(sublinhados meus)
(Rui Costa in Observador em 25.05.2024)
“Este ano efetivamente houve coisas que não correram como esperávamos e desejávamos, acabámos a temporada aquém do que eram as expectativas iniciais mas não faço nem nunca farei deste treinador um bode expiatório porque não foi o único responsável. Terá as suas responsabilidades também, como é óbvio e inerente, mas não é o único responsável de todo e o que nos importa agora é criar as condições necessárias e internas para que ele possa fazer o mesmo trabalho que fez há um ano e é com ele que tenho a máxima convicção de que iremos conquistar títulos no próximo ano. E é nesse sentido que já estamos a trabalhar há imenso tempo, para emendar o que não foi bem feito este ano e para que possamos entrar na próxima época da mesma forma que entrámos há um ano”, acrescentou a esse propósito.
“Se considerássemos que a responsabilidade e a época não tão positiva como há um ano tivesse sido meramente da responsabilidade de Roger Schmidt, talvez a situação seria outra. Este ano, e não vale a pena esconder, não tivemos o mesmo acerto em termos do input que demos à equipa. Este ano não conseguimos ter o mesmo sucesso, sobretudo imediato, face à adaptação de jogadores. Há um ano, se bem se recordam, praticamente desde a primeira jornada Roger Schmidt acertou no onze que foi andando durante a época toda. Este ano tivemos vários problemas para resolver desde o início até ao final da época e aqui considero que não seja meramente culpa de Schmidt. O trabalho foi feito em conjunto. Há coisas que não correram bem, não acertámos e temos que assumir. Eu assumo essa responsabilidade”, destacou Rui Costa.
“É um treinador que trabalha com o Benfica de corpo e alma. Vocês ao longo deste tempo foram anunciando até alguns clubes que o podiam pretender. É uma pessoa muito honesta e se o próprio não considerasse ter condições para fazer o trabalho que esperamos e que acreditamos que venha a ser feito, acredito que até tivesse sido o próprio a assumir isso. Para quem trabalha com ele diariamente, convive com ele e para quem consegue perceber a paixão e entrega que tem com este clube e trabalhando diretamente com a equipa, do comportamento que tem para com os jogadores e os jogadores para com ele, confiamos plenamente que ele terá todas as condições para fazer um bom trabalho”, prosseguiu ainda na parte sobre o técnico alemão.
“O que aconteceu há um ano, de chegar ao Benfica desconhecendo todos os jogadores e ter feito o trabalho que desenvolveu não pode ser obra do acaso, não pode ser casualidade. Conhecemos o valor deste treinador e entendemos que, para dar estabilidade ao clube e à equipa, o Benfica não pode constantemente, assim que não ganha o Campeonato, mudar tudo o que está envolvido, fazer quase um reset de tudo. Não significa que o facto de eu considerar que a estabilidade passa pela manutenção do treinador seja ad aeternum. Com tudo o que foi feito nestes dois anos, uma remodelação quase completa do futebol profissional do Benfica, temos de reconhecer que este não correu na perfeição, emendar os erros, proporcionar ao treinador que possa ter em mãos o que não teve este ano e muitas vezes teve de improvisar ainda até prejudicado com isso. É raro um treinador que está num clube e prefere, mesmo em termos comunicativos, ser prejudicado e dar a cara em vez de atacar o clube por esta ou aquela razão”, voltou a reforçar o número 1 dos encarnados.
“Os novos jogadores não tiveram o mesmo impacto do ano passado e isso acabou por ser muito prejudicial. Nomeadamente nas laterais, onde acabámos por não conseguir colmatar a saída de um jogador tão importante como o Grimaldo, em várias posições oscilámos. Não passou unicamente por Roger Schmidt a ausência de títulos ou uma época menos conseguida. Seria muito fácil e mais populista mudar de treinador e partirmos para uma era nova. A troca de treinador seria mais fácil, mais ágil, mais populista mas a pergunta que faço é: se as coisas não começassem a correr bem com o treinador que viesse, alterava alguma coisa ao que é a exigência do clube? Não acredito, conheço muito bem o clube. É preciso de uma vez por todos pensarmos que não podemos começar projetos do zero anualmente, mudando tudo e mais alguma coisa”, especificou Rui Costa, nessa fase inicial em que abordou a continuidade do técnico germânico.
“Partimos para a época com dois laterais esquerdos, um lateral direito um joker, o Fredrik [Aursnes]. Joga bem em qualquer posição. Tivemos um problema de adaptação imediata de Jurásek, percebemos que estava a demorar a adaptar-se à responsabilidade de jogar no Benfica mas não deixámos de ir buscar um jogador que vinha credenciado, como é Bernat. Nunca tivemos Bernat. Chega com mais cartel do que aquele com que Grimaldo sai do Benfica. O que acontece é que, não tendo Bernat quase no ano inteiro, fustigado com lesões raras na carreira dele, entre elas uma lesão grave, ficamos sem lateral esquerdo. Estivemos grande parte da época sem os laterais de raiz, quer de um lado quer do outro, e Schmidt teve de acabar por improvisar. É um erro crasso, assumido. Seria mais fácil para mim dizer: tive lesões daqui, lesões dali, o que podia fazer? Se calhar devíamos ter feito mais. Obrigámos o nosso treinador a ter de improvisar muitas vezes”, aferiu.
“Acredito que este ano tenha sido um ano de grande frustração pelo facto de as expectativas terem sido bem altas. Éramos campeões nacionais e começámos a época com as expectativas lá em cima. Começámos por ganhar a Supertaça, tínhamos reforços de peso que nos permitiam pensar que a época fosse mais gloriosa e houve uma frustração grande da parte dos nossos adeptos dentro da exigência que é natural num clube como o Benfica. Houve exibições que não agradaram, que não satisfizeram e elevaram a crítica. Crítica que respeito, contestação que respeito, como é óbvio, mau era se assim não fosse. Mas como disse Roger Schmidt, é evidente que quem está nesta posição, dentro de campo, como treinador, o que pretende para o clube é que o clube esteja unido. Mas vamos partir para uma época nova e tenho a certeza absoluta que não há um benfiquista que não queira começar bem, a lutar pelo título. É um apelo”, apontou.
“José Mourinho? Quem disser, em qualquer clube do mundo, que não pensa em planos B, C ou D, ou não está a fazer bem o seu papel ou está a mentir. Mesmo com a minha convicção que Roger Schmidt é o melhor treinador para o Benfica neste momento, e não arredo pé disso até prova em contrário, tinha preparado um plano B, C e D. Nunca falei com José Mourinho. Houve uma altura em que foi ver jogos do Benfica e que se começou a julgar que pudesse ser o próximo treinador do Benfica. Nunca falei com José Mourinho, nunca tive uma abordagem como tal”, admitiu também Rui Costa sobre o técnico português.
“Kökçü? Se me perguntarem pessoalmente, digo que gosto ainda mais dele hoje do que o que gostava há um ano quando o vi. É um jogador com características fantásticas, qualidade e que não conseguiu expressar ao máximo o seu potencial. É inequívoco e que todos consideram que Kökçü é um jogador de nível elevadíssimo. Tanto joga a 8 como a 10, são posições que conhece na perfeição. E naquele momento, independentemente da entrevista, não era aqui que estavam as lacunas do Benfica. Vlachodimos? Deu-nos muito e tenho todo o respeito por ele. A ideia era ficar com Trubin, com o Samuel [Soares] e com o Vlachodimos mas para acabar com um problema que pudesse ser criado mais para a frente, se chegasse uma proposta, como chegou, que o melhor para ambas as partes, era ele aproveitar essa oportunidade e sair”, explicou Rui Costa.
“Não é normal numa equipa como o Benfica o ponta de lança não ultrapassar os dez golos numa época. Também foi um problema que sentimos na equipa e por isso essas tais rotações de avançados à procura da melhor solução. Recordo que o Darwin quando chegou ao Benfica, o primeiro ano não foi tão produtivo como o segundo. O próprio Gonçalo Ramos quando partiu para a época passada como titular a número 9 havia muitas dúvidas. É uma exigência muito grande jogar neste clube e há posições muito críticas, esta é uma delas. Foi um dos problemas que tivemos neste ano, os golos da nossa estrutura atacante para não ser de um jogador só. Foi uma lacuna que tivemos e que prejudicou o resultado global dos objetivos que tínhamos para a época. Não estou em condições hoje de vos dizer quem sai ou quem não sai, estou em condições de vos dizer que a equipa será reforçada para ser muito mais forte do que aquilo que foi neste ano”, comentou ainda o líder dos encarnados, referindo que não pode nesta fase dizer se Di María vai ficar ou não mas garantindo que todos os alvos estão identificados e que existirão também vários jogadores cobiçados.
“O Álvaro [Carreras] está confirmado, é mais um daqueles talentos em que temos muita esperança de que tenha uma carreira muito digna. O Leandro [Barreiro] também é jogador do Benfica. É um médio muito rotativo, muito dinâmico e vem completar o meio-campo, um espaço que nos faltava. Mais uma solução no meio-campo. Com uma produtividade muito grande, uma capacidade física elevada, qualidade técnica fiável para jogar no Benfica e temos esperança de que seja um grande elemento”, confirmou.
(Reflexão - LBC, antes desta entrevista!)
Penso que o que se está a passar com muitos adeptos do clube, a propósito do treinador Roger Schmidt é, uma vez mais, ridículo e não abona, pela dimensão, a favor do nome daquela Instituição. A rapidez com que, semana após semana, se passa de um modo estriónico para o modo soft, por um resultado positivo, ajuda a esclarecer como se vive, "desequilibradamente" esclareça-se, o futebol, neste caso neste clube. Uma forma muito particular da manifestação "bipolar".
Por ser alemão, por me parecer ser uma pessoa de bem e por ter uma coragem e uma frontalidade inusual, gosto do Roger Schmidt. Não percebo de futebol nem sei se ele percebe. O que eu oiço é, semana após semana, os apaniguados do clube, ora invectivarem-no por um resultado menos bom, ora calarem-se por um resultado positivo. E isto a uma velocidade e com uma incoerência que deixa qualquer alminha mais equilibrada, de queixo no chão. E quando o oiço a aconselhar que os adeptos que injuriam a equipa fiquem em casa, aplaudo desassombradamente! Tem o meu total apoio: que fiquem em casa. Estes e todos os adeptos de todos os clubes que não sabem o que é desporto, o que é ganhar ou perder.
(Esta atitude poderia, no entanto, desencadear uma outra particularidade nacional que Roger Schmidt não conhece...)
Então na semana passada empataram e não sabia mexer na equipa, e esta semana ganharam e já sabe mexer? Então no ano passado ele foi campeão e tudo eram ossanas (não se ouviam críticas - eu não ouvi!), e este ano é um inútil?
Não se entende. Bem,... se calhar, entende-se. Uma maioria significativa de adeptos, mais inconformados (para ser educado), devem-se julgar sozinhos no campeonato. Deveriam ganhar, sempre! Não há adversários. Ou não deveria haver...
O problema é que há. Há outros clubes e cada vez mais o equilíbrio impera. E é esta realidade que, parece, esses adeptos, neste momento do tempo, não querem assumir.
A competição é isso mesmo. Existe por haver outros. Uma vez ganham uns, outra vez ganham outros.
Difícil? Pela realidade que vivo e sinto mais perto de mim, yes, definitely!...
Concordo e aceito que o normal é: uma vez ganham uns outra vez ganham outros. Mas quando as expectativas são altas e estamos perante o maior clube de Portugal é normal subirem as exigências.
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