segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Reflexão - Nuno Gonçalo Poças

 

(sublinhados meus)

A mendicidade rica que o país ambiciona

Uma tese ganha espaço à esquerda, mas também à direita: abaixo de Sócrates, tudo é razoável; independentemente de ser juridicamente sancionável ou não, a ética é uma treta, por cá é assim que se faz.

Sopraram com força os ventos em Espanha no passado fim-de-semana. Multidões encheram as ruas em defesa da democracia, da Constituição, da separação de poderes, contra as manobras que Pedro Sanchéz tem encetado e que colocam, como há muito não se via, a unidade espanhola e o Estado de Direito em causa. É difícil observar a partir de Portugal aquele movimento de cidadania: por cá, como anunciava com orgulho há tempos o ainda Primeiro-ministro António Costa, as pessoas interessam-se pouco pelo que o próprio designou de «casos e casinhos», aparentes minudências anti-democráticas e corrosivas do Estado de Direito e da democracia. Parece haver sempre, em Portugal, alguma complacência ou indiferença para com tudo aquilo que não seja dinheiro no bolso, mesmo na modalidade do poucochinho. Talvez Costa tivesse razão.

Sem querer, tropecei numa capa da revista Sábado de há três anos que anunciava «a rede de cunhas e favores de Salazar», falando de «cartas de médicos, deputados, juízes e militares» que revelavam «os pedidos da elite ao ditador: aumentos, cargos no Estado e em bancos, comendas e até lugares à janela para ver Isabel II». É, de facto, notável como se gerou entre nós a ideia de que o salazarismo sobreviveu tantos anos exclusivamente graças à repressão por si exercida. Também, mas não só. A benevolência para com a ditadura foi sempre superior à sua oposição, e isso revelou-se até às vésperas do 25 de Abril – em Março de 1974, Marcello Caetano era ovacionado no Estádio de Alvalade, um paradoxo que porventura explicará que o conformismo tem sido, entre nós, sempre mais forte que a liberdade. E esse conformismo vem de um país onde se banalizou a cunha e o favor, e onde o poder político, na ditadura como na democracia, faz a gestão corrente dessa cultura e assegura a continuidade de uma sociedade pouco escrutinadora, pouco livre e muito confirmada.

Na verdade, nada disto mudou grande coisa. Praticamente todas as reformas feitas em Portugal no sentido da transparência, do escrutínio democrático, do controlo ético das funções do Estado e dos negócios foram impostas pela Europa – uma espécie de preço legislativo que aceitámos pagar para que não ficássemos sem a torneira monetária europeia. Durante décadas, o poder político confundiu política com justiça, deixou ao poder judicial o controlo ético da política e dos negócios de Estado, pronto para depois vir debitar a ideia de que na política nunca há problemas éticos, que a seriedade de quem vive na política é inquestionável e presumida, e para lançar, por fim, o cínico mantra de António Costa, «à justiça o que é da justiça, à política o que é da política», quando no fundo o que se pretende dizer é que a política não carece de escrutínio algum.

O processo judicial que decorre da operação Influencer terá as consequências jurídicas adequadas, sejam elas quais forem. Seria natural que o país tivesse a capacidade de olhar para ele de dois ângulos diferentes: o judicial, que é legítimo, e que resultará no que tiver que resultar, em respeito pela separação de poderes e pelos direitos dos arguidos; e o político, que nos devia pôr a pensar no que temos construído no sentido da transparência e da ética na política, nos negócios e nas razões que levam a que uns e outros coabitem permanentemente, em regime de opacidade, favorecimento, simpatias e listas de contactos telefónicos.

Sucede que o que temos assistido é a uma tese que ganha espaço à esquerda, mas também à direita: abaixo de Sócrates, tudo é razoável; independentemente de ser juridicamente sancionável ou não, a ética é uma treta, por cá é assim que se faz, uns invocando a seriedade presumida de todos quantos se revestem de importância social, política ou económica (a menos que sejam banqueiros ou dirigentes de clubes de futebol que não o do próprio), outros queixando-se de uma Administração complicada e burocrática e que, por isso, é justo que trate com parcialidade quem tem nela os melhores contactos, mesmo que isso implique a prática de actos ilegais.

Será um erro se os partidos da direita acharem que ganham eleições invocando o caso, mesmo que do ponto de vista moral. Nessa perspectiva, e mesmo ignorando a questão judicial, temo que boa parte do país adira fácil e rapidamente à ideia de que «é assim que as coisas se fazem» ou «não é assim tão grave», porque, em bom rigor, a tal «rede de cunhas e favores de Salazar» não foi criada pelo ditador, nem cessou com a democracia. No início dos anos 80, um jornalista perguntou ao então ministro da Cultura, Francisco Lucas Pires, como pensava ele acabar com a mendicidade em Portugal. E Lucas Pires respondeu que era preciso, em primeiro lugar «deixar de ter um país mendigo ou fazendo os possíveis por isso. Porque acho que é uma questão de mentalidade, de desenvolvimento económico. De resto, a mendicidade pior, para mim, é a mendicidade rica, a mendicidade das cunhas que se metem, todo um certo estilo de comportamento, e acho que é preciso quase uma revolução cultural para acabar com isso». E essa revolução (como tantas outras, igualmente necessárias) nunca se chegou a fazer. Talvez porque ninguém queira ter o problema atenuado – já nem digo resolvido – mas antes porque é a essa mendicidade rica que o país ambiciona, de facto, chegar. E o Partido Socialista fará, como fez Salazar, culto político dessa mediocridade generalizada. A direita tem um longo e difícil caminho a percorrer, se quiser (e não sei se quer) contrariar esta tendência. As coisas são o que são: será melhor dedicar-se a outros temas na campanha eleitoral. E, se tiver vontade política suficiente, logo fará as reformas institucionais que tiver de fazer. Mas precisa de ganhar eleições primeiro.

Almoço Escola Alemã

Almoço, dos alunos da Escola Alemã, em 17.11.2023, na Antiga Casa Marítima com o João Leite, o Manuel Ribeiro e o Carlos Medeiros.






Livros lidos - Tempo de Vésperas

 Um outro Prof. Adriano Moreira, diferente daquele que em tempos li.




Séries - O Substituto

 Série francesa sobre uma turma do liceu...um pikixito disparatada!




Livros lidos - A névoa

 Para intervalar, um romance, aliás um thriller! Mas foi mesmo para intervalar!!


Reflexão - The Spectator (Has the Vatican abandoned beauty?)

 (sublinhados meus)


Tempos difíceis...


Has the Vatican abandoned beauty?

[Getty Images]

The Cathedral Church of the Holy and Undivided Trinity in the Cambridge-shire market town of Ely is one of the supreme achievements of European Gothic architecture. Its octagonal tower lifts the eye to a sumptuously restored wooden lantern from which Christ looks down in majesty.

Who on Earth thinks faith can be awakened by seeing a crucifix floating in urine?

On the last Friday in June, his gaze fell on a congregation worshipping him at Evensong. Two hours later, as the Times reported, the cathedral was filled with ‘a very different crowd: 800 people [wearing headphones] attending a 1990s-themed silent disco. They wore diamanté strappy heels and leather trousers, carried glow sticks, drank chardonnay, yelled the words to Robbie Williams hits and twerked in the nave to Beyoncé. Three DJs stood at the altar’. The Dean, the Very Revd Mark Bonney, said he hoped some ravers would return as worshippers.

Bless! Where would the Church of England be without the risible naivety of its cathedral chapters? In 2019, Norwich Cathedral installed a helter-skelter in the nave as part of its ‘mission to share the story of the Bible’. In the same year, Rochester converted its central aisle into a crazy golf course to help visitors ‘learn about faith’.

Please don’t think I’m engaging in papist point-scoring. Although the ‘rave in the nave’, helter-skelter and crazy golf course were hideous misjudgments, the gullible cathedral authorities meant well. I wouldn’t say the same about the Vatican’s recent engagement with popular culture.

In 1987, the American photographer Andres Serrano produced his most famous work. Its title is ‘Piss Christ’. The photograph shows a crucifix plunged into a glass tank of the artist’s own urine. Christie’s, no less, describes it as a ‘legendary photograph’ exploited by ‘right-wing conservative Christians to justify restrictions on government funding of subversive art’.

But not all Catholics find it offensive. On 23 June, Serrano was photographed bumping fists with a Catholic bishop who used his other hand to give him the thumbs up. The venue was the Sistine Chapel. The bishop was Pope Francis.

Serrano was one of 200 artists invited to the Sistine Chapel to celebrate the Vatican’s collection of contemporary art. Francis congratulated them on their understanding of ‘the richness of human existence’. Another guest was the veteran British filmmaker Ken Loach, who in 2009 had this to say about anti-Semitism: ‘If there has been a rise, I am not surprised. In fact, it is perfectly understandable because Israel feeds feelings of anti-Semitism.’ Indeed, it was ‘founded on ethnic cleansing’.

In 2021 Loach was expelled from the Labour party because he belonged to an organisation, Labour Against the Witch-hunt, accused of anti-Semitism. The Vatican is well aware of this, just as it knows every detail of the ‘Piss Christ’ controversy. To quote Bishop Paul Tighe, Secretary of the Dicastery for Culture and Education: ‘I think we all just have to work on the presumption of good faith of the artist [Serrano] who is trying to say something, challenge something, and may sometimes have to resort to strong measures to waken us up.’

Who on Earth thinks faith can be awakened by seeing a crucifix floating in urine? Since I’ve met Bishop Tighe, I think I can answer that one: an ambitious Irish church bureaucrat of the Bono generation who doesn’t hide his distaste for the traditional worship loved by his (and my) Irish ancestors.

I spoke to two influential figures about this gruesome gathering. The first was one of the Catholic Church’s most admired artists, whose conservative theology excluded him from the guest list. The other was a priest-academic in Rome. Both, unprompted, made the same point: this is fundamentally a war on the beauty of the Traditional Latin Mass.

The artist told me: ‘I have seen thriving young congregations banished to church basements because they are attracted to tradition. Any artist who identified with that heritage is persona non grata. But blatantly anti-Catholic material is celebrated.’

The priest described a spirit of panic in the Vatican. Pope Francis is in an iconoclastic mood. He has just appointed Cardinal-designate Victor Manuel Fernández as head of the Dicastery for the Doctrine of the Faith. Fernández is an intellectually undistinguished Argentinian with radical views on sexuality. He is best known for a poetic reflection on the spirituality of kissing entitled ‘Heal Me With Your Mouth’ that employs revolting imagery: ‘How was God so unmerciful as to give you that mouth… There is no one who resists it, you witch.’

If the Pope is happy to make the author of those words the Church’s head of doctrine, then you can see why he might welcome ‘transgressive’ artists. But the whole situation is bizarre. Francis’s own artistic tastes are cultivated and conservative. In his spare time, he listens to Furtwängler conducting Beethoven, Clara Haskil playing Mozart and Knappertsbusch’s Bayreuth Parsifal, a work with which he is obsessed. Yet he shows no desire to beautify the liturgy. The music at papal ceremonies is execrable – inferior in every way to that of my local parish church.

No one is arguing that the Catholic Church should draw inspiration only from conventionally pious artists. Serrano is, it should be said, a photographer of enormous gifts; Loach’s best work is masterly. What sticks in the throat is the Vatican’s recent insistence that only ‘transgressive’ leftist art can open our minds.

Bishops’ conferences have embraced cheap modernist art and infantile fonts as their preferred style; the Scottish Church’s cod-Celtic images and music are an embarrassing example. And, unlike the Church of England’s silent discos and crazy golf courses, the style is almost inescapable.

Unless, that is, you take refuge in the banned Latin Mass. Young Catholic friends of mine are retreating, willingly, to the basements and tiny chapels where they can experience ‘the Mass of the Ages’ and there are no dad-dancing bishops ordering them to applaud the spectacle of their Saviour floating in urine. One day, perhaps sooner than you think, they will reclaim the Church.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Carlos Fiolhais - A última lição



 


Que bela lição. Que últimos dez minutos intensos!

Ainda há pessoas de jeito! Sem preconceitos, com a humildade de quem é muito


https://www.youtube.com/watch?v=UsELTY04Hy8

Rugby - Final do Campeonato do Mundo

África do Sul venceu a Nova Zelândia na final.

No fim, os cumprimentos "à antiga", com um aperto de mão, olhos nos olhos (como dizia o Filipe Melo). Sintomático!









Cartoons - Work Chronicles

 A rivalizar com outros cartoons












Teatro - 100 anos do Parque Mayer


Em 27.10.2023 fui ver o Diogo Novo, a Toia, o João Prior (os três, meus partenaires em anteriores espectáculos), a Yola, o António Calvário e e Rita Ribeiro ao auditório Romeu Correia nesta reposição. Muito interessante.