domingo, 6 de novembro de 2022

Reflexão - LBC (carta a dr. João Olias)

(mail enviado ao prof. João Olias em 24.11.2012, depois de me ter feito uma estapadectomia ao ouvido esquerdo, no Hosp. Cascais) 

Olá Professor João Olias.


Não sei como se escreve uma carta destas. Nunca o fiz, apesar de já ter pensado fazê-lo ao pediatra dos meus filhos, médico que os acompanhou ao longo de cerca de 25 anos.

Sei porque a pensei. Sei o que me move, sei o que sinto para consigo, depois do que, há exactamente um ano fez, e do que foi a primeira intervenção cirúrgica (acho que uma colonoscopia, mesmo com anestesia geral, "não conta"...) por que passei.
E passando um ano sobre "a efeméride", aqui vai.

Uma pessoa que não fazendo parte integrante da nossa vida, e desempenhando o papel que o professor João Olias desempenhou, não nos pode passar despercebido, mesmo tendo-nos visto em três ou quatro consultas de 15 minutos cada ( a operação não conta...)
Certo de que não me salvou a vida; "apenas me substituiu uma peça". 
Mas o princípio é, no meu humilde conceito, o mesmo; e esse é que é o mais importante. 
Ninguém, como os médicos, tem a suprema responsabilidade de lidar com a saúde, e com a vida dos outros, no tipo muito particular de relacionamento biunívoco que se estabelece entre médico e doente.
A descaracterização da responsabilidade que existe na engenharia, quando acontece um desastre com perda de inúmeras vidas, com o desconhecimento das "caras" de quem perece, não se compara, por muitas razões que se invoquem, à da Medicina. 

As caras do médico e do paciente conhecem-se.

Nos tempos que correm, em que os sãos relacionamentos foram substituídos pelo interesse e pela ganância, encontrarmos alguém que nos ajudou a ultrapassar um problema de saúde, com o profissionalismo, o desinteresse económico, mas sobretudo com a humildade e o low-profile que patenteou, fazem-me acreditar na esperança que os meus filhos, longe deste cantinho, insistem em ter nesta sociedade; na portuguesa, entenda-se...

Não vejo forma de lhe retribuir, o que me é impossível de retribuir.
Estará naturalmente habituado a este tipo de "verbalização", por vezes, quem sabe, inclusivamente escrita. 
Lamento se lhe roubei mais algum do seu tempo.
Há já algum tempo que "carrego" esta obrigação, mas por uma ou outra razão, nunca o concretizei.
Apenas lhe quis agradecer o que fez.
Obrigado Professor.

Luiz Boavida Carvalho

PS- Claro que, caso necessite de algo ligado à minha profissão, e que seja da minha profissão (engenheiro civil), e da minha especialidade na Ordem (gestão da Construção), e reiterando o facto de não querer comparar aquilo que me fez, àquilo que eventualmente eu possa vir a fazer, estarei à sua disposição.


Luiz Boavida Carvalho

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