domingo, 14 de setembro de 2025

Observador - Lisboa: a tragédia como estratégia eleitoral (Seabra Duque)

 (sublinhados meus)


Lisboa: a tragédia como estratégia eleitoral

Para um partido snob como o PS um arrivista como Moedas, que não andou no Colégio Moderno ou na Faculdade de Direito de Lisboa, ganhar a Câmara de Lisboa ao seu príncipe herdeiro foi uma ofensa mortal

1 Desde o desastre com o Ascensor da Glória que tenho evitado escrever sobre o tema, sobretudo sobre a sua vertente política. O que aconteceu parece-me demasiado grave e dramático para ser usado como argumento político. Infelizmente, após dias de campanha absolutamente lamentável contra Carlos Moedas, torna-se impossível a uma pessoa, em boa consciência, não tomar posição sobre o tema. A campanha começou primeiro com os habituais trolls das redes sociais, uma herança da famosa Câmara Corporativa de Sócrates. Mas a vergonha que a oposição a Carlos Moedas demonstrou num primeiro momento (pelos vistos, apenas pelo receio de ficar mal na fotografia) rapidamente se dissipou.

E, infelizmente, vários meios de comunicação social parecem mais interessados em passar a narrativa da aliança de esquerda à Câmara de Lisboa do que em informar. Logo no dia foram vários os meios de comunicação que reproduziram a notícia da Página 1, uma mistura de teorias da conspiração com jornalismo de vingança, de que a Carris teria deixado caducar o contrato de manutenção dos ascensores de Lisboa, o que era mentira. Ainda nesse dia, também correu a notícia de que teria a actual administração da Carris a contratar e a externalizar a manutenção do ascensor. Mentira. Afinal, não tinha sido esta administração a decidir a externalização, mas tinha sido ela a escolher a actual empresa. Mentira. Tudo isto foi circulando nas redes sociais, partilhado pelas páginas dos habituais defensores do PS e seus aliados, usado como argumento por comentadores. Tudo falso, mas tudo serviu para atacar o actual presidente da Câmara.

Infelizmente, mesmo depois do frenesim dos primeiros instantes, onde o frenesim de querer informar se cruzou com a revolta com a tragédia, a campanha rasteira contra Carlos Moedas não só não serenou, como aumentou de tom.

Primeiro começou com um vídeo onde o presidente da Câmara dizia que o seu antecessor se devia demitir por causa do Russiagate. Logo os spin doctors de esquerda deram o tom: Moedas estava refém das suas palavras, e a teoria espalhou-se aos quatro ventos.

Aparentemente é indiferente o facto de no primeiro caso ter havido um erro comprovado do Gabinete de Apoio ao Presidente da Câmara, órgão que trabalha, tal como o nome diz, na dependência do Presidente da Câmara, e no segundo caso, não se saber sequer se houve algum erro de uma empresa pública, com autonomia financeira e administrativa, cujo accionista é a Câmara Municipal de Lisboa. Mas pelos vistos, para os socialistas e seus aliados, assim como para boa parte dos comentadores e jornalistas, a responsabilidade de um político sobre as acções dos seus subordinados directos é igual à responsabilidade deste sobre uma empresa que não dirige! E com base nesta mentira, estão há dias a atacar Carlos Moedas.

O novo “escândalo” é o facto de o presidente da Câmara, numa entrevista, ter falado de Jorge Coelho. Ora, Carlos Moedas respondeu a uma pergunta onde foi comparado a Jorge Coelho, falou dele de forma respeitosa, mas relembrou o facto (amplamente documentado, até em vídeo) de que já havia informação anterior de que havia problemas com a ponte. Não foi Carlos Moedas que utilizou a memória de Jorge Coelho, foi todos aqueles que o quiseram dar como exemplo para o atacar. E escolheram-no precisamente a ele porque de facto era o único exemplo que tinham disponível. Relembremos que não houve demissões depois de Pedrógão, mesmo tendo havido clara culpa do governo, não houve demissões depois de terem morrido duas pessoas num desastre de comboio, não houve demissões depois de o carro em que Eduardo Cabrita circulava em excesso de velocidade ter atropelado mortalmente um homem. Infelizmente, o único socialista honrado que havia para citar era de facto Jorge Coelho.

E Moedas não o insultou nem o desmereceu, vincou que ele tinha sido corajoso, mas não podia deixar de dizer o que era evidente: era público que aquela ponte tinha problemas, não havia qualquer sinal de que houvesse qualquer problema com o Ascensor da Glória. Por isso a sonsice de quem evoca Jorge Coelho para atacar Moedas, para depois ficar escandalizado por Moedas se defender, está perto do nível de quem usa as mortes no Ascensor da Glória para fazer campanha eleitoral.

2 Este tipo de ataques a Carlos Moedas não me espanta, tem sido assim durante quatro anos. O Partido Socialista nunca levou a bem que este tivesse derrotado o delfim de António Costa e interrompido, de forma dramática, a linha de sucessão tão bem traçada pelo antigo secretário-geral. Para um partido tão snob como o PS, um arrivista como Moedas, que não andou no Colégio Moderno, nem na Faculdade de Direito de Lisboa, nem sequer é filho de um qualquer industrial local, não andou por lojas nem parece gostar de aventais, ganhar a Câmara de Lisboa ao seu príncipe herdeiro foi uma ofensa mortal.

A juntar-se a isto, comentadores e jornalistas também nunca levaram a bem que alguém saído de Beja, que construiu uma carreira a pulso, que teve sucesso político e profissional sem ter trocado informações com eles no Pabe, sem lhes ter pago um copo no Snob, ou trocado dois dedos de conversa no Lux, contrariasse as suas sentenças e ganhasse as eleições.

Mas seria de esperar que diante de uma tragédia como a do Ascensor da Glória, deixassem por um momento o ódio a Carlos Moedas de lado. Mas infelizmente não aconteceu. Enquanto Moedas estava no local, junto dos bombeiros, dos socorristas e dos polícias, enquanto consolava famílias, tomava decisões importantes, os socialistas e seus camaradas afinavam a estratégia para utilizar os mortos como arma eleitoral.

E aqui reside a diferença fundamental entre Carlos Moedas e os seus adversários. Para a esquerda o centro da política é a narrativa, para Moedas o centro da política é trabalhar para a cidade. Por isso Medina anunciava centros de saúde que nunca construiu e Moedas construiu 5 e está a construir mais 4. Medina prometeu creches e escolas que nunca fez, e Moedas fez 19 e está a fazer mais 9. Medina falava da habitação, Moedas fez o maior investimento de sempre em habitação, entregou mais 2700 (das quais 1800 estavam abandonadas por anos de incúria socialista) e apoiou mais de 1200 famílias a pagarem a renda. Medina lançou a obra do Túnel de Drenagem, que nunca começou, Moedas arrancou com a obra.

Esta tragédia só veio mostrar mais uma vez o que já era evidente: os socialistas, assim como muitos comentadores e jornalistas, preferem um presidente de Câmara que viva para a narrativa, que nunca saia da televisão, que frequente todos os salões dourados. Felizmente Moedas prefere trabalhar, estar junto dos lisboetas e frequentar as associações culturais e as instituições sociais. Dia 12 caberá aos lisboetas escolher o que preferem.

Jurista

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