns direitos humanos “para a era digital” e de criar entidades “exógenas” para proteger “as populações” das massas ignaras e seus instigadores, com o apoio dos observatórios de onde cientistas antifascistas, independentes e objectivos fazem “ciência” e promovem “o progresso”.

Despertar

Com a religião dos “acordados” à solta, com os fariseus humanitários entretidos a atirar pedras a S. Paulo e os comentadores preocupados com a repressão na Hungria e indignados com os desmandos de Trump (mas à procura do “bom talibã”, pragmático e moderado e enternecidos com o Biden da debandada de Cabul), convém que todos despertemos. E se estivermos bem acordados não podemos deixar de ver que as leis contra os “crimes de ódio”, se aprovadas e aplicadas, só podem querer dizer uma coisa: que está em marcha a instauração de uma cultura de cancelamento e de censura que, em nome de um puritanismo pseudo humanitário e multicultural, se prepara para proibir toda e qualquer diferença de opinião. E para inibir a criação.

Porque toda a criação literária, dos poemas homéricos às cantigas de escárnio e maldizer e aos remoques de Sancho no burro, de Joyce a Céline, das sátiras romanas ao Gargântua e Pantagruel de Rabelais, está cheia de conceitos, de expressões, de palavras, de vida, de humanidade que não cabe nem passa no crivo censório dos observadores e analistas da “desinformação” e do “discurso de ódio”.

E Shakespeare? E Quevedo? E os libertinos do século XVIII, de Laclos a Sade? E o discurso conservador, ou mesmo reaccionário e pessimista, subjacente à prosa de Chateaubriand, de Baudelaire, de Flaubert?

Antevejo grande excitação nos intelectuais e profissionais da observação, dos denunciantes das redes sociais, dos activistas da neutralidade e da inclusão, todos a compilar curriculum e a mostrar serviço para a grande corrida às novas comissões de censura pagas pela UE, pelo Governo, pelos municípios, para combater o racismo, a intolerância, enfim, “o discurso de ódio”.

Só espero que a não-esquerda, ou o que dela resta, esteja pelo menos tão atenta ao que por aí anda e ao que aí vem como os liberais da The Economist –  que tardaram a identificar a ameaça mas que o fizeram. Até porque, mais do que nas tricas eleitorais, é aí e em tudo o que tem que ver com a batalha das ideias e a resistência cultural que se joga o futuro.


domingo, 12 de setembro de 2021

Reflexão - Der Spiegel (Alentejo)

 

Portugal Das 247-Millionen-Euro-Geschäft mit Europas Frühstücksbeeren

Der Hunger der Europäer auf Heidel-, Erd- und Himbeeren hat Portugals Provinz in eine Goldmine für Großkonzerne verwandelt. Die Arbeitsmigranten und das größte Naturschutzgebiet des Landes leiden unter dem Boom.

Globale Gesellschaft

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In den vergangenen vier Jahren, sagt João Rosado, habe er alles ausprobiert: 1,80 Meter große Männer, kleine Frauen. Inder und Nepalesen. Gemischte Teams.

Effizienz ist in diesen Wochen wichtig, es ist Ende Juni, Hochsaison auf Portugals größter Heidelbeerfarm. Bis an den Horizont reichen die Sträucher, dazwischen knien Hunderte Erntehelfer und pflücken. Vorarbeiter auf Quads treiben sie in verschiedenen Sprachen an.

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Größte Südstaaten-Statue in den USA entfernt

Rosado, Chef der Plantage, sitzt in einem Container auf einem sandigen Hügel und wacht von dort über sein Reich. 92 Hektar oder knapp 130 Fußballfelder groß ist die Anlage, die er hier im Süden des Landes bis an den Horizont aufgebaut hat.

Beeren bis zum Horizont: Erntehelfer auf Portugals größter Heidelbeerplantage

Beeren bis zum Horizont: Erntehelfer auf Portugals größter Heidelbeerplantage

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Wenn Rosado zu seinen Leuten will, nimmt er das Auto. Bis zur Mitte der Plantage sind es etwas mehr als sechs Minuten. Der kleine Dacia war einmal weiß, inzwischen sieht er aus wie ein Rallyefahrzeug. Es gebe für jede Beere ein »window of opportunity«, erklärt Rosado unterwegs, das man erkennen und nutzen müsse, genau wie die richtigen Arbeitskräfte.

Die meisten der knapp 300 Arbeiter seiner Farm sind heute nicht größer als 1,70 Meter und arbeiten in getrennten Teams. Größere Menschen seien nicht zu gebrauchen, da sie schneller Rückenschmerzen bekämen, sagt Rosado. Die Arbeit sei für sie einfach zu anstrengend.

Deutschland ist einer der wichtigsten Abnehmer

Der Hunger auf frische Beeren hat das Frühstück vieler Menschen im Norden Europas verändert und den Alentejo gleich mit. Portugals Beerenexport ist heute dreimal so hoch wie noch 2015. Die Branche rechnet damit, dass sich der Konsum in den kommenden Jahren vervierfacht. 2020 machte die Branche in Portugal 247 Millionen Euro Umsatz. Deutschland ist nach den Niederlanden wichtigster Abnehmer.

Vaccinium corymbosum, die aus Amerika stammende Kulturform der Heidelbeere, ist der heimliche Star. Die Früchte gelten als besonders anspruchsvoll. Sie wollen richtig bewässert werden, sind empfindlich gegen Kälte und Druck. Jede Beere muss einzeln vom Strauch gedreht werden. Dafür versprechen sie ihren Erzeugern beste Preise. Keine andere Frucht gewinnt derzeit so schnell an Bedeutung. In den USA aß bereits 2019 jeder Bürger im Schnitt bereits 1,4 Kilo. In Europa waren es erst 190 Gramm.

Großbauer João Rosado: »Wir wollen die Größten sein«

Großbauer João Rosado: »Wir wollen die Größten sein«

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Der Süden des Alentejo schien dafür die perfekte Bühne. Das Klima ist fast das ganze Jahr über gemäßigt und ermöglicht längere Anbauzeiten als in Spanien. Es gibt viel Platz und EU-Agrarsubventionen.

18 Menschen in fünf Zimmern

Doch das boomende Geschäft mit den Beeren funktioniert nur, weil ein Heer von Arbeitsmigranten hier schuftet, das von seinen Rechten meist ebenso wenig weiß wie von der portugiesischen Sprache. Anfangs waren es Rumänen und Bulgaren. Inzwischen sind es Nepalesen und Inder, auch Bangladescher und Sri Lanker arbeiten hier. Ihre Zahl ist rasant gewachsen, Schätzungen reichen von 10.000 bis 15.000.

Die Beerenernte ist ein globales Geschäft. Die Pflanzen kommen von Firmen aus den USA oder den Niederlanden, die Erntehelfer aus Asien. Die Käufer sitzen dagegen fast ausschließlich in Mitteleuropa. Mehr als 90 Prozent aller Beeren sind für den Export bestimmt.

Der Alentejo ist die ärmste und am dünnsten besiedelte Region Portugals

Der Alentejo ist die ärmste und am dünnsten besiedelte Region Portugals

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Jeden Abend verlässt deshalb in der blaugrauen Dämmerung eine Armada von Kühllastern über kurvige Landstraßen die Region, um in Richtung Norden aufzubrechen. Nur wenige Stunden später kommen erneut Dutzende Vans und Busse noch vor Sonnenaufgang in die Dörfer, fahren von Tür zu Tür und sammeln die Erntehelfer ein. Viele schauen müde durch die beschlagenen Scheiben, der Weg zur Arbeit dauert oft mehr als eine Stunde.

Auch Suraj kommt so aufs Feld. Der 23-Jährige aus Kathmandu ist der einzige Sohn seiner Eltern. Nach der Schule montierte er eine Zeit lang USB-Sticks, dann wurde er arbeitslos. 2019 bekam er von Freunden einen Tipp für einen neuen Job – per Flugzeug reiste er schließlich von Nepal nach Portugal. Suraj steht für einen Großteil der Menschen, die heute in dem südeuropäischen Land Beeren ernten. Viele sind jung. Fast alle männlich. Oft sind es die ältesten Söhne, die aufbrachen, um in Europa eine bessere Zukunft zu finden.

Suraj kocht mit seinem Mitbewohner Akash das Abendessen: In dem heruntergekommenen Haus leben insgesamt 18 Nepalesen

Suraj kocht mit seinem Mitbewohner Akash das Abendessen: In dem heruntergekommenen Haus leben insgesamt 18 Nepalesen

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

165 Euro für ein quietschendes Metallbett

An einem Montagabend im Juni klopft ein Mann an Surajs Tür und will Geld. Schlecht gelaunt zieht er durch die Zimmer, der Geldstapel in seiner Hand wird immer dicker. Der Mann, der hier kassiert und sich nur ungern beobachten lässt, nennt sich Surajs »Agent«. 18 Männer leben hier am Ortsrand von São Teotónio in seinem kleinen Haus mit fünf Zimmern, Küche, Bad. Alle stammen aus Nepal. Jeder von ihnen zahlt 165 Euro im Monat für ein quietschendes Metallbett. Insgesamt liegt die Miete damit bei knapp 3000 Euro im Monat. Ein Wucherpreis.

Das kleine Dorf São Teotónio ist Sinnbild für die Veränderung der vergangenen Jahre. Zwei Drittel der offiziell 6500 Einwohner sollen heute Arbeitsmigranten sein. Es gibt indische Supermärkte, einen nepalesischen Imbiss.

Suraj und seine Mitbewohner entspannen sich nach der Arbeit am Ortsrand von São Teotónio: Zwei Drittel der Bewohner sollen heute Arbeitsmigranten sein

Suraj und seine Mitbewohner entspannen sich nach der Arbeit am Ortsrand von São Teotónio: Zwei Drittel der Bewohner sollen heute Arbeitsmigranten sein

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Was es meist nicht gibt, sind menschenwürdige Lebensverhältnisse. Das Haus von Suraj und seinen 17 Mitbewohnern hat zwei Toiletten, Abstand wahren während der Pandemie ist in der Unterkunft unmöglich. In vielen Ecken ist Schimmel. Um Ordnung zu halten, essen die Männer in Schichten, kochen abwechselnd. Im Blumenbeet im Hinterhof haben sie Spinat angebaut. Fünfzig Euro gebe er im Monat für Essen aus, sagt Suraj. Ein- bis zweihundert Euro versucht er den Eltern zu senden oder beiseitezulegen.

3,50 Euro verdienen Suraj und seine Kollegen in der Stunde, davon müssen sie einen Großteil gleich wieder an die Agenturen abgeben. Von 600 bis 1200 Euro Gehalt vieler Arbeiter bleiben nach Abzug der Miete für einen Schlafplatz im Mehrbettzimmer, billigem Essen und einigen dubiosen Servicegebühren am Ende oft nur 300 bis 400 Euro übrig. Entsprechende Dokumente und Aussagen verschiedener Erntehelfer liegen dem SPIEGEL vor.

Der Sonntag ist für viele Erntehelfer der einzige freie Tag in der Woche: Die Nepalesen nutzen ihn zum Waschen, Einkaufen und Fußballspielen

Der Sonntag ist für viele Erntehelfer der einzige freie Tag in der Woche: Die Nepalesen nutzen ihn zum Waschen, Einkaufen und Fußballspielen

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Dass Portugal so viele Arbeitsmigranten anlockt, liegt auch an einem der liberalsten Einwanderungssysteme Europas. Wer für mehr als sechs Monate einen Arbeitsvertrag hat, erhält eine Aufenthaltserlaubnis. Wer das sieben Jahre in Folge schafft, kann Portugiese werden. Ein Leben in Westeuropa wird damit für viele Menschen greifbar. »Himbeervisum« wird diese Hoffnung inzwischen euphemistisch genannt.

Unter den Erntehelfern sind auch indische IT-Experten und BWL-Studenten aus Bangladesch, die zuvor in Kopenhagen oder Bad Homburg lebten, in der Pandemie ihr Einkommen verloren und nun um ihr Visum im reichen Europa fürchten.

Yubraj Magar ist einer der wenigen, die es weg vom Feld geschafft haben: Er bietet den anderen Arbeitern Geldtransfers in ihre Heimat an. Das Geschäft laufe gut, sagt er

Yubraj Magar ist einer der wenigen, die es weg vom Feld geschafft haben: Er bietet den anderen Arbeitern Geldtransfers in ihre Heimat an. Das Geschäft laufe gut, sagt er

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Die Farm, auf der João Rosado Heidelbeeren für halb Europa anbaut, gehört einem jungen Mann, der selbst erst 30 ist. Lourenço Barral de Botton ist Spross einer Familie, die mit Plastikverpackungen und einem fragwürdigen Trick reich wurde. Sein Großvater verdiente in den 1970er-Jahren Millionen, indem er mit vielen kleinen Firmen die für größere Unternehmen damals verpflichtenden Mitbestimmungsrechte umging.

Für seinen Enkel begann das Geldverdienen vergleichsweise einfach. Nach dem Studium, erzählt er in einem Videogespräch, habe sein Vater ihm für einen Sommer ein leeres Feld überlassen. »Mach etwas draus, wenn du erfolgreich sein willst«, habe der Senior ihm geraten. Auf einer Messe erfuhr der Sohn vom Geschäft mit den Heidelbeeren und investierte.

2016 begann der Aufbau der ersten Plantage, heute baut Logofruits auf 1,5 Millionen Quadratmetern Beeren für den Export an

2016 begann der Aufbau der ersten Plantage, heute baut Logofruits auf 1,5 Millionen Quadratmetern Beeren für den Export an

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Fünf Jahre später hat das Unternehmen Logofruits zwei große Plantagen mit 1,5 Millionen Quadratmetern. Das Know-how und die Pflanzen kamen vom chilenischen Agrarkonzern Carsol und zwei weiteren Partnern. Die Felder in Portugal sollen das Angebot ergänzen, wenn auf der anderen Seite des Atlantiks bereits Winter ist. In Deutschland beliefert das Unternehmen laut eigener Aussage Edeka, Lidl, Aldi, Rewe und Kaufland.

Solche Kooperationen gibt es in der ganzen Region. Es ist ein unübersichtliches Geflecht aus multinationalen Agrarkonzernen, lokalen Großgrundbesitzern und europäischen Handelsunternehmen entstanden. Auch der weltgrößte Erdbeerproduzent Driscoll's lässt hier produzieren.

Lourenço Barral de Botton räumt ein, dass sein Unternehmen viele Freiheiten hat. »Im vergangenen Jahr sind unsere Plantagen öfter von Tesco kontrolliert worden als von portugiesischen Behörden«, sagt er schulterzuckend. Die Qualitätsstandards britischer Supermärkte scheinen für ihn gefährlicher als das Gesetz.

Der Landkreis Odemira ist 1700 Quadratkilometer groß, doch im Schnitt leben hier nur 15 Einwohner pro Quadratkilometer

Der Landkreis Odemira ist 1700 Quadratkilometer groß, doch im Schnitt leben hier nur 15 Einwohner pro Quadratkilometer

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Nur einmal gab es kurz Aufregung, als die Behörden im Mai 2021 die Region wegen der Coronapandemie für einige Tage rigoros abriegelten. Im ganzen Land wurde plötzlich diskutiert, unter welchen Bedingungen hier Menschen leben und arbeiten. Bei 108 Kontrollen wurden 123 Verstöße gegen das Arbeitsrecht registriert. Sechs Ermittlungen wegen Menschenhandel laufen noch. Doch schon die Details interessierten kaum jemanden. Von Kontrollen wurde seitdem nichts mehr gehört.

Eine halbe Stunde von der Logofruits-Plantage entfernt sitzt José Alberto Guerreiro im Rathaus von Odemira. Flüsse, Meer, Felder und Berge – seine Gemeinde biete einen Querschnitt durchs Alentejo, sagt der Bürgermeister. Odemira ist flächenmäßig Portugals größte Gemeinde. Doch Einwohner sind es nur 26.000, kaum 15 pro Kilometer.

Lange Zeit sah es so aus, als sei ausgerechnet hier ein kleines Wunder geschehen: Dutzende neue Unternehmen kamen, Arbeitsplätze entstanden, überall wurden Plantagen hochgezogen. Die Region war plötzlich mit der großen weiten Welt vernetzt.

90 Prozent des Wassers aus dem Santa-Clara-Stausee landen in der Landwirtschaft, inzwischen ist er halb leer

90 Prozent des Wassers aus dem Santa-Clara-Stausee landen in der Landwirtschaft, inzwischen ist er halb leer

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Doch immer öfter fragten sich seine Bürger jetzt, was sie eigentlich davon hätten, sagt der 57-Jährige und schweigt eine Weile. Man müsse das Migrationsproblem lösen, sagt Guerreiro schließlich und schiebt hinterher, gemeint seien natürlich die Lebensbedingungen. Es klingt, als wisse er selbst nicht mehr, was richtig und was falsch ist.

Tatsächlich ist die Ausbeutung von Menschen längst nicht mehr das einzige Problem. Der Santa-Clara-Stausee in den Bergen hinter Odemira versorgt die Region seit 53 Jahren mit dem gestauten Wasser des Flüsschens Mira. Von hier aus fließt es zum Meer und verästelt sich in kleinere offene Kanäle. Doch es erreicht nicht mehr alle.

Denn während die Agrarkonzerne unverändert ihre Felder bewässern, bleibt bei den ersten Einheimischen die Leitung trocken. »Wir haben noch Wasser für zwei Jahre«, warnt Bürgermeister Guerreiro. Der See ist bereits halb leer, die Messskala am Ufer hängt inzwischen trocken in der Luft. Der Alentejo vertrocknet.

Rentner Francisco Pacheco und seine Nachbarn verloren über Nacht das Wasser für ihre Pflanzen, nur für den Fotografen hält er hier noch einmal den Gartenschlauch über das trockene Beet

Rentner Francisco Pacheco und seine Nachbarn verloren über Nacht das Wasser für ihre Pflanzen, nur für den Fotografen hält er hier noch einmal den Gartenschlauch über das trockene Beet

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Francisco Pacheco, 75, lebt schon sein ganzes Leben hier. Die Bewohner von São Miguel, einem Teilort von São Teotónio, sind alt. Die meisten waren früher einfache Bauern oder Arbeiter, jetzt leben sie von 200 bis 400 Euro Rente. Kinder und Enkel sind meist in die Großstadt gezogen. Um über die Runden zu kommen, bauen sie Kartoffeln und Bohnen an, dazu Erdbeeren und Spinat. »Wir hatten nie viel, doch bislang hat es immer gereicht«, sagt Pacheco.

Die Benutzung der Kanäle kostete ihn früher keine 20 Euro im Jahr. Doch seit März kommt kein Wasser mehr. Die Ventile an den Leitungen vom Kanal wurden über Nacht abgeschraubt. Pacheco zeigt auf seine vertrockneten Pflanzen. Es wird wohl seine letzte Ernte sein.

Dass es so kam, ist kein Zufall. Denn der Zweckverband, der das Wasser des Stausees verwaltet, wird von seinen größten Nutzern selbst kontrolliert. 90 Prozent des Verbrauchs entfällt auf die Großbauern. Sie können so für sich den Wasserhahn auf- und für andere zudrehen. Als Pacheco und 32 weitere Anwohner in einem Brief ihre Lage beklagten, empfahl der Chef der Agrarlobby ihnen, die Kartoffeln künftig mit Leitungswasser zu gießen.

Bislang wurde nur bei Anwohnern und Kleingärtnern das Wasser abgestellt

Bislang wurde nur bei Anwohnern und Kleingärtnern das Wasser abgestellt

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Die Trockenheit wird unterdessen größer. Auch weiter westlich in Richtung Meer beklagen Anwohner, Politiker und Umweltschützer jetzt Wassermangel und Umweltzerstörung durch die Intensivlandwirtschaft. Der Unterlauf des Mira trockne aus, Wasserpflanzen gingen ein, Biotope verschwänden.

Sara Serrão ist eine derjenigen, die sich dagegen wehren. Wenn nicht bald etwas passiert, sei das Naturschutzgebiet womöglich verloren, fürchten sie und ihre Mitstreiter von der Anwohnerinitiative »Juntos pelo Sudoeste«. Denn das Problem werde noch schlimmer. »Die Großbauern errichten inzwischen ohne Genehmigungen neue Plantagen direkt an der Steilküste«, warnt die 46-Jährige.

Umweltschützerin Sara Serrão und ihre Mitstreiter in Zambujeira do Mar, mitten im Naturpark: Die Farmen stehen inzwischen gleich hinter der Steilküste

Umweltschützerin Sara Serrão und ihre Mitstreiter in Zambujeira do Mar, mitten im Naturpark: Die Farmen stehen inzwischen gleich hinter der Steilküste

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Auch überregionale Umweltorganisatoren warnen inzwischen vor einer Zerstörung des Naturschutzgebietes. Inzwischen haben sie Beschwerde bei der EU-Kommission eingereicht. Im portugiesischen Parlament haben linke Parteien kürzlich eine Initiative gestartet, um dem Zweckverband die Hoheit über den Santa-Clara-Staudamm zu entziehen.

João Rosado bereitet das keine Sorgen, er sagt, er habe andere Probleme. Die derzeitige Saison sei wegen der Pandemie die bislang schlimmste. Seit dem Lockdown seien viele Migranten abgehauen, ihm fehlten Arbeitskräfte und sichere Abläufe. Statt 900 Mann habe er aktuell höchstens 300 auf den Feldern. Seit September habe er keinen Urlaub mehr gemacht.

Großbauer João Rosado glaubt an die Zukunft seiner Arbeit: Nach der Pandemie soll noch eine dritte Plantage entstehen

Großbauer João Rosado glaubt an die Zukunft seiner Arbeit: Nach der Pandemie soll noch eine dritte Plantage entstehen

Foto: Gonçalo Fonseca / DER SPIEGEL

Um die Beeren in der Hochsaison dennoch verarbeiten zu können, werden sie jetzt über Nacht in die Niederlande gefahren. Dort steht eine Sortiermaschine, die stündlich 2,4 Tonnen verarbeitet. Die Erntehelfer könnten sich so aufs Pflücken konzentrieren, hofft Rosado.

»Wir kämpfen ums Überleben«, sagt er schließlich und wischt sich kurz übers Gesicht.

Dass viele Erntehelfer das Weite gesucht haben, ist wenig verwunderlich: Von den Hunderten Menschen auf Rosados Farm sind nur 25 fest angestellt. Die anderen arbeiten offiziell für Zeitarbeitsfirmen und Agenturen wie die von Suraj – unter gefährlichen Umständen. Wenige Wochen nach der letzten Begegnung schicken die Nepalesen das Foto eines Coronatests aus ihrem Haus. Er ist positiv, 12 von 18 Bewohnern haben sich angesteckt, obwohl einige von ihnen bereits geimpft waren.

João Rosado ist mit seinen Gedanken hingegen schon in der Zukunft. Wenn es nach der Pandemie erst einmal besser laufe, sagt er, brauche man perspektivisch eine dritte Farm. Das Geschäft mit den Heidelbeeren fange ja gerade erst an.

Mitarbeit: Enrique Oltra Pinto-Coelho

Anmerkung der Redaktion: Im Text war ursprünglich von Portugals größtem Nationalpark die Rede, die richtige Bezeichnung lautet nationaler Naturpark. Wir haben den Text entsprechend aktualisiert.

Dieser Beitrag gehört zum Projekt Globale Gesellschaft

Unter dem Titel »Globale Gesellschaft« berichten Reporterinnen und Reporter aus Asien, Afrika, Lateinamerika und Europa – über Ungerechtigkeiten in einer globalisierten Welt, gesellschaftspolitische Herausforderungen und nachhaltige Entwicklung. Die Reportagen, Analysen, Fotostrecken, Videos und Podcasts erscheinen im Auslandsressort des SPIEGEL. Das Projekt ist langfristig angelegt und wird über drei Jahre von der Bill & Melinda Gates Foundation (BMGF) unterstützt.

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