quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Reflexão - LBC (Quadratura do Círculo)

Ou como a decisão, tomada há mais de 25 anos de não votar, se revelou prenunciadora...
Nós temos mesmo um "modelo singular" de democracia!

Fim da Quadratura do Círculo. “A política perdeu espaço na televisão”

Programa de debate político vai para o ar pela última vez no dia 24 de janeiro. Para o politólogo Costa Pinto a decisão é sintomática de que a televisão está a mudar: o desporto e o crime estão a roubar espaço à política
O programa de debate político da SIC Notícias Quadratura do Círculo vai acabar. Depois de 14 anos a ser transmitido regularmente na televisão, o programa vai para o ar pela última vez no dia 24 de janeiro. A estação televisiva justificou a decisão com “alterações na grelha”.
O diretor de informação da SIC, Ricardo Costa, destacou ao “Diário de Notícias” que “o programa Quadratura do Círculo foi sempre importante para a SIC Notícias e faz parte da sua história”. Mas o objetivo agora é “apostar em novos formatos”.
Foi o próprio Ricardo Costa que, no final do programa na semana passada, já perto da meia-noite, comunicou aos participantes a decisão de acabar com o formato. Mas a decisão não foi bem aceite por todos. José Magalhães, que foi um dos comentadores do formato durante vários anos, afirmou ao i que a Quadratura do Círculo não acaba por uma “quebra de qualidade” ou por “velhice”. “É vítima de uma política que troca facilmente debate livre por zurrapa”, lamenta.
Também Lobo Xavier – que faz parte da equipa atual do programa – reconhece estar triste com a decisão. Em declarações ao “Público”, o antigo líder parlamentar do CDS referiu que o programa lhe vai fazer falta. “Sempre gostei de estar ligado à política, e não tendo possibilidade profissional de estar ligado de modo mais ativo, aquilo era a minha forma de estar. Gostava muito de fazer aquilo”, explicou.
Esta é apenas mais uma das mudanças que têm acontecido nos canais de televisão nos últimos tempos. A guerra de audiências tem falado mais alto e, para o politólogo António Costa Pinto, “a política acabou por perder espaço na televisão”. O especialista explica ao i que atualmente os canais generalistas “dão muito pouco destaque à dimensão política”. Assim, a política é agora abordada maioritariamente nos canais de notícias. Contudo, mesmo nesses canais, “sobretudo no setor privado, o desporto, a vida quotidiana e o comentário de escândalo têm progressivamente ocupado um espaço muito significativo”.
O fim de programas como a Quadratura do Círculo, diz Costa Pinto ao i, pode ter impacto na participação e no interesse dos cidadãos pela política. Isto, porque, como sublinha, o “destaque mediático” dos políticos é essencial para que consigam fazer passar a mensagem. “É uma maneira de chegarem às pessoas. Os cidadãos olham para quem é mediático nos media. E a saliência mediática também é importante para a participação das pessoas nas eleições”, justifica.
Audiências baixam As audiências não foram apontadas como a razão para o fim do programa, mas a verdade é que nos últimos três anos houve uma quebra. Segundo dados da GfK, a média de telespectadores do programa em 2017 foi de 72 100. Em 2018, baixou para 52 600. E, em 2019, quando ainda só foram transmitidos dois episódios, as audiências voltaram a descer para uma média de 44 400 telespectadores.
Desde 2004, o programa é transmitido na SIC Notícias, com a moderação do jornalista Carlos Andrade e os comentários de José Pacheco Pereira, Lobo Xavier e Jorge Coelho. Mas o formato já passou por muitas alterações.
O programa teve origem na TSF, no final dos anos 80, quando se chamava “Flashback” e era transmitido ao domingo. Na altura, era moderado por Emídio Rangel e contava com a participação de José Magalhães, Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente. Depois, Pulido Valente saiu e foi substituído por Miguel Sousa Tavares e, mais tarde, por Nogueira de Brito.
Já a meio dos anos 90, e ainda com o nome “Flashback”, o programa passou a ser transmitido também na televisão, na SIC. E, em 2003, deixou de ser emitido pela TSF, ficando no ar apenas no canal televisivo.
Um ano depois, em janeiro de 2004, o formato de debate político mudou para a grelha da SIC Notícias, com o nome “Quadratura do Círculo”. Foi nessa altura que Carlos Andrade ficou a cargo da moderação e que Lobo Xavier entrou para o lugar de Nogueira de Brito.
As alterações não ficaram por aí. O socialista José Magalhães foi substituído por Jorge Coelho e este, em 2008, deu lugar a António Costa. Com eleição de Costa para líder do PS, Jorge Coelho regressou ao programa.
No caso de António Costa, o politólogo Costa Pinto afirma que a Quadratura do Círculo serviu como rampa de lançamento. “Em Portugal, as televisões são – mais do que noutros países – não apenas locais de debate político entre comentadores e representantes dos partidos, mas plataformas de lançamento de políticos. Muitas vezes a participação de políticos ou de candidatos a políticos nestes programas serve para rampa de lançamento para congressos partidários, para eleições internas nos partidos ou para outros lugares de destaque”, explica.
“Os canais dão muito pouco destaque à dimensão política”“Quadratura é vítima de uma troca de debate livre por zurrapa”

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