Uma tragédia nacional
Pessoalmente, tenho muita dificuldade em compreender que quase metade dos portugueses, a julgar pelas sondagens, mostre a vontade de voltar a votar no Partido Socialista. Não entendo porque revela um grau de satisfação com a governação do País que a realidade não justifica e porque as políticas do Governo conduzem-nos a uma situação económica e social ainda pior no futuro, não havendo sinais do primeiro-ministro António Costa compreender a situação. Mais, trata-se da parte de muitos portugueses de uma decisão profundamente irracional, porque teria sido preferível terem dado uma maioria ao PS nas últimas eleições, evitando a influência negativa do PCP e do Bloco de Esquerda na governação.
Também difícil de compreender, porque uma maioria dos portugueses que deu a vitória a José Sócrates, está agora de forma esmagadora contra o anterior primeiro-ministro, aparentemente não se dando conta de que as políticas de agora são essencialmente as mesmas. A corrupção no aparelho de Estado, os empregos para os “boys”, a submissão aos grandes interesses económicos e os erros feitos nos investimentos realizados ou previstos rea-
lizar, são em tudo semelhantes. Ou seja, será que os eleitores portugueses vivem uma realidade paralela à própria realidade, ou seja, são incapazes de aprender com o passado? Ou têm apenas receio de que a situação do país possa ainda piorar?
Como disse, tenho dificuldade em compreender que, como aqui mostrei a semana passada, os portugueses não saibam que os seus rendimentos decrescem em relação à média da União Europeia, enquanto os rendimentos nos países da antiga cortina de ferro crescem. Ou que a economia portuguesa está a bater um recorde de estagnação que já leva mais de vinte anos e que o investimento é anémico e a dívida não cessa de aumentar. Pior, que as decisões políticas e económicas de António Costa só podem piorar a situação, mesmo em relação ao desastre das políticas passadas de José Sócrates. Ou que o Programa de Resistência e Resiliência de 16.000 milhões de euros da União Europeia, representa um exercício de venalidade política e não de desenvolvimento do País.
Uma das razões reside no prometido investimento, ou na ausência de investimento produtivo criador de riqueza. Durante os últimos seis anos, os orçamentos do Estado, um a seguir a outro, previram investimentos na Saúde, na Educação, na Habituação e em Obras Públicas, investimentos que nunca forma realizados. Espero que os leitores ainda se recordem das célebres cativações. Ou se lembrem de alguns dos investimentos feitos e outros anunciados, por exemplo: Quimonda; La Seda; helicópteros Kamov; nacionalização do BPN; rede Siresp; parcerias público/privadas; porto do Barreiro; aeroporto do Montijo; exploração de petróleo, de gás, de lítio e de hidrogénio; a ligação por ferrovia a todas as sedes de distrito; etc.. Trata-se de alguns investimentos já feitos com resultados desastrosos, que serviram apenas para aumentar a dívida pública e investimentos que nunca saíram do papel, de pura propaganda.
Temos agora o investimento na TAP, que era uma empresa privada com resultados muito apreciáveis em termos de crescimento da empresa, de aumento do número de aviões e de rotas, vivendo em relativa paz social e que o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, resolveu nacionalizar à revelia de todas as outras soluções encontradas pela União Europeia para ajudar as empresas do sector a resistir à crise. Já lá vão 1200 milhões de euros e ainda não existe no terreno um plano de reorganização, a maioria dos aviões continua no chão e as empresas estrangeiras têm sucesso no nosso próprio mercado ao aumentarem o número de voos para o Porto, para o Algarve, Madeira e Açores. Acresce que as greves já começaram para desespero dos turistas que nos visitam.
Mas é na ferrovia que o ministro Pedro Nuno Santos leva a asneira ao seu nível mais alto. Tendo feito um bom trabalho na recuperação dos comboios deixados no lixo pelos seus antecessores, recuperou-os agora para o serviço, mas paralelamente desenvolveu a mentira de que os espanhóis nada fizeram para mudar a bitola ibérica para a bitola UIC, que é o padrão em uso em toda a Europa, sabendo-se que a Espanha já está do outro lado da fronteira portuguesa de Bragança com novos comboios e que os portugueses daquela região, atravessando a fronteira, já podem ir a Madrid em menos tempo do que ao Porto. Como se sabe, os espanhóis têm hoje uma das mais modernas redes ferroviárias da Europa, com ligação a França na Catalunha, e em breve terão pronta uma segunda ligação através do País Basco por túneis em construção nos Pirenéus.
O ministro sabe ainda que o governo espanhol deixou de pensar nas ligações a Portugal por desinteresse do nosso País na bitola UIC, tendo dado preferência à via do Mediterrâneo em construção e que ligará o porto de Algeciras, concorrente de Sines, a Valência, Barcelona e a França, uma linha de maior valor para a economia espanhola.
Nuno Santos mente sistematicamente aos portugueses, o que faz de forma consciente por razões ideológicas, nomeadamente quando insiste que a bitola ibérica não será um problema na ligação da ferrovia portuguesa a Europa, recusando-se a explicar como isso se fará, um milagre ainda não descoberto pelos espanhóis e por alguns outros países da antiga cortina de ferro, que gastaram dezenas de milhares de milhões de euros, financiados pela União Europeia, para mudar de bitola.
O ministro Pedro Nuno Santos ao planear a modernização da ferrovia portuguesa em bitola ibérica, para serviço apenas no território nacional, está a conduzir a nossa economia para a dependência dos transportes espanhóis, nomeadamente porque as empresas ferroviárias europeias não entrarão em Portugal por ausência de material circulante, que é especial e mais caro, por não haver no mundo mais do que um só cliente, Portugal. Ou seja, o resultado é a manutenção do monopólio da empresa Medway, que já domina o mercado nacional de mercadorias e que em combinação com a antiga rede espanhola terá o exclusivo do transporte das mercadorias portuguesas de e para a Europa, com transbordo, naturalmente. A que preço?
Aliás, Portugal já está a sofrer esse efeito ao comprar novos comboios que são de fabrico especial, mais caros e com prazos de entrega ridículos de muitos anos, algo que o ministro escamoteia ao conhecimento dos portugueses. Esta é a filosofia da geringonça, transformar Portugal num país do terceiro mundo e só formalmente pertencente à União Europeia, mas de facto o parceiro na Europa de países como Cuba ou a Venezuela.
António Costa e o ministro Pedro Nuno Santos, seu putativo substituto, estão a conduzir Portugal para a cauda da União Europeia e para a irrelevância entre as nações desenvolvidas. Fazem-no através da mentira, de negócios nunca explicados e do apoio que lhes é dado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda. Que muitos portugueses deixem é a maior tragédia nacional.■
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