O programa que passou, em dois episódios, é de boa qualidade.
Em contrapartida, quanto é que receberão as agências de viagem para colocarem estas parangonas??
Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho a certeza absoluta. (Einstein) But the tune ends too soon for us all (Ian Anderson)
O programa que passou, em dois episódios, é de boa qualidade.
Em contrapartida, quanto é que receberão as agências de viagem para colocarem estas parangonas??
1 - OBJECTO - REFLEXÃO DE JOÃO ARAÚJO
https://observador.pt/opiniao/um-enigma-cultural-e-educativo-a-qualidade-e-fruto-da-quantidade-sim-ou-nao/
Um enigma cultural e educativo: “A qualidade é fruto da quantidade, sim ou não?”
“Porque é que Portugal tem poucas medalhas olímpicas, poucos Nobel, poucos cientistas de topo?” Resposta típica: “É de sermos poucos! Fôssemos mais, teríamos mais campeões.” Será assim?
29 jan 2022, 00:01
“Porque é que Portugal tem poucas medalhas olímpicas, poucos Nobel, poucos cientistas de topo?” Resposta típica: “É de sermos poucos! Fôssemos mais, teríamos mais campeões.” Será assim?
Vejamos.
O prémio Nobel. A Suíça tem 7 vezes menos pessoas que a Itália, mas tem o dobro de prémios Nobel. Os EUA são quem tem mais Nobel nascidos no país, mas não são quem tem mais população. Aliás, China e Índia juntos tem 1/3 da população mundial, mas têm menos Nobel que a Suíça, que aliás tem menos gente que Portugal. Não há relação entre Nobel e o tamanho do país.
Nas medalhas olímpicas. A Hungria ou a Suécia são tão grandes como Portugal, mas têm 20 a 25 vezes mais medalhas que nós. O Paquistão tem 20 vezes mais pessoas que Portugal e tem um terço das nossas medalhas. A Chinatem 140 vezes mais gente que a Suécia, mas menos medalhas.
Que aconteceria se, em Portugal, o problema fosse a quantidade?
Se fosse assim, deveriam aparecer atletas medalháveis nas modalidades mais variadas. Mas não: 4/5 das nossas medalhas estão concentradas em 6 modalidades. Será que os génios nascem aos pares?
O caso curioso da Universidade de Stanford
Stanford tem apenas 16.000 alunos e em Tóquio-2021 ganhou tantas medalhas (26) como Portugalganhou em cem anos a participar nas olimpíadas.
Stanford totaliza 302 medalhas (só há 13 países a ganhar mais medalhas que esta universidade).
Um adepto da teoria “quantidade é qualidade” tentará explicar que Stanford, a segunda melhor universidade do mundo, atrai os melhores atletas dos EUA e é por isso que ganha muitas medalhas.
Parece uma “explicação que explica”… até conhecermos alguns factos:
Stanford ganha em poucas modalidades e sobretudo em senhoras; se os melhores são atraídos para lá, não deveria ter um leque vasto e proporcional de bons atletas?
Stanford tem muitas modalidades em que não ganha medalhas nenhumas.
Fazer Escola: “make school not war…”
Fazer Escola (com maiúscula) é cruzar, numa mesma comunidade de pessoas interessadas, um conjunto profundo de saberes e experiência, e também governança, relações interpessoais de qualidade, know how, domínio das variáveis relevantes e sua transmissão, tradições virtuosas, política sustentável e esclarecida de desenvolvimento e aquisição de meios, etc. É uma teia muito delicada e frágil.
As medalhas e records que Portugal teve no fundo (em homens e mulheres) não resultaram do acaso feliz de nascerem aqui atletas excecionais; foi a Escola de fundo portuguesa que ofereceu condições excecionais de desenvolvimento de todo o seu potencial a atletas como Carlos Lopes, Rosa Mota, António Leitão, Fernando Mamede, Fernanda Ribeiro, Manuela Machado, Domingos e Dionísio Castro, Sérgio Paulinho, Rui Silva, etc.. Não fomos nós a ter sorte com o seu nascimento. Eles é que tiveram a sorte de ter imenso potencial precisamente na área em que Portugal tinha Escola.
E algo se passou para perdermos essa Escola (seja ao nível da transmissão, seja na sustentabilidade dos meios, etc.).
Portugal dá cartas em futebol (de 11, de 5 ou em treinadores) porque tem Escola de jogadores e treinadores, uma Escola que começa nas ruas e vai até aos centros de alto rendimento. O mesmo se diga do hóquei, e em mais algumas.
Portugal ou Stanford ganham nas áreas em que têm Escola. Mesmo que importassem talentos, jovens e promissores, provenientes do mundo inteiro, só os conseguiriam transformar em campeões nas áreas em que têm Escola.
Os EUA ganham mais medalhas e em mais áreas que qualquer outro país, não por serem mais, nem por serem melhores, mas por terem feito Escola em muitas modalidades.
Dão cartas no cinema, nos Nobel, na música, etc., sempre pela mesma razão: é talvez o país do mundo que melhor percebe a importância da Escola, onde a primeira coisa que os pioneiros fizeram ao fundar uma povoação, foi instalar a escola.
Num país com 250 anos, a universidade mais antiga (Harvard) é de 1636, sendo mais antiga que todas as portuguesas, exceto Coimbra. No top 10 das universidades, 8 são americanas.
A explicação típica para que os EUA sobressaiam muito mais que Portugal em música, cinema, ciência ou desporto é quase sempre a quantidade de pessoas, mas essa explicação é falsa.
Portugal bateu americanos nas provas de fundo em atletismo não por ter mais pessoas, mas por ter uma Escola melhor. Portugal bate americanos em futebol, não por ter mais pessoas mas por ter uma Escola melhor. Mas o nosso problema não são as Escolas que temos, são as que não temos. O problema não é nascerem poucas pessoas com potencial. O problema de Portugal é não ter Escolas para desenvolver o potencial de quem nasce.
Uma tirada de Einstein a não “relativizar”
No final do século XIX e início do XX, as universidades alemãs dominavam a ciência mundial; a joia de uma coroa científica muito rica era o Departamento de Matemática de GÖttingen.
Einstein queixou-se no final da vida que em Princeton nunca conseguiu produzir como na Alemanha pois “faltavam-me os colegas do Departamento de GÖttingen”, a Escola matemática por excelência.
Ora aqui vai uma história para afixar em gabinetes de ministros, em salas de conselhos de administração, em autarquias, em escolas, etc.
A Alemanha nazi também tinha orgulho neste departamento, mas incomodava-a haver lá uns poucos judeus, que foram expulsos.
Tempos depois, o ministro responsável por essa decisão cruzou-se com o então patriarca da matemática mundial, David Hilbert, e perguntou: “Corre o rumor de que o departamento de GÖttingen se ressentiu um pouco do saneamento dos judeus; é verdade?” Hilbert respondeu: “Esse rumor é completamente falso: o departamento está morto”. Mas os que ficaram não eram bons? Eram, mas ser bom só não basta pois uma teia delicada de relações, know how, tradições e saberes, quando perde um nó, perde o Norte.
Isto é: custa muito (em tempo, meios e sorte) construir uma Escola e custa ainda mais construir uma escola que perdure para lá da morte dos seus fundadores e impulsionadores. Já destruir uma Escola é muito fácil. Reerguê-la custa imenso e pode nunca voltar a conseguir-se, tal como GÖttingen nunca recuperou o seu lugar cimeiro.
Foi, por tudo isso, incompreensível ver Portugal fechar em cadeia, ao extinguir os contratos de associação, escolas que eram, muitas delas, as melhores do concelho ou distrito onde serviam toda a população e não apenas filhos de pais ricos.
Vejamos o lugar de algumas dessas escolas nos rankings anteriores à sentença de morte aplicada em 2016:
Em 2016 justificou-se com poupança de dinheiro quando uma turma nestas escolas custava ao Estado 80.500 euros enquanto na escola “do outro lado da rua” custava ao Estado 103 mil euros em 2015 e custa hoje 136 mil euros.
Querer ver melhor para ver mais
Uma pessoa, uma organização ou um país medem-se pela qualidade do seu propósito. Portugal será grande se o seu propósito for a Escola.
Hoje nasceu em Portugal a Ana com potencial para chegar ao topo em alguma coisa (matemática, ténis, violino, treinadora de cavalos, pintora, seja o que for). Só o vai conseguir se em Portugal houver Escola na área do seu potencial. Terá sorte se tiver potencial para ser futebolista ou hoquista. Terá azar se o seu potencial for na maioria das outras áreas. Custa dizer. Mas custa muito mais não o fazer.
Portugal está a falhar com fragor aos futuros portugueses. Não por sermos poucos e nascermos com pouco potencial, mas por não termos a Escola que o desenvolva.
A imensa quantidade de disciplinas em que não ganhamos “medalhas” dá a medida inteira das Escolas que não temos. É o grito dos bebés com potencial comprometido a tentar acordar Portugal. Haja propósito. FazerEscola.
RESPOSTA 1 - Rui L.Maria
Companheiro
Para ganhar é necessário ter fome de ganhar, de lutar pelo prazer da vitória e não pelo lugar que dá acesso ao subsídio ou satisfaz o patrocinador. É o que faz a diferença.
Não me parece coerente admitir que o atleta não corra se não forem satisfeitas as suas exigências mais absurdas.
Ninguém ganha com a barriga cheia.
Quanto às escolas.
A destruição da massa crítica (deontologicamente coerente e sustentada) é o factor base para o esmagamento das memórias colectivas que sustentam uma nação.
Quando se tornam proscritos os bairros (as colectividades, as "tascas", os cafés tradicionais com o dominó e a sueca), as tertúlias e o polícia de giro, desumaniza-se a sociedade, fomentando o egocentrismo e, por estranho que pareça, a solidão. O cidadão deixa de ver e ouvir, de debater, de discutir com o vizinho. Resta a dependência do que lhe é transmitido através de jornalixo através de monitores.
Grave é que o fabiano aculturado (em que se tornou) não se apercebe da mudança, foi gradual, tal como na estória da rã e da água ao lume.
Por outro lado, encontram-se registos de numa reunião do governo nazi, quanto aos limites das medidas que poderiam ser aplicadas, Hitler teria mandado buscar uma galinha e depois, sucessivamente, arrancou-lhe tufos de penas, afastava-se dela e deixava cair uns bagos de milho. Mesmo já a sangrar a galinha teria continuado a segui-lo. E Hitler concluiu; basta atirar-lhe umas migalhas que eles continuarão a seguir-nos.
Creio que (pelo menos) alguns de nós ainda recordam axiomas como: "fomentem a cultura e fomentam a revolução" e afins.
E é suposto ser nos estabelecimentos de ensino que se inicia a aprendizagem, que deverá ser despertado o desejo de saber mais, de aprofundar e confirmar, de desenvolver o espírito crítico.
Quem aprende na escola actual o porquê de o facto científico (lato sensu) se sustentar na tese, na antítese e no experimento?
E o que isso significa?
E a ignorância da História determina a repetição do erro.
Acabar com as escolas com maior expressão de sucesso, da excelência possível neste rincão perdido a oeste fará assim tão pouco sentido?
O Churchill teria dito que um político se preocupa com eleições enquanto o estadista se preocupa com o futuro da nação.
TPC para este fim-de-semana, e que ajudará à reflexão do voto:
- Dá-me UM exemplo de estadista, em Portugal, no pós 24/04 de 74?
(E não venhas com o Sá Carneiro, mataram-no!)
RESPOSTA 2 - J.COELHO (a quem enviei, por engano)
Bom dia Luiz,
Sentado, no recato de um banco de avião, de regresso da Terceira para Lisboa, acabei de ler o artigo que me enviaste de um "tal Araújo".
Porque estava no ar e embora com manifesta perda do meu tempo, tornei a lê-lo uma vez mais para conseguir encontrar algo de interessante e coerente. Apesar do espírito cartesiano, aprecio os matemáticos e tenho lido bons artigos de muitos deles. Mas este "tal de Araújo" deixa mesmo muito a desejar... É novo, não pensa, e vai ter que estudar e viver muito mais tempo para poder melhor formular as questões. É mesmo e pobremente um "pavloliano".
"Quero chegar aqui e por tal, crio os fundamentos e as hipótese que me interessam"!
Mesmo pobre, Luiz.
Mas acredito que com a vida, possa crescer.
Talvez seja por isto, que alguns Portugueses, realmente não conseguem singrar!
A trapalhada das medalhas, dos resultados e das quantidade, é de deixar qualquer um de boca aberta, pelo menos a mim...
O "tal de Araújo" está todo baralhado, coitado! Será que é ou quer ser político!? Só pode! Porque de matemático, tem pouco... Mas pronto, vale o que vale e não é para perder muito mais tempo do que já perdi.
Presentemente o Mundo está cheio de analistas, comentadores, consultores, opinadores de simples clique de um dedo Googliano!
São os tempos da mudança...
Portugal continua a ser mesmo uma MARAVILHA que para além do mais, tem ainda a capacidade e a paciência de aceitar TODOS, e lhes permitir existência e opinião.
E ainda bem que assim é.
Somos sempre "os piores", "os da cauda", "os mais atrasados"! Não temos Nobel, artistas, filmes, universidades, gente inteligente, rankings, prémios, medalhas, e mais mil e uma coisas que todos os outros têm, menos nós coitados!
Somos mesmo muito maus!
Eu quero ser mau, mesmo muito mau.
Viva, viva, viva Portugal!
Realmente, não é nada fácil ser MARAVILHA!
Abraço
Jorge Coelho
P.S. Quando pousar, e certamente o vou conseguir, porque não estou a viajar na TAP, envio-te este email, se a rede em Portugal funcionar.
Rezemos
RESPOSTA 3 - JORGE SILVA
Olá, Luíz.
Perfeitamente de acordo em relação à noção de "Fazer Escola".
Talvez porque morreu Moniz Pereira e, não teve sucessores à sua altura, o atletismo de fundo português... foi-se.
Todavia penso que o jornalista em questão joga com as palavras e com a expressão " Da quantidade surge a qualidade"
Esta expressão deverá ser analisada com o trabalho de cada um e não com a quantidade de praticantes do que quer que seja.
Quanto mais tempo dedicares a uma actividade mais vais aperfeiçoar a tua "performance'' - a qualidade do teu trabalho.
Quantos mais exercícios de matemática fizeres, melhor vai ser a tua relação com a disciplina e melhor a tua nota no teste.
Quantos mais "escritos" produzires melhor será a tua escrita.
(Tens o exemplo da Isabel, quando embarcou na disciplina da escrita criativa e foi correspondendo aos exercícios propostos, melhor foi construindo a sua prosa, não aprendeu nada de novo, porque o professor não estava à sua altura, mas o facto de se "obrigar" a escrever, semanalmente, fez com que tivesse produzido trabalhos de muita qualidade.)
A quantidade de tempo que dedicamos a uma actividade, associada à contínua execução de exercícios, treinos, rotinas, apura inevitavelmente a qualidade do produto final.
O "sucesso" que tenho tido com a turma de escrita, prende-se com a entrega dos alunos à disciplina e a sua constante motivação para, semanalmente, escreverem.
E aqueles que mais produzem são os que têm obtido melhores resultados.
Um abraço.
Jorgesilva
RESPOSTA 4 - J. INFANTE
... grande artigo! Bem escrito!
RESPOSTA 5 - C. Heitor
Sim, Luiz, enviaste,
Não achei ofensivo, podemos concordar no todo ou em parte mas, ofensivo não foi.
Mas, em minha opinião toca num ponto de reflexão. A imprecisão que encontro prende-se com o facto de ter de ficar claro que Escola de Algo pressupõe que existam condições estruturais de treino (desportivo ou cognitivo) e condições de acolhimento (onde incluo, por exemplo, apoios de explicadores para que os alunos sejam fortemente enquadrados em atividades que não são o cerne do seu ponto forte (seja ele de índole desportiva ou de natureza cognitiva ou musical, etc, etc, etc).
Abraço
CH
RESPOSTA 6 - J.N.MELO
Eu não diria que há impertinência. Há sempre, contudo, em Portugal, a necessidade de não falar verdade com todas as palavras e essa é a nossa grande desgraça como país.
Grande abraço e tudo de bom.
RESPOSTA 7 - M. V. OLIVEIRA
Ora aqui está um artigo bem interessante e útil.
Felizmente que entretanto o Costa voltou a ganhar as eleições e, tendo deixado de haver empecilhos a impedi-lo de governar o país como ele gostaria,
de agora em diante vamos tornar-nos rapidamente num modelo de desenvolvimento que vai espantar todo o mundo.
O bom povo português deu mais uma lição de sabedoria, bendito seja.
Em Portugal, é mais antiga e mais continuada a hegemonia da Esquerda, também porque não temos entre nós, em força e evidência, as causas que, no resto da Europa, têm levado à reacção: a Leste, houve uma maciça vacinação contra a Esquerda, produto de décadas de comunismo; a Ocidente, há, por exemplo, em França, uma imigração de difícil integração nacional e, em Espanha, movimentos separatistas poderosos. Mas se o separatismo não existe por cá, as ideias simpáticas e levianas da regionalização, que agora renascem no Centrão, podem vir a trazer perturbações semelhantes; bem como a marginalização ética e legal de forças políticas que cumprem as regras do sistema.
Jaime Nogueira Pinto no Observador
Eis o dr. Costa, um mentiroso persistente e rude, crescido na manha partidária e estranho ao escrutínio. É, sem surpresas, tão prepotente quanto limitado, embora fiquem dúvidas sobre a consciência das limitações: ele tem noção daquilo que é ou, pelo contrário, julga de facto ser o que tenta, atabalhoadamente, parecer? Não sei. Não me interessa. Interessa que burgessos há muitos. Alguns, por desdita ou sarcasmo divino, alcançam uma posição susceptível de influenciar as nossas vidas. Não vale a pena notar que o resultado é calamitoso. ...Daqui a oito dias, o povo revelará o que quer. O que quer o povo? Uma parte quer a miséria na medida em que beneficia dela. Uma parte quer a miséria por recear as alternativas. Uma parte quer a miséria por não a reconhecer enquanto tal. E a parte que sobra não quer a miséria. Esperemos que, nas urnas, a parte que sobra exceda as três partes anteriores. Linhas vermelhas? A linha vermelha é exactamente a miséria, também conhecida por socialismo. É a psiquiatria, e não a História, a explicar o buraco a que descemos há 25 anos. E que repetimos há 15. E em que teimámos há 6. Por uma vez, se tivermos juizinho, a História é o que pode estar para vir. Difícil e modesto que seja, o que vier é preferível ao dr. Costa. Mais dr. Costa? Era o que faltava!
Alberto Gonçalves no Observador
(LBC - Cá vamos, cantando e rindo.
Viva este regime! Há 30 anos a votar "na maioria"!)
https://observador.pt/opiniao/e-o-meu-voto-foi-para-o-lixo/
E o meu voto foi para o lixo
No dia 30 de Janeiro o meu voto teve o custo de 150 euros e a perda de um dia inteiro em viagem. Será que a classe política deu mais um tiro no pé de modo a promover a abstenção?
19 fev 2022, 00:04
Vivo em Søndeborg, no sul da Dinamarca, junto à fronteira com a Alemanha. Para exercer o meu direito de voto tenho de me deslocar a Copenhaga, a capital, o que requer uma ida de comboio que dura quatro horas em cada sentido, perfazendo um total de oito difíceis horas de transportes públicos. Para não falar apenas no tempo, estas viagens têm ainda um custo elevado, mesmo que agendadas com antecedência. No dia 30 de Janeiro teve o custo de 150 euros e a perda de um dia inteiro para assinalar uma cruz no boletim de voto. E não é que, depois do tempo e dinheiro gastos, chegamos ao ponto de falta de organização em que se juntam votos válidos com votos inválidos, fazendo com que se tenha de repetir o processo todo?
Para se ter uma noção, uma viagem para Hamburgo, na Alemanha, é mais rápida e direta do que para a capital, na Dinamarca. Este detalhe, como é óbvio, não é da responsabilidade do governo português, porém, exponho estes dados com um objetivo: não seria inteligente, como forma de reduzir a abstenção nos diferentes círculos eleitorais, criar a possibilidade de escolher onde se exerce o direito de voto? Ou, melhor ainda, não seria mais inteligente e eficaz criar um método de voto tecnológico? Tanta propaganda, durante boa parte de 2021, sobre o PRR e as alocações para a digitalização, para quando então a chegada do boletim de voto ao século XXI?
Será que teremos a participação no círculo da Europa em igual número ou será que, uma vez mais, a classe política miserável deu mais um tiro no pé, de modo a promover a abstenção?
Isto é apenas o relato de uma pessoa, no meio de mais de 150 000 no círculo de Europa, que podem ter experienciado as mesmas coisas.
Dito isto, só resta uma pergunta a fazer: para quando uma alteração à lei eleitoral, com deficiências já apontadas por todos?
Receba um alerta sempre que Vasco Anciães Maia publique um novo artigo.
Seguir
Série de origem australiana, interessante, sobre uma casa de recuperação de doentes psiquiátricos.
Begin again (Laura Distasi)
https://www.youtube.com/watch?v=ouSiCn6PkOs
https://observador.pt/opiniao/donos-disto-tudo/
“Donos disto tudo”
O que distingue uma democracia liberal de outros regimes é aceitar, na competição legal pelo poder, todos os partidos votados pelos cidadãos. Mesmo os iliberais.
11 fev 2022, 00:20
O regime ou sistema democrático não é uma espécie de religião laica, com a transferência directa da infalibilidade do Deus do Ancien Règime – que pela Sua graça tornava sagradas as dinastias – para o conjunto dos cidadãos eleitores. É uma forma de governo que procura um modelo consensual, pacífico e ordeiro de institucionalizar a escolha dos representantes de uma comunidade nacional, de um povo.
A sua legitimidade não vem, assim, de uma qualquer superioridade ético-política, mágica ou misteriosa, de conteúdo revolucionário ou conservador; vem do facto de se socorrer de um processo histórico que, alicerçado na aceitação de determinadas regras de jogo e com base em princípios de liberdade de opinião e de respeito pela opinião dos outros, procura tornar governável o Estado. Como as opiniões são diferentes – excepto quanto à aceitação da prevalência da opinião maioritária – não pode haver descriminação de opiniões.
Os valores políticos, as normas de orientação colectiva, as regras sobre o público e o privado, o respeito pela vida, os usos e costumes permitidos ou punidos – são a expressão dos programas ou projectos políticos que os partidos admitidos a concurso, dentro da Constituição, propõem ou põem em discussão e levam a votos. Querer pôr este princípio em questão, é pôr em questão o regime democrático, é viciar o jogo, desencorajar a participação e corromper o sistema.
Vem isto a propósito da indignação, real ou simulada, em painéis de debate e discussão televisivos, contra um partido-pária que ousou apresentar como lema “Deus, Pátria, Família e Trabalho” – coisas, aparentemente, malditas, escandalosas e proscritas, por terem sido já o apanágio do “fascismo” doméstico do Estado Novo de Salazar.
Sobre a inutilidade da História das Ideias Políticas
A discussão sobre o “fascismo” do Estado Novo é uma discussão que não vale muito a pena ter, num caldo político, intelectual e social em que, por resignação, ignorância ou táctica, se aceita a palavra como sinónimo do antigo regime ou se esgrime como insulto indiferenciado.
De qualquer forma, o Manuel Lucena, que dava importância a coisas como a História das Ideias Políticas, tinha um argumento interessante e importante sobre o assunto, que talvez valha a pena aqui repetir: o Estado Novo tinha aspectos do fascismo-regime mas pouco ou nada tinha que ver com o fascismo-ideologia nem com o fascismo-movimento, até porque nascera da Ditadura Militar, e não de um movimento político revolucionário que disputara o poder nas ruas com comunistas e socialistas, fazendo depois da Marcha Sobre Roma um pacto com as forças conservadoras da sociedade italiana.
O Estado Novo resultara, primeiro, do fracasso dos seus antecessores, que tinham imposto um jugo oligárquico de 16 anos num quadro teoricamente liberal e “democrático”, mas que a violência tornara monopolista; depois, de uma vaga europeia autoritária, condicionada pela ameaça comunista; finalmente, de um contrato entre os militares, sem projecto político próprio, com Salazar, que tinha um projecto político. Há pontos comuns entre o projecto salazarista e o fascismo – o nacionalismo, o anti-parlamentarismo, o autoritarismo –, mas o fascismo (apesar da Concordata de Latrão) tinha um espírito nietzschiano, pagão, e era estatocrático, sendo o Partido, o PNF, um elemento essencial no poder e do poder. Bem ao contrário, o salazarismo era nacional-conservador e social-católico. Não pretendia, pela política, mudar a sociedade, mas antes mantê-la como estava. Pertencia à direita conservadora, enquanto o fascismo pertencia à direita revolucionária. Os fascistas – e Mussolini em particular – queriam, pelo menos ideológica e idealmente, “viver perigosamente”; Salazar queria que os portugueses vivessem habitualmente.
Assim também a União Nacional, ainda que fosse a única organização de cariz político permitida no Estado Novo, funcionava como uma mera plataforma para a selecção e apresentação de candidatos à Assembleia Nacional; era uma organização que, como tal, não riscava quase nada nas decisões políticas e à qual os ministros não tinham de pertencer. Ver o Estado Novo como um regime totalitário de partido único – como o hitlerismo, o fascismo italiano ou o comunismo soviético – é não ver ou falsear a realidade.
Deus, Pátria, Família, Liberdade, Igualdade, Fraternidade
“Deus, Pátria, Liberdade e Família” é uma divisa de Afonso Augusto Moreira Pena, o 6º Presidente do Brasil, entre 1906 e 1909. Pena era natural de Minas Gerais e distinguiu-se no movimento abolicionista. Foi várias vezes ministro durante o Império e um dos introdutores na República de um certo espírito tecnocrático e industrialista. Não terá sido propriamente um fascista, ou sequer um proto-fascista.
“Deus, Pátria, Liberdade e Família”, na versão de Pena, “Deus, Pátria e Família”, na versão salazarista, ou “Deus, Pátria, Família e Trabalho” na versão de André Ventura, são enunciados de valores políticos, nacionais e conservadores que, com esta enumeração ou outra, estão presentes na maioria dos ideários conservadores europeus e euroamericanos. Estes e outros valores proclamados – tais como Liberdade, Igualdade e Fraternidade ou Laicismo, Humanidade, Progresso, Socialismo (que têm uma bem mais longa e sangrenta história totalitária e de manipulação) – tanto podem ser defendidos autoritariamente, em ditadura, como podem ser defendidos democraticamente, em democracia.
Quando já não é proibido proibir
Achar que Deus, Pátria e Família é “fascista”, mesmo na pouco esclarecida qualificação do regime português, só pode resultar de ignorância ou táctica. Achar que, a partir de um centro enviesado à esquerda que se autoproclama democraticamente imaculado, podem traçar-se diabólicas linhas vermelhas para um lado e angélicos arco-íris inclusivos para o outro, é mau sinal. Achar que, independentemente da votação obtida, há um partido e um conjunto de eleitores que devem ser, à partida, excluídos da possibilidade consagrada pela praxe constitucional de ver eleito um candidato, “seja ele quem for”, a vice-presidente do Parlamento é, pela lógica do regime, indefensável. Achar natural que esse mesmo partido fique a um canto da Assembleia com orelhas de burro enquanto os “partidos de bem” avançam, cantando e rindo, para as “conversas em família” com o primeiro-ministro que quer falar com todos, é uma prática de discriminação aleatória que tem tudo para correr mal.
É esta narrativa e esta prática ideologicamente enviesada para aguentar no poder e defender os interesses dos que se assumem como “mais iguais que os outros” que começa a levantar cada vez mais dúvidas a cada vez mais pessoas. Afinal, o que distingue a democracia liberal dos outros regimes é a aceitação e integração, nas suas regras de jogo, de todas e quaisquer forças políticas que, independentemente dos valores que defendam, actuem pelas vias pacíficas e de acordo com as leis constitucionais e civis. Mesmo as iliberais.
Não creio, por isso, que o presente policiamento ideológico e as “linhas vermelhas” com que se procura segregar um partido e os seus eleitores vão sequer beneficiar quem está no poder e muito menos o regime. Limitam-se a expor sob uma luz cada vez mais crua a exemplar democraticidade dos que se acham “donos disto tudo”.
Viva o nosso futebolzito, as nossas claquezitas, os nossos dirigentezitos, a nossa cliquezita, os nossos canalhazitos, os nossos bandidozitos.
Enfim, viva portugalzito!
A charlatanice da acupuntura legitimada em tribunal
Artigo de opinião do David Marçal e meu que saiu há uma semana no Público:
Imagine alguém que vende torradeiras que não funcionam. E imagine ainda que essa pessoa vai frequentemente à televisão, onde os apresentadores se desfazem em sorrisos cúmplices. Que são postas a circular histórias de clientes satisfeitos. O vendedor dizia que a torradeira tinha um circuito eléctrico e que, portanto, havia um fundamento científico. Há muito que se sabia que essas torradeiras não funcionavam, uma vez que, dada a sua popularidade, se tinham feitos milhares de ensaios. Nestes, colocavam-se algumas fatias de pão nas tais torradeiras e um número igual de outras fatias iguais dentro de uma torradeira que funcionava. No final, comensais que não sabiam como tinham sido preparadas as fatias diziam se elas estavam torradas ou não. E as torradas nunca vinham das torradeiras que não funcionam.
Houve vozes dissonantes sobre as torradeiras que não funcionam. O vendedor, que tinha uma perna na política, teve então a brilhante ideia de convencer os seus aliados na política a aprovar legislação que regulamentava as torradeiras que não funcionam: apenas certas pessoas, a quem era passada uma certidão profissional é que as podiam vender. Estas tinham de ser licenciadas em torradeiras que não funcionam, cursos cujos conteúdos programáticos eram também definidos pelos políticos. Obviamente que assim seria mais difícil duvidar da eficácia do referido electrodoméstico.
Mas várias pessoas continuavam a insistir na falta de provas de que as torradeiras funcionavam. Uma deles em particular, na Internet, meio onde a cortesia não abunda, a dada altura presenteou o tal vendedor com epítetos como «charlatão» e «vigarista». O vendedor, escudado pela legislação aprovada, avançou para a justiça com queixa por difamação. Disse que sofreu danos, alegando mesmo ter perdido o apetite. E o tribunal, apesar de todas as provas de que aquelas torradeiras não funcionam, resolveu dar razão ao queixoso, condenando o tal individuo a pagar-lhe uma avultada indemnização.
A história, torradeiras à parte, é infelizmente verdadeira e aconteceu com o médico João Cerqueira, condenado a pagar uma indemnização de 15 mil euros ao praticante de acupunctura Pedro Choy.
A acupunctura é, de facto, uma torradeira avariada. Foram já feitos milhares de ensaios clínicos e centenas de revisões sistemáticas da literatura médica para avaliar tratamentos de acupunctura e as conclusões são uma de duas possibilidades: ou a acupunctura não mostrou eficácia terapêutica no tratamento de determinada doença; ou, nalguns casos, há indicações muito ligeiras da eficácia da acupunctura no tratamento de certa doença, mas os métodos são inadequados e as amostras demasiado pequenas. Isto inclui o tratamento da dor e o seu uso como método de anestesia (que não é possível, ao contrário do que Choy alegou no programa Prós e Contras de 1 de Abril de 2019). Aliás, se a acupunctura conseguisse apresentar provas das suas eficácia e segurança não necessitaria do favor da legislação especial: os seus tratamentos seriam aprovados como quaisquer outros. Mas o facto é que para nenhum tratamento de nenhuma terapia alternativa é exigida qualquer prova de eficácia para estar no mercado. E tudo isto tem consequências. Sabemos, por exemplo, que os doentes com cancros curáveis que também recorrem as terapias alternativas têm uma taxa de letalidade ao fim de sete anos muito superior aqueles que apenas recorrem a tratamentos convencionais.
O que é que podemos chamar a um «charlatão» quando não lhe podemos chamar «charlatão»? «Praticante de charlatanice»? «Adepto da charlatanice»? Segundo o Dicionário da Academia «charlatão» é um «indivíduo que vende drogas e mezinhas, atribuindo-lhes qualidades curativas que elas não possuem (...) Pessoa que proclama méritos ou qualidades que realmente não possui». «Charlatanice» é, segundo o mesmo dicionário, a «arte de explorar a credulidade das pessoas através de falsas doutrinas, teorias, promessas vãs...». O que é que se pode e deve chamar a um indivíduo que defende a teoria da terra plana, a homeopatia ou a acupunctura para «curar» a homossexualidade (sim, foi também isso que Choi fez)?
Porque, apesar de tudo, queremos acreditar na justiça, esperamos que este caso seja revisto na instância seguinte. Seria muito mau para a imagem da nossa justiça se a sentença proferida transitasse em julgado.
PS) Fomos testemunhas de defesa do médico João Cerqueira na única vez que, até hoje, cada um de nós foi chamado a um tribunal.
O PS é um desastre que os portugueses aplaudem
Não é voto útil: é voto convicto. Aos poucos, o PS tornou-se na entidade paternal – observem o espantoso trocadilho – dos pobres, de bolso e de espírito, que não se cansa de criar.
05 fev 2022, 00:21
Um carro despista-se na estrada, capota cinco vezes e termina reduzido às dimensões de uma bolsa da Hermès. Inesperadamente, o ocupante sai da bolsa, pelo próprio pé e intacto. A brigada de trânsito, que chegara entretanto, desatou a aplaudir. Depois, passou a inquirir o homem acerca dos méritos da sua condução: “Fantástico! O senhor automobilista estraçalhou o veículo com elevada precisão e saiu ileso. Que proeza admirável! Relate-nos, por favor e em detalhe, qual o método que utilizou no desenvolvimento de tão magnífico desastre”.
Lembrei-me desta história, que inventei agora, ao contemplar as análises babadas ao êxito da campanha do PS e à sua influência nos resultados do último Domingo. A campanha consistiu em: 1) o dr. Costa ser arrasado em debates, incluindo pelo infeliz dr. Rio; 2) o dr. Costa variar de opinião sobre objectivos e alianças três ocasiões por dia, ao sabor de sondagens esquizofrénicas; 3) o dr. Costa atribuir aos adversários propostas e propósitos falsos para depois criticá-los sem grande convicção. Em suma, a campanha foi um desastre, do qual o dr. Costa escapou com maioria absoluta. O dr. Costa não ganhou as “legislativas” graças à campanha, mas apesar dela. E o mesmo se aplica à governação.
Do nepotismo à inépcia, da corrupção à prepotência, nenhuma das conhecidas virtudes do PS parece incomodar o bom povo, ou uma parte suficiente do povo capaz de decidir eleições. Eis o ponto: entre aposentados, funcionários públicos e, reza a estatística, sujeitos com défice de literacia, o PS arregimentou a quantidade de gente suficiente para lhe garantir sucessivas vitórias nas urnas. Uns, habituados à penúria, agradecem os 10 euros que lhes adicionam directamente à reforma, e as lágrimas de felicidade não os deixam ver os 30 removidos por vias indirectas. Outros existem em rigorosa dependência da máquina socialista que tomou conta do Estado, pelo que não estão para arriscar perturbações. E os terceiros não carecem de justificação para engolir a demagogia que se tornou língua franca. A todos há que somar os respectivos familiares, que partilham a abundância.
Pobretes, mas alegretes: se o prof. Salazar se tivesse exposto ao voto popular, sairia provavelmente vencedor à conta desta exacta mistura de resistência à mudança e culto do atraso de vida. Toda a gente sabe que um quarto de século de governos PS nos empurrou para os fundilhos da Europa. Ninguém, ou quase ninguém, quer saber. Ninguém, ou quase ninguém, ambiciona os altos salários da Irlanda ou os baixos impostos da Estónia. Ninguém, ou quase ninguém, inveja a dinâmica empresarial dos EUA ou o escrutínio político da Dinamarca. Isso é muito bonito, mas não compensa o sossego em que repousa o nosso querido país – um digno esforço de legitimação de quem julga que a riqueza e a autonomia dos cidadãos implicam insurreições diárias, cadáveres a apodrecer nas ruas e, pior, cafezinho, vinhinho e bacalhauzinho bastante inferiores aos daqui. Mais a TAP, o SNS e a RTP, de longe os melhores do mundo.
É extraordinário impor e manter estes padrões de alienação e clausura mentais numa época saturada de informação. O PS e, em particular, o PS do dr. Costa conseguiram-no, e a subjugação bolivariana dos noticiários não esgota as explicações. Uma maioria – eleitoral e “absoluta” – de portugueses está de facto convencida da sorte que tem em ser guiada por uma personalidade sem paralelo nem vergonha. Lá fora, as trevas. Cá dentro, a luz, merecidamente das mais caras da Europa. Na luz, na água, na gasolina e no que calha pagamos imenso para desfrutar de uma maravilha que não tem preço (ai tem, tem): um Estado ilimitado, inviável e inútil. O Estado não nos serve de nada, nós servimos-lhe tudo. E agradecemos de seguida.
Perante isto, não admira que o eleitorado dos partidos comunistas tenha corrido para abraçar o PS. O PS, que em tempos imemoriais combateu o comunismo, hoje assumiu os seus princípios, apenas mitigados pela “Europa” e pelos dinheiros da “Europa”. Para quê desperdiçar uma cruzinha no PCP ou no BE se, de chofre, se pode entregar o poder a um partido estatista, que estrangula a economia, fuzila as liberdades e de brinde garante que, fora da nomenklatura, as pessoas ficam condenadas a uma subsistência medíocre e dócil? Não é voto útil: é voto convicto. Aos poucos, o PS tornou-se na entidade paternal – observem o espantoso trocadilho – dos pobres, de bolso e de espírito, que não se cansa de criar.
No acidente que referi acima, faltou dizer que o carro transportava passageiros. E que, antes de morrerem nos destroços, todos gritaram “vivas!” ao habilidoso condutor.