sábado, 10 de setembro de 2016

Reflexão - LBC (a selecção nacional)

(escrito durante o campeonato Europeu depois dos jogos com a Islândia e a Austria na fase de qualificação)

Hoje em dia, não sei o que me exaspera mais neste mundo do futebol:
-Se ter consciência das verbas envolvidas, por oposição a outras opções de cariz social que, para o razoável dos mortais, seriam bem mais urgentes;
-se me aperceber  da discrição, senão quase impunidade, com que os sucessivos casos de corrupção no meio são resolvidos;
-se ouvir as campanhas publicitárias a bebidas alcoólicas e não só, que se montam em torno da selecção, apelando ao instinto consumista da plebe;
- se as horas e horas de considerações com que meia dúzia de pseudo-letrados, proto-doutores e recém - empoleirados no futebol, tergiversam nos diferentes programas, sobre o fenómeno, antes e depois do mesmo;
- se assistir, impotente, à ensaiada ansiedade com que se promove e preenche os 7 ou 8 canais de televisão antes do início da refrega;
-se, durante a mesma, ter de ouvir a quantidade de comentários patetas a que as dúzias de comentadores são obrigados;
- se aguentar a irritante calma (desplante?) e aparente falta de velocidade com que William Carvalho ou André Gomes jogam;
-se tremer com a falsa segurança de Ricardo Carvalho ou de Rui Patrício;
-se recear as sucessivas entradas de Pepe;
-se não compreender a opção da entrada de Rafa a três (!) minutos do final do jogo;
- se ter de ver o consecutivo e persistente "azar" de Ronaldo na selecção;
- se ter de aguentar os esgares e sorrisos de superioridade de CR7 para com os adversários (colegas de profissão) que, regra geral, não se convertem em algo tangível;
- se lamentar o ror de oportunidades que temos, mas nunca concretizamos;
- se, apesar de gostar de Fernando Santos, não entender a forma como promoveu a selecção neste Campeonato, aumentando as expectativas;
- se ouvir outros treinadores, como o Islandês, com low-profile, ponderado e sem grandes parangonas, a dizer comuns e cruéis verdades;
-se ter de ouvir o trava-língua consecutivo das "grandes equipas" que dizem que defrontamos;
- se sentir esta incapacidade em contrariar a consciente, premeditada e acintosa manipulação com que os media da praça insistem em nos fazer crer que somos uma grande potência do futebol;
- se ter a convicção de que Islândia e Áustria são equipas que não têm futebol comparável ao nosso;
-se ter a frustração de não se ver, consecutivamente, a concretização da suposta superioridade da nossa selecção;
- se me sentir consciente da minha opção em afastar do mundo do futebol, mas não o conseguir fazer definitivamente, ainda por cima "por isto";
- se não conseguir encontrar eco do meu desencanto daquela realidade, nos inúmeros amigos que tenho, excepção feita a alguns que o acabam por reconhecer após a excitação.

Não sei o que me irrita mais!
Se o "azar" que sucessivamente nos persegue, se ter a consciência da equipa que (não) temos, se a aculturação a que, voluntariamente, todos nós nos temos vindo a remeter!

Depois do empate com a Islândia, este com a Áustria. Ou são, na verdade, duas grandes equipas que jogam de igual para igual connosco - outra grande equipa -, ou nós não somos, afinal, a equipa que pensamos que somos, empatando com outras da nossa igualha.

Ou então foi o árbitro...

Ou o gato da vizinha!...

Luiz Boavida Carvalho

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