domingo, 25 de dezembro de 2016

Reflexão - Francisco José Viegas

Os inteligentes tomaram conta de Lisboa; basicamente, isso significa que estamos lixados. Veja-se isto: trabalho numa zona tranquila de Sta. Cruz de Benfica, um bairro que nunca teve problemas de trânsito.
Em trinta anos recordo-me de três ‘toques’ entre automóveis; nenhum atropelamento; há gente que pedala pelas ruas e que passeia os canídeos; vejo peões a praticar jogging livremente; há empresas por ali, como aquela em que trabalho – têm lugares de estacionamento; restaurantes de bairro fazem o seu negócio; moradores vivem em silêncio, entre plátanos, acácias, araucárias e (é certo) canteiros que estão por tratar.
Entretanto, os lunáticos das obras – uma divisão camarária que ataca de surpresa, mandatada por inteligentes que desenham a cidade a régua e transferidor (por causa das curvas) – chegaram a este lugar tranquilo e vão instalar uma rotunda, alargar os passeios e torná-los irregulares de modo a diminuir drasticamente a faixa de trânsito (por onde circulam atualmente três linhas de autocarro), criar espaços de estacionamento para prejudicar os moradores, instaurar sentidos proibidos, reduzir o espaço para quem corre e passeia, multiplicar o fluxo de trânsito em ruas antes tranquilas e arborizadas (onde, imagine-se, ainda há duas semanas passeavam patos e pavões da Mata de Benfica, nossa vizinha), inviabilizando também o acesso à avenida mais próxima, e dificultando a vida a condutores e transeuntes. 
Aguarda-se – claro – a chegada da Emel e dos psiquiatras. Ou da polícia. Depressa.

Act.: Sim, já chegou a polícia, que toma nota – diligentemente – das matrículas dos carros que não se habituaram às novas regras de trânsito que de um momento para o outro alteram os hábitos de trinta anos de paz.

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