segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Reflexão (vários)

(Alexandre Homem Cristo no "Observador")

O ponto é que o debate público está inviável. Não se discute, desqualifica-se a posição contrária. Não se olha aos factos, inventam-se associações degradantes. Não se procuram evidências, seguem-se emoções. Não se respeitam os adversários, convertidos em inimigos a abater sem escrúpulos. Não se pensa, insulta-se. Não se cede, impõe-se a força da maioria. E, portanto, geram-se trincheiras em vez de pontes e cisões em vez de consensos. Sim, dito assim parece assunto transitório e sem importância. Mas um regime democrático, que por definição vive de compromissos, não passa por isto sem feridas profundas.

(Alberto Gonçalves no "Observador")

Em “entrevista” ao “Diário de Notícias”, o ministro da Defesa afirmou que “no limite, pode não ter havido furto” no caso do furto de armas em Tancos. Primeiro, garantiu-se que o roubo não era o maior da História dos Paióis Arrombados. Depois, esclareceu-se que as armas roubadas não eram caras. De seguida, informou-se que as armas roubadas não funcionavam por aí além. Agora, sugere-se que o roubo não existiu. Não tarda, a nação aprenderá que mesmo a base de Tancos é fictícia, que os “estadistas” que por lá desfilam desde o roubo que não houve são imaginários, que Portugal é um país normal e que tudo isto foi um pesadelo de que acordaremos sem mazelas

(Filipe Oliveira no "Observador)

Em 2015, sem qualquer explicação, a atual maioria aboliu as provas finais do 1.º e do 2.º ciclo, pondo assim fim a uma preciosa série temporal que permitia a monitorização da evolução do sistema de ensino de ano para ano, identificando pontos positivos e eventuais fragilidades a corrigir. Não existe, atualmente, qualquer instrumento que permita medir o que os alunos efetivamente aprenderam no final destes dois ciclos cruciais, tornando impossível a deteção atempada de eventuais degradações da qualidade do ensino que possam vir a comprometer o sucesso futuro dos jovens. Note-se que a redução recente das taxas de retenção foi sancionada por exames nacionais. Como interpretar, a partir de agora, a evolução dessas taxas? De seguida, no caso da Matemática, o Ministério da Educação decidiu de forma totalmente gratuita liquidar a certificação de manuais escolares. É consensual que este processo levou, nos últimos dez anos, a uma melhoria muito significativa dos livros utilizados pelos alunos portugueses. Hoje, e tal como acontecia nos anos noventa, qualquer pessoa pode elaborar um manual e colocá-lo no mercado, não ficando de forma alguma salvaguardada a respetiva qualidade científica e pedagógica. Trata-se, na prática, de um grande retrocesso: este processo sustentava o trabalho dos professores, que outrora eram frequentemente confrontados com erros científicos nos manuais.

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