quinta-feira, 3 de junho de 2021

Reflexão (vários)


(Carlos Fiolhais no Público)

Gostava de ter visto um plano claro quanto aos grupos de prioridade, prazos, logística e prevenção de abusos. Não há sequer um plano estruturado, com base na ciência, mas antes uma sucessão de remendos. Navega-se à vista. Não admira que a opinião dos especialistas da dita comissão técnica em favor do maior espaçamento entre doses tenha sido ignorado pela task force, distante como está da área biomédica. A pandemia é um assunto muito sério, onde a competência devia estar à frente de tudo. Em Portugal podíamos e devíamos organizar melhor a nossa vida pública. Quando não há um plano, uma tarefa pode até por sorte correr bem, mas em regra não corre. Há quem se gabe da nossa capacidade de desenrascanço, mas nesta como noutras alturas era melhor estar calado. Outros países onde há mais organização não estão, como nós, nos cuidados intensivos.



Jaime Nogueira Pinto no "Observador"

...Mas a sua morte, a sua figura, a sua memória ou foram caladas ou levantaram polémica. E porquê? Porque para a esquerda de variante americana que anda agora por aí, homens como Marcelino da Mata não podem existir. Incomodam. Desassossegam. Baralham. Não cabem na narrativa simplista e maniqueísta adoptada. Não se encaixam no paradigma. Não cumprem o papel de “negros úteis”; um papel que outrora seria, paternalisticamente, a docilidade e a gratidão mas que agora parece ser, também paternalisticamente, a insurreição ou, mais precisamente, o “activismo anti-racista”. É este o guião – também ocidental e caucasiano – com que os actuais comissários políticos das minorias oprimidas querem perpetuar o racismo. Um negro que tem a ousadia de não se cingir àquilo a que a raça o obriga? Um negro que não se deixa “empoderar” e não quer cumprir o seu destino de minoria oprimida? Um negro da Guiné que combate no Exército Português, nas Forças Especiais, que se distingue em combate, que é condecorado? Um negro que depois do 25 de Abril, no período do PREC, é preso, insultado e torturado no RALIS por oficiais do MFA e maoístas à paisana? Nada disto pode existir e terá, por isso, de ser rapidamente eliminado ou branqueado: Marcelino foi um “traidor” e cometeu “crimes de guerra”; os oficiais do MFA e os ajudantes maoístas foram “corajosos e determinados”, ou mesmo “heróicos”.


Helena Matos no "Observador"

...Ou seja após ter aprovado a eutanásia, o parlamento resolveu legislar sobre o “projecto comum de parentalidade” que as mulheres viúvas poderão manter com os maridos mortos através da inseminação do esperma congelado. Não fosse o assunto tão sério e dir-se-ia que essas mulheres precisam sim de ajuda para fazer o luto e não para engravidar de quem já morreu.

Toda esta realidade virtual do “direito a morrer”, das mudanças de género, das barrigas de aluguer ou agora do projecto comum de parentalidade com um morto (durante quanto anos estimarão os senhores deputados que se consegue manter um projecto comum de parentalidade com um morto?) nos chega embrulhada no papel festivo do “Portugal na dianteira”, do “direito a”, da “correcção da injustiça”.

Nada se pergunta. E tanto há a perguntar. Por exemplo, no caso de Portugal aprovar a eutanásia a morte por eutanásia vai ser registada como morte natural como acontece em Espanha? E como se pode saber quantas pessoas estão a morrer por eutanásia se esta for registada como morte natural? A rampa deslizante também passa por aqui.

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