segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Reflexão - António Garcia

(Resposta do pai da Isabel, a propósito de uma história "de Natal" que um amigo, muito católico, lhe mandou)


Zezinho

Fartas-te de gozar com estas histórias para crianças. Sabes que já não tenho idade, nem paciência? Para ti está bem que ainda só tens 90. Fartei-me de chorar e não havia "nexexidade".

Zezinho, se conheceres esse Vitor manda-o para cá  que eu ensino-o como se procura trabalho. A partir dos 12 anos, saía eu de casa, todos os dias, para responder a anúncios. Era na agência do Diário de Notícias, no Rossio, onde eu entregava a correspondência. Sabes, Zezinho, o que é andar, aos 15 anos a descarregar uma camioneta com sacas de carvão às costas. Saia daquele armazém imundo, às 6 da tarde, sujo de carvão a correr para casa, tomava banho, continuava a correr até à estação de Benfica, com os livros debaixo do braço,, onde apanhava o comboio, para entrar às 8 da noite na Escola Veiga Beirão, no Carmo. Saía da escola às 11, apanhava o comboio à meia noite em ponto e deitava-me depois da uma, para entrar novamente naquele armazém imundo às 8 da manhã. Ainda bem que aquele armazém faliu. Zezinho, sabes o que é que aconteceu depois? Continuei a responder a anúncios, caminhando todos os dias para a agência do Diário Notícias, no Rossio, como se fosse para o trabalho.

Histórias destas eu aceito. Quando tas contarem, manda-mas.
Um abraço.
AG

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