Chapeau a esta entrevista!
(Ana Paula Vitorino)
“Detesto sonsos e manhosos autocentrados”
Público • Quinta-feira, 25 de Agosto de 2022 • 47
Qual a sua ideia de felicidade
perfeita?
Há momentos em que sinto uma
felicidade imensa que me enche a
alma, pode ser uma paisagem,
uma música, um estar a dois ou
uma coisa muito boa que
aconteceu no mundo.
Qual é o seu maior medo?
É não conseguir estar à altura do
que as minhas pessoas precisam de
mim.
Na sua personalidade, que
característica mais a irrita?
É a incapacidade de desistir de
alguém ou de alguma coisa quando
está na cara que é um caso
perdido.
E qual o traço de personalidade
que mais a irrita nos outros?
Desonestidade, falta de carácter e
incapacidade de pensar além do
próprio umbigo. Detesto sonsos e
manhosos autocentrados.
Que pessoa viva mais admira? Além do meu companheiro e dos meus irmãos (e do meu pai, que nos deixou há poucos dias), todos aqueles que dedicam as suas vidas a lutar pela liberdade e pela igualdade e ao combate à miséria.
Qual a sua maior extravagância?
Pensar que quando for rica vou
viver numa casinha à beira-mar,
aprender a pescar, tratar das rosas
elerapenascomaluzdodia.O
problema é chegar a rica...
Qual o seu estado de espírito
neste momento?
Serenidade pessoal, mas um forte
sobressalto e apreensão pelo
estado em que vai o mundo.
Qual a virtude que pensa estar
sobrevalorizada?
Não me parece que sejam
sobrevalorizadas virtudes, mas
considero que cada vez mais se
aposta em estereótipos do género “jovens, belos, airosos e
dinâmicos”, de preferência com
uma quedazinha para a
insensibilidade social.
Em que ocasiões mente?
Não tenho queda absolutamente
nenhuma para mentir e detesto a
mentira. Às vezes, penso que
tenho uma ligação directa coração,
cabeça e boca...
O que menos gosta na sua
aparência física?
Não posso informar! Respondo
daqui a menos 30kg. Mas gosto das
minhas rugas e dos cabelos
brancos.
Entre as pessoas vivas, qual a
que mais despreza?
Não é uma questão de desprezo,
entendo que há pessoas que já
causaram muito mal ao mundo,
tais como Putin, Trump,
Bolsonaro, Kim Jong-un ...
Qual a qualidade que mais
admira numa pessoa?
Coragem, integridade, lealdade e
genuinidade. E se juntar sentido de
humor fica perfeita!
Diga uma palavra — ou frase — que use com muita frequência Não posso dizer, mas uso outras como “não vamos deitar a toalha ao chão”, “vamos fazer acontecer” e “o céu é o limite”.
O quê ou que méo maior amor
da sua vida?
Em planos diferentes, o meu
companheiro Eduardo, os meus
pais, que já faleceram, os meus
irmãos e... o mar.
Onde e quando se sente mais
feliz?
A fazer coisas de que gosto, quer
no trabalho, quer a tratar das
minhas rosas e das minhas árvores,
quer a cozinhar com os amigos,
quer a olhar para o horizonte no
silêncio da paisagem.
Ana Paula Vitorino
Presidente da AMT
Que talento não tem e gostaria
de ter?
Adoraria saber cantar.
Se pudesse mudar alguma coisa em si, o que é que seria? Controlaria a insatisfação e curiosidade permanentes que geram o desassossego de querer sempre e sempre fazer mais, ir mais longe, descobrir novos caminhos. É tudo muito bom, mas é muito cansativo...
O que considera ter sido a sua
maior realização?
A construção de uma vida muito
feliz e de uma carreira digna e
preenchida que orgulhou os meus
pais.
Se houvesse vida depois da
morte, quem ou o quê gostaria
de ser?
A mulher que sou, mas com mais
poder para eliminar injustiças e
minimizar o sofrimento em todas
as partes do mundo.
Onde prefere morar?
Onde estiver o meu coração.
Qual o seu maior tesouro?
As minhas pessoas.O que considera ser o cúmulo
da miséria?
A pobreza sem esperança nem
saúde.
Qual a sua ocupação favorita?
Lançar projectos inovadores e
fazer bolos.
A sua característica mais marcante?
Determinação e força para ir em
frente, mesmo contra todas as
adversidades.
O que mais valoriza nos amigos?
Serem amigos e estarem lá.
Quem são os seus escritores
favoritos?
Mikhail Cholokhov, Dostoiévski,
Oscar Wilde, George Orwell, John
Steinbeck, Vergílio Ferreira, Lídia
Jorge e, pelas minhas raízes
moçambicanas, Mia Couto e
Paulina Chiziane. E Pessoa,
Sophia, O’Neill, Ruy Belo,
Herberto Helder... sempre!
Quem é o seu herói de acção?
Corto Maltese, pelo mar e pelo
aventureirismo romântico.
Com que figura histórica mais se identifica?
Nelson Mandela é uma grande referência. Mas também me identifico com com a determinação feminina da Padeira de Aljubarrota!
Quem são os seus heróis na vida
real?
Aquelas mulheres que todos os
dias de madrugada apanham
comboios e metros, com um lho
pela mão e outro ao colo e vários
sacos, para irem trabalhar num
emprego em que o salário mal dá
para sustentar a família.
Quais os nomes próprios de que
mais gosta?
Rita e José.
Qual o seu maior arrependimento?
Não ter tido filhos nem adoptado
uma criança.
Como gostaria de morrer?
Com serenidade e não criando
sofrimento às minhas pessoas.
Qual o seu lema de vida? Sempre para a frente, aprendendo com os erros e fazendo o melhor que puder.
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