sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Reflexão - vários

Os episódios da banca, os disparates do Banif, do BPN, do BES e da CGD que levaram a créditos malparados e que exigem agora verbas astronómicas de capitalização e de cobertura de prejuízos, os empréstimos de favor a amigos para influenciar o sistema bancário e tantas decisões pouco fundamentadas deveriam ter assinatura, algures, deveriam ter identidade e responsabilidade anexas ao processo. Mas não, a responsabilidade fica no "sistema", esta que é a entidade mais famigerada da vida nacional, responsável pelas avarias da electricidade, as facturas erradas dos telefones, os exageros na conta do gás, os atrasos nos centros de saúde e a desordem na educação. É o "sistema".

António Barreto DN dez2016

Acto II

Finalmente temos uma versão à escala nacional do filme de Abraham Zapruder. O original, de 1963, mostrava o homicídio de um Presidente a sério. A nossa fita, realizada há dias por autor anónimo, mostra a zaragata de dois presidentes a brincar, um par de dirigentes desportivos que trocaram insultos, empurrões e cuspidelas nos corredores de um estádio. Parece fascinante, não parece? E não é. No entanto, a suprema insignificância do episódio não impediu todos os canais indígenas de passarem as imagens em modo contínuo durante horas e horas de emissão. Como as imagens são mudas, em cada canal o espectador beneficiou da ajuda interpretativa de analistas especializados, só por acaso a mesma rapaziada que regularmente aparece a "analisar" penáltis, transições ofensivas e entradas a pés juntos. Os comentários incluíram momentos de elevada densidade técnica, do género: "Homessa, nota-se perfeitamente que X está a sair da casa de banho!"; "Não diga asneiras, o que é evidente é que Y leva os braços no ar!"; "Aquilo não é cuspo, pá, é vapor do cigarro electrónico..."; "Eu percebo que você esteja nervoso."; etc. Desde segunda -feira até ao fecho desta crónica que isto se prolonga sem parança: pessoas aparentemente adultas a "debater" um assunto que não existe, com protagonistas que não existem e sob uma normalidade que não devia existir. Já sabemos que, na medida em que elegeram o sr. Trump, os americanos são ignorantes. Falta-me a palavra para definir os portugueses.

O BOM

Memórias secundárias
O primeiro concerto que vi foi o de Leonard Cohen no Dramático de Cascais, em 1985. Tinha 15 anos, cheguei sozinho e entrei acompanhado por um casal de hippies tardios. Eles eram simpatizantes, e eu devoto. Excitado e chato, massacrei-os com o "contexto" de cada canção. Em troca, ou para me calar, partilharam comigo a merenda. Foram amigos de uma noite. Não voltei a saber deles e raramente os lembrei. Talvez me relembrem agora. Ou não, tanto faz. E é isto. Sobre Cohen, muitos esgotaram os louvores. Guardarei os meus.
Alberto Gonçalves 25.11.2016

 

ntigamente, obter uma licenciatura dava um trabalhão. O estudante estava obrigado a realizar testes de inglês técnico, que depois enviava ao professor por fax ao domingo. Ou arranjava maneira de a direcção de um rancho folclórico lhe conceder "equivalências" numa série de cadeiras. Em suma, o estudante cumpria regras e esforçava-se. Hoje, o processo começa a simplificar-se: o licenciado é aquele que inclui esse facto no seu currículo, mesmo que o facto seja falso e a passagem pela universidade se resuma a uma ida apressada à casa de banho.
Alberto Gonçalves 10.11.2016

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