Curiosamente o almoço (declarações) realizou-se após a notícia de que o CEME estava em desgraça e não seria reconduzido pelo PR, mesmo se proposto pelo PM, e após a exoneração do TCor. Amorim.
Na TV pública sobre a nomeação de um (anterior) CEME recordo a declaração de um bandalho em funções de Ministro da Defesa, em presença do nomeado que sorria de forma boçalmete servil, que fora escolhido pela convicção que iria acatar (a todo o custo, digo eu) as orientações da tutela, não afrontando o sistema. E aceitou o cargo e exerceu funções.
E parece-me ser o esse o cerne da questão. E não vi (li) questionar o sistema.
O CEME não presta para nada. No processo da sua sua indigitação vejam-se os antecedentes; as circunstâncias da vacatura do lugar, a sua disponibilidade para o cargo e o discurso (pelo MinDefesa) na tomada de posse.
Depois, o permanente alinhamento com as orientações dos donos. Esquecendo a verticalidade do cargo/função, parece ter confundido castrense com castrado. Mas, digo eu, seria o preço da nomeação.
Depois... a gestão do pessoal; as nomeações para as missões; os furtos/roubos de armas na carregueira e vale de zebro; o caso (este) da morte dos instruendos no CCmd, pela propalada e já anteriormente informada inexistências dos equipamentos clínicos necessários; e as armas de Tancos... a exoneração dos comandantes e a posterior recondução, naturalmente que com a nomeação de (parte e após, sabe Deus que ponderação ou pressões) dos ex-exonerados para a frequência do CPOG.
O CEME é uma peça colocada pelo arbítrio do político.
Talvez reconhecidamente (pelas outras peças disponíveis) defeituosa, mas esse defeito deve-se certamente à escolha do material ou à "manufactura". Não se chega a general sem se passar por um processo de selecção, avaliação e informações de desempenho periódicas, uma caterva de cursos, um ciclo de promoções, das quais pelo menos quatro ocorrem por escolha.
E esse processo é competência (culpa) do Exército, permitir que a "peça" chegue ao círculo da escolha.
Pode enganar-se uma multidão por breves período, um grupo restrito durante algum tempo, mas não é possível enganar toda a gente sempre, e falamos de um ciclo de trinta a trinta e cinco anos.
Mas essa é (foi) a grande vantagem da estrutura castrense. É comandada. Há sempre um responsável. Pelas boas decisões ou desempenho e pelas más. E aí...
Voltemos à matéria
"Acidentes" na formação das Forças Armadas sempre ocorreram. São homens que manuseiam armas e equipamentos, cuja formação pretende a preparação para assumir comportamentos que (em tese) contrariam a formação cívica e religiosa do "não matarás". É necessário que, independentemente da licitude da decisão, matem "à ordem".
Nos CCmd, os métodos de instrução sempre me recordo de serem questionados, a "dureza 11" que integra (va ?) a humilhação, o insulto e a agressão física gratuitos. Não me parece que conduzir exercícios que levem à carbonização do fígado, ao fenecimento dos rins ou a lesões por agressão integrem um plano de instrução. Nem que no seu decorrer os monitores/instrutores não se apercebam da degradação física ou emocional que (gradualmente) se desenvolve no instruendos.
Chefiei Secções de Instrução, no tempo em que ainda havia SMO.
Fui responsável pela praxe em diversas Unidades e recordo como funciona e para que serve. É uma factura da adesão a um corpo, mas com regras.
A praxe, como a instrução, é (era) ponderada, pelas capacidades e competências dos praxados e objectivos a atingir, com instruções claras aos "praxadores" dos limites da praxe e regra de ouro: é inalienável que o praxado aprenda algo, perceba... sem partir o pescoço - entenda-se a dignidade, segurança (física e mental), a vida.
Concordo com o "total desinteresse" e "alheamento" do comando do Exército para com os militares acusados no processo pela morte de dois instruendos. Não percebi foi a constatação. Afinal não é esse comportamento que se designa por "assobiar para o lado?" baixinho e esperando pelo próximo escândalo no futebol. A verdade é que resulta.
Mas então quem foram os responsáveis?
Quem planeou o exercício nos moldes em que decorreu?
Quem supervisou a execução?
Quem não se apercebeu da degradação gradual da condição física dos instruendos?
Quem não contemplou a necessidade de um eventual apoio médico imediato de reanimação e transporte?
Quem não se apercebeu das consequências?
O facto é que não comentamos uma queda, um disparo fortuito, um rebentamento acidental ou mesmo um acidente de viação. Trata-se de uma instrução programada e executada segundo um Plano aprovado pela hierarquia.
Se foi incorrectamente executado... quem foi o responsável?
Claro... a história do mexilhão.
Como de qualquer outra Arma ou especialidade também recordo excelentes camaradas que prestaram serviço nos Comandos, quando falam (falavam) do orgulho de serem militares, Comandos, reflexos de competência e paixão, do orgulho militar no brilho do olhar. Mais do que de armas ou especialidades, falamos de homens, uns bons... outros, nem por isso.
E, mero facto, no desbaste, quando se pretende um cavalo de guerra ou de corrida, não se o atrela a um arado sem que ele perceba porquê. Isso parte-lhe o pescoço. E, no caso do cavalo militar, impede a cabeça erguida, o olhar desassombrado, de frente. o cumprimento militar é a continência - olhando francamente o cumprimentado nos olhos - não o aperto de mão comprometido ou servil, muito menos a vénia.
E é isso que incomoda a classe política, que limita a sua autoridade bacoca, mas... também os nossos camaradas.
A grande vantagem da História é permitir-nos antecipar situações e comportamentos.
E, salvo muito pontuais e honrosas excepções, não há registo de muitos exemplos de "bater com a porta" por discordância sustentada com a tutela ou hierarquia.
Esperemos a reacção dos próximos indigitados (para ambos os cargos, respectivamente CEME e Cmdt do RCmd) aos discursos, e se no acto de posse apertam a mão com a cabeça erguida ou se acompanham o cumprimento com a tal vénia servil e sorriso boçal. E claro, pactuam com o "sistema".
Curiosidades inconsequentes... as minhas, claro.
Abraço
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