quarta-feira, 22 de junho de 2022

sábado, 18 de junho de 2022

Reflexão - Margarida Bentes Penedo (Observador)

 

Leonardas e Leonardos da Vinci

Tudo isto passa pela perspectiva estreita com que a ditadura “woke” encara a educação. Em vez de ensinar os vândalos a pintar, dizem-lhes que o grafiti é respeitável e chamam-lhe “arte” urbana.

Os deputados municipais do Chega quiseram pedir à Câmara para criar uma unidade da Polícia Municipal dedicada especificamente a combater os grafitis em Lisboa. Esta nova unidade serviria para identificar os selvagens e entregá-los aos órgãos competentes da polícia criminal. Já existe uma lei, aprovada e publicada em 2013 para regrar o grafiti, devidamente certificada com o selo progressista de “limite à liberdade de expressão”. Exige que o exercício seja cometido em suportes autorizados pelos proprietários, e exige também o licenciamento pelas Câmaras mediante a apresentação de projectos. Fora destes “limites à liberdade de expressão”, os grafitis constituem crime de dano contra o património.

A proposta do Chega foi previsivelmente rejeitada na Assembleia Municipal. Ainda assim, é bom que se saiba como se comportaram os partidos. Bloco, Livre, deputados “independentes”, PEV, PCP, PAN, IL, MPT, Aliança e PSD votaram contra. Os auto denominados “liberais” prescindiram de proteger a propriedade privada; recitaram o estremecimento do seu coração pelos portentosos autores de “arte urbana” e declararam que é mais urgente, no entender deles, resolver problemas de poluição e de carros parados em segunda fila. O PSD deixou-se entrouxar na distinção manhosa entre grafitis e “tags”, avançando sem misericórdia contra o Chega para defender que o grafiti é, sem sombra de dúvida, “uma arte e uma manifestação cultural”.

PPM e PS abstiveram-se. O deputado do PPM teve a coragem de não contestar o Chega, sobretudo num tema dado a “fracturas” bem-pensantes. E o PS absteve-se porque pode. O PS manda, mesmo quando não governa; o PS estabelece e atribui a certificação moral do regime; o PS nunca precisa de fazer prova das suas credenciais democráticas.

Chega e CDS foram os únicos partidos que votaram a favor. E em bom rigor podemos resumir toda a votação de uma maneira mais simples. Toda a extrema-esquerda votou como um realejo contra a perseguição aos grafitis; quase toda a direita votou como um realejo contra o Chega. O PS não conta. O PPM teve coragem, o CDS teve juízo e o Chega teve razão.

Meia dúzia de observações básicas. Os grafitis destroem a propriedade, privada ou pública; insultam as esculturas e os monumentos; desencorajam as pessoas de usar os transportes públicos; provocam um sentimento de insegurança em frequentar certos bairros e zonas comerciais, por medo dos gangues. Há comerciantes cujas lojas ficam sem clientes, e há moradores com receio de entrar e sair de casa. Os grafitis são também um dos tipos de vandalismo mais caros de remediar, pela natureza dos estragos e altíssimos custos de limpeza. Entre 2016 e 2019, a Câmara de Lisboa gastou 5.888.550,00 €. Ou seja, no intervalo de três anos, os grafitis absorveram quase seis milhões de euros em dinheiros públicos para os remover. Um esforço que, de resto, não resolveu o problema como se percebe numa simples volta a qualquer quarteirão, em qualquer bairro de Lisboa. Mais: a Carris, o Metro e a CP gastam todos os anos milhares de euros a limpar autocarros, eléctricos, e comboios. E os elevadores da Bica, do Lavra e da Glória, que tão depressa são limpos logo voltam a ser vandalizados, como os jornais não se cansam de escrever há décadas.

Mas pesa sobre o grafiti a resignação atrevida e cobarde com que tem sido imposto. Os governantes e, neste caso, os vereadores mostram-se inseguros, sentem-se pressionados a enaltecer aquilo. Ao ponto de inventarem um departamento da Câmara, baptizado Galeria de Arte Urbana, abertamente destinado a promover o grafiti, ainda que o tentem empurrar para locais autorizados. Dizem que o mal não está nos grafitis, mas sim nos “tags”.

Tudo isto passa pela perspectiva estreita com que a esquerda encara a educação e nos submete à ditadura “woke”. Em vez de ensinar os vândalos a desenhar e pintar, dizem-lhes que o grafiti é respeitável e chamam-lhe “arte” urbana. Não é arte. Em noventa e muitos porcento dos casos é lixo. Faz impressão a quantidade de coisas que é preciso os governantes não compreenderem para se deixarem meter neste sarilho. Nem todo o barulho é música, como nem tudo o que se pinta ou desenha é “arte”, e nem tudo o que se escreve é “literatura”. As coisas precisam de ser ensinadas e estudadas para ter qualidade e chegarem ao estatuto de “arte”. Os artistas de verdade merecem essa consideração.

Quem ouve a reverência com que as nossas vanguardas falam de grafiti pensa que estamos perante pintores elaboradíssimos, génios de Florença, de Milão ou do México. São governantes que começam as frases desejando “boa tarde a todas e a todos”, exibindo a maneira “humanista” de responder às perplexidades do mundo; e defendem a “expressão”, a “cidadania”, e a “arte urbana” com unhas e dentes, como se nós, os brutos, perseguíssemos Diegos Rivera. Ou melhor, Diegas e Diegos. Génias e génios, Leonardas e Leonardos da Vinci.

Mas não. O que temos são bandos de selvagens, de vândalos, matarruanos e desordeiros. Não há ali “arte” nem “cidadania”, nem “liberdade de expressão” nem coisa nenhuma. De caminho, e para efeitos práticos, é impossível distinguir entre grafitis e “tags”; não se consegue estabelecer, com a precisão necessária, onde acaba uma coisa e começa a outra. E o grafiti é, por definição, um acto de rebeldia e um desafio às autoridades; quando o pintam em sítios autorizados não é “grafiti”, é pintura mural. Por motivos de ordem e de bom governo, o grafiti propriamente dito deve sofrer a intolerância dos poderes públicos.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

YOUTUBE - a Meritocracia

 -Michael Sendel versus Adrian Wooldridge


Cartoon - Sócrates

 Os dias da Economia de hoje...

 


Série - Legal affairs (assuntos legais)

 

 



Séries - Estado da Felicidade S2


 

Reflexão - Alberto Gonçalves

 

Os enormes sapatos de Joana Vasconcelos

Se receiam ser enxovalhados por recusar a “cultura”, Carlos Moedas e Isaltino Morais têm todo o direito a oferecer um museu à senhora dona Joana. Desde que o paguem dos próprios bolsos.

11 jun 2022, 00:21

 


Soube pela crónica de João Miguel Tavares, no “Público”, que as câmaras de Lisboa e de Oeiras andam à bulha para decidir qual delas espatifa 10 ou 15 milhões de euros num museu que guarde a obra de uma senhora chamada Joana Vasconcelos. Noto que a luta é para conseguir o direito a espatifar o dinheiro, e não o inverso. Sobre o assunto, o João Miguel escreveu o essencial. Naturalmente, tenciono encarregar-me do acessório.

O primeiro ponto é o custo do armazenamento. Em tempos, a pretexto de mudanças, tive de alugar duas garagens durante meses e a coisa ficou longe das verbas mencionadas acima. Estava capaz de sugerir às autarquias em questão que procurassem alternativas e, de caminho, despedissem os orçamentistas. Não o faço porque não vejo motivo para as autarquias patrocinarem a senhora dona Joana como não me patrocinaram a mim e aos milhares de discriminados que pagam dos seus bolsos o aconchego das respectivas tralhas.

Alguns dirão que, ao contrário das minhas, as tralhas da senhora dona Joana são arte. A esses respondo com o benefício da superioridade argumentativa. Por um lado, eles não conhecem o magnífico acervo que possuo. Por outro, com a ajuda da internet, conheci entretanto o acervo da senhora dona Joana. Três palavras: credo em cruz! Aquilo é arte apenas na medida em que o edifício onde Cristiano Ronaldo plantou a marquise é arquitectura, e os livros do ministro António Costa Silva são literatura. Do que vi, vi sapatos enormes, galos de Barcelos enormes, chaleiras enormes, candeeiros enormes, brincos de Viana enormes, garrafões de vinho enormes, tudo concebido numa espécie de croché de cores garridas e desagradáveis. Na verdade, as bugigangas da senhora dona Joana são o tipo de quinquilharia que qualquer português, sem contributo camarário, arrecada na garagem – apenas em maior e mais feio. É arte na perspectiva da família Carreira.

E, pelos vistos, nas perspectivas de Carlos Moedas, Isaltino Morais e, se virmos bem, de incontáveis políticos e adjuvantes que atribuem ao Estado a função de torrar o dinheiro dos contribuintes em traquitanas que muitos contribuintes, do alto da sua ignorância e de livre vontade, não dariam um cêntimo para apreciar. E certamente não dariam 15 milhões para armazenar. A mera possibilidade de, neste momento da conversa, alguém invocar Michelangelo ou Goya para lembrar que os frescos da Capela Sistina ou os retratos da realeza também foram encomendas estatais mostra justamente os abismos a que descemos. Comparar assombros criativos com os sapatos e os galos da senhora dona Joana é comparar a Piazza del Campo, em Siena, com a Praça Hugo Chávez, na Amadora. E a cantilena dos gostos que não se discutem serve para tentar justificar indiscutíveis desgostos.

A parolice é justamente esta incapacidade em distinguir a arte da fancaria, e a inclinação para, em caso de dúvida, preferir a fancaria, que é fácil, vistosa e, embora não se entenda a que título, dita “irreverente”. Não é um problema exclusivamente nacional: a propósito das misérias da “arte contemporânea”, o maior cronista inglês do século XX notava os “vigaristas e charlatães que as vendem e comentam, os pobres atarantados que as produzem, e o tímido e sisudo ‘establishment’ que receia acusações de filistinismo.” Mas é natural que num país periférico e semi-alfabetizado estas características sejam aprimoradas.

O pormenor dos “pobres atarantados que produzem” as misérias é que é duvidoso. A senhora dona Joana não é pobre, salvo de talento artístico, nem é atarantada, pelo menos na arte da “cunha”. Aliás, é ela que, adoptando uma tradição local iniciada nas últimas décadas, reclama junto dos poderes públicos o museu de que se acha merecedora. Percebo a necessidade de espaço para acomodar os gigantones que a senhora dona Joana manda fabricar (“Emprego mais de 50 artesãos de alta qualidade”, orgulha-se ela). E percebo a necessidade de esconder semelhantes embaraços em lugar que ninguém, no seu juízo perfeito, visitará. O que não percebo é o papel dos munícipes de Lisboa e Oeiras nesse drama.

Cito o João Miguel: é evidente que a senhora dona Joana “tem todo o direito a ter o seu museu” – como eu tenho a ter um porta-aviões ou uma casita em Laurel Canyon – “desde que o pague do seu próprio bolso”. É igualmente evidente que, se pretendem dispensar a senhora dona Joana de encargos e receiam ser enxovalhados por recusar a “cultura”, Carlos Moedas e Isaltino Morais têm todo o direito a oferecer-lhe um museu. Ou dois, para solucionar a compita. Desde, lá está, que o paguem dos próprios bolsos. O chato é que, entre nós, a “visão”, o “empenhamento”, a “iniciativa” e (desculpem) a “pró-actividade” raramente coincidem com os proprietários dos fundos que alimentam virtudes tão louváveis. Nas artes alegadas e nas restantes artimanhas, a “pró-actividade” é deles, o dinheiro é nosso.

Com a razão do costume, Vasco Pulido Valente disse que “A história da pintura podia ser escrita e bem escrita, sem sequer uma nota de pé de página sobre o que os portugueses pintaram.Ou esculpiram, acrescento. Ou ordenaram a 50 artesãos de alta qualidade que fizessem. Já a história do atraso de vida exigiria um volume dedicado a Portugal. Um volume gigante, forrado a rendas de bilros e com o título em pechisbeques brilhantes.

 

 

 

 

 

 

Reflexão - J. Cabrita Saraiva (Jornal "I")

 

Um país que inventa problemas para não resolver os que tem

Há muito que os problemas nacionais a necessitar de solução estão elencados. Mas “pegar o touro pelos cornos” não é tarefa fácil, claro. E por isso os políticos vão-se entretendo com questões acessórias. É por isso que se discute tanto as touradas, por exemplo, o futebol, a eutanásia, a semana de quatro dias e outros devaneios.

Se olharmos para a história do país, perceberemos sem grande dificuldade que muitos dos problemas com que nos confrontamos hoje já nos perseguem há muito.

O endividamento excessivo, só para dar um exemplo, é quase uma constante pelo menos desde 1891-92, quando a monarquia se viu obrigada a declarar bancarrota. Atualmente, cada português deve em média cerca de 26 mil euros ao exterior (mesmo um recém-nascido!). Este endividamento tem um preço a pagar: além dos milhões que se escoam para o serviço da dívida, traduz-se numa dependência externa que também tem feito consistentemente parte do panorama nacional.

Outro problema que temos visto agravar-se nas últimas décadas é o do envelhecimento, que coloca um sério desafio à sustentabilidade económica e da Segurança Social. Em vez de se estimular a natalidade, fecham-se maternidades.

Juntemos-lhes a baixa produtividade, os baixos salários, a pobreza endémica, o crescimento tíbio da economia, e obtemos quase um retrato - não muito entusiasmante, reconheço - do país. Que só ficaria completo com os períodos de seca prolongada, a falta de ordenamento florestal e os fogos de verão.

Há muito que os problemas nacionais a necessitar de solução estão elencados. Mas “pegar o touro pelos cornos” não é tarefa fácil, claro. E por isso os políticos vão-se entretendo com questões acessórias. É por isso que se discute tanto as touradas, por exemplo, o futebol, a eutanásia, a semana de quatro dias e outros devaneios.

Julgo que não será exagerado dizer que inventamos problemas para não termos de lidar com os que nos afligem de facto. Os políticos criam assim uma espécie de realidade paralela que vai ocupando os telejornais e distraindo os incautos.

Essa atitude tem as suas vantagens. Discutir as questões que estão na ordem do dia dos países mais desenvolvidos proporciona-nos a ilusão de que estamos num patamar mais avançado do que estamos na realidade. E olhar para o lado, em vez de encarar os verdadeiros problemas de frente, sempre proporciona um escape ao cenário pouco encorajador que nos rodeia.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

ARTE - Lino Ventura

 No ARTE, um programa sobre a vida do tão pouco conhecido Lino Ventura, "La part intime"

 

Música :Everlasting - Richard Harvey


Youtube -  https://www.youtube.com/watch?v=qUHCz9jKFgk