sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Reflexão - O rigor mortis da BBC (Alberto Gonçalves)

 

(sublinhados pessoais)

O rigor mortis da BBC

O problema não se esgota na BBC, no fundo um (grande) rolamento numa monumental traquitana de falcatruas. O problema é os “media” terem decidido que lhes compete educar as massas.

Sabiam que, em 2014, a BBC relatou as violações de Rotherham chamando aos muçulmanos paquistaneses que as perpetraram “gangues asiáticos”? Sabiam que, em 2024, a BBC revelou uma discriminação racial no preço do seguro dos carros que afinal não existia? Sabiam que, em 2008, a BBC censurou uma ligeiríssima alusão a Maomé (e à montanha) na série “Blackadder” enquanto permitia abundantes piadas alusivas ao cristianismo? Sabiam que, em 2025, a BBC transmitiu um documentário sobre Gaza em que o narrador era filho de um dirigente do Hamas? Sabiam que, de 2023 a 2025, a BBC evitou reportagens que pudessem beliscar o movimento “trans”? Sabiam que, em 2012, a BBC acusou um “lord” conservador de abusar sexualmente de crianças em “contexto de racismo” e em que o desgraçado era completamente inocente? Sabiam que, em 2014, a BBC eliminou do programa “Free Speech” (ai, a ironia pesada) a questão “Será possível ser muçulmano e gay?” Sabiam que, em 2020 e 2021, a BBC calou, distorceu, exagerou e, sim, mentiu em tudo o que pôde de modo a alimentar a cantilena oficial em volta da Covid? Sabiam que, em 2012, a BBC produziu uma história acerca do “racismo estrutural” no futebol europeu através de manipulação de dados com “racistas” interpretados por figurantes? Sabiam que, em Julho de 2024 e em Novembro de 2025, a BBC repreendeu formalmente duas “pivots” que exibiram desdém pela expressão “pessoas que engravidam”? Sabiam que, em 2021, a BBC cobriu o assalto anti-semita a um autocarro em Londres e apresentou como “atenuante” (?) o pormenor de o áudio do incidente incluir “insultos anti-muçulmanos”, de facto o som de uma criança judia a gritar por socorro em hebraico? Sabiam que, em 2022 e com repetição em 2024, a BBC mutilou severamente um discurso de Donald Trump para dar a entender que ele apelara à invasão do Capitólio?

Desta última manigância vocês sabiam. E sabem quem sabia de todas, estas e outras, desde sempre, embora fingissem o contrário? As cúpulas e as tutelas da BBC. O estratagema é similar vai para 20 anos, pelo menos. A BBC falsifica notícias, inventa “casos”, difunde patranhas convenientes às “causas” que serve, suprime informação comprometedora para essas “causas” e, em suma, esforça-se por aldrabar tanto quanto possível os espectadores que, por ingenuidade ou perversão, ainda consomem semelhante miséria.

Se uma determinada aldrabice suscita excessivo escândalo, a BBC invariavelmente adopta o código de honra do larápio que só se arrepende quando o roubo é descoberto. Primeiro, lança um pedido de desculpas mais esfarrapado que as bandeiras portuguesas após o Euro 2004. De seguida, demite ou aceita a demissão de um director ou dois e troca-os por criaturas igualmente devotas ao viés em voga e empenhadas em perpetuar a fraude, uma fraude que anualmente custa seis mil milhões, e que, de tão preocupada em não ofender “sensibilidades”, ofende brutalmente o bom senso.

Sucede que, por incúria do Todo Poderoso, o bom senso não é distribuído com equidade – o bom senso e a vergonha na cara. Mesmo confrontada com a infantil truncagem do discurso de Trump, houve muita gente a relativizar o episódio, que em última instância não teria passado de um erro jornalístico ou, vá lá, de um exemplo reprovável e inconsequente de mau jornalismo. Até eu, que levo a sério o Efeito Borboleta, acho extraordinário acreditar-se que colar frases soltas e escolhidas à medida do que se pretendia dizer que Trump disse é um “erro”, no sentido de lapso. E acho abusivo que se fale em “mau jornalismo”. O que a BBC tem andado a fazer, com Trump, Gaza, o “racismo”, o Islão, o “transgenderismo” e o que lhe apetece, não é nada que se pareça com jornalismo, bom, sofrível, mau ou péssimo. Aquilo é propaganda, o exacto tipo de propaganda que se espera das televisões da Venezuela, de Cuba e da Rússia. E que já ninguém se espanta por encontrar nas televisões do Reino Unido e do Ocidente em geral.

Claro que hoje o problema não se esgota na BBC, no fundo um (grande) rolamento numa monumental traquitana de falcatruas. O problema também não se prende com o engajamento ideológico dos “media”, que era comum com maior ou menor franqueza à direita e à esquerda e ao centro. O problema é os “media”, quase todos os “media”, terem decidido que lhes compete educar as massas, e educá-las num sentido bastante específico, invariavelmente subjugado às directivas dos governos que, com raras e odiadas excepções, mandam na Europa e arredores. É possível discutir quem manda nos governos. É impossível negar que, por fragilidade, anacronismo e ideologia, o “quarto poder” aliou-se aos restantes e, em vez de escrutínio, desatou a promover a bajulice. Uma considerável parte dos jornalistas actuais não são jornalistas, mas cortesãos.

E se os “jornalistas” defendem a corte, é natural que a corte ampare os “jornalistas”. Em ambas as esferas, já demasiado misturadas, adoptou-se esta semana a cartilha habitual com o habitual descaramento: a BBC e o jornalismo e a democracia e quiçá o sistema solar estão sob ataque cerrado de “radicais”, fatalmente de “extrema-direita”. Por sorte, temos os moderados para nos proteger – da “desinformação” e do resto.

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