Sábado, 14 de Novembro
Uma questão de fé
Na manhã de sexta-feira, Obama explicava na televisão que os avanços do Estado Islâmico foram "contidos" na Síria e no Iraque. Horas depois, oferecia ajuda à França em transe. O sucesso da "contenção" passou despercebido aos familiares das vítimas.
Mas seria injusto atribuir à relativa apatia da administração americana o sucesso do EI. A verdade é que, talvez sem "células" consolidadas, sem organização "central" e sem um pingo da compreensão do "outro" que às vezes define e às vezes tolhe o Ocidente, é fácil a um punhado de psicopatas desgraçar centenas de vidas e paralisar um país. Basta um sujeito para atear o incêndio que mil bombeiros não apagam. Como prevenir? Convém pensar na resposta, e convém estar preparado para a possibilidade de não haver nenhuma.
O que, à semelhança da ajuda tardia de Obama, não contribui para nada de bom é esquecer que os autores dos massacres, de Paris e de tantos outros, são os culpados pelos massacres. Não são "as religiões", em sentido genérico e vago para não ofender a religião comum a tudo isto. Não são os "mercados", que de facto reduzem as desigualdades que nunca motivaram os assassinos. Não são os "racistas" que criticam os refugiados em lugar de os receber sem reservas. Não é a "hipocrisia" dos "países ricos", que por muitos erros estratégicos que cometam não obrigam ninguém a explodir com o público de um concerto pop ou com os clientes de um restaurante. Podia ser o "ódio" de que se queixa o Bloco de Esquerda, embora com típica pulhice atribua nas entrelinhas o sentimento aos que morrem e não aos que matam. E não podia ser Cavaco Silva, cuja demora em indigitar o Dr. Costa é, na avariada cabecinha de Ana Gomes, responsável pela permeabilidade nacional ao terrorismo.
Se hoje a França lamenta os seus cadáveres como amanhã lamentaremos os nossos, isso deve-se à cultura de extermínio que distingue o islão dito menos moderado. E à má--fé que leva inúmeros ocidentais a fingir que não sabem.
Alberto Gonçalves in DN (15.11.2015)
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