A. R. Ferreira
Continuem que vão muito longe. Continuem a disfarçar, a assobiar para o lado, a inventar polémicas sobre tudo e sobre nada que a realidade, essa, não muda por milagre e vai cair violentamente em cima das vossas cabecinhas, quer queiram quer não. Vale a pena recordar uma coisa importante antes da discussão suprema sobre a terça-feira de Carnaval. A dívida de Portugal é a terceira maior da União Europeia e atingiu no final do ano passado 110% do PIB. Agora sim, vale a pena chorar e muito, não só sobre esta obscenidade mas também a fazer contas aos muitos milhões de milhões que esta calamidade irá custar a esta e à outra geração de lusitanos que teve a desgraçada infelicidade de nascer em Portugal. Vale a pena recordar outra coisa importante antes de se indignarem com as pieguices do senhor primeiro-ministro. As exportações portugueses não chegam aos 35% do PIB, uma miséria comparada com a média europeia. Uma calamidade que não se resolve por decreto e que só com muito investimento privado, nacional ou estrangeiro, se consegue ultrapassar. E não só são precisos muitos anos como é preciso criar condições para convencer quem tem dinheiro e projectos a investir em Portugal. Nomeadamente nos custos do trabalho, na fiscalidade, na burocracia do Estado, na justiça e na corrupção. Vale a pena recordar também, antes de se indignarem com o fim dos feriados do 5 de Outubro e quejandos, que a economia portuguesa estagnou na primeira década do século e segue pelo mesmo caminho na segunda. E não se esqueçam, indignados, queixinhas e manhosos da pátria, que só há criação de emprego quando a economia crescer acima de 2 por cento. Abaixo deste valor há estagnação ou continuará a perda irreparável de postos de trabalho. Antes de ficarem muito zangados com o custe o que custar de Pedro Passos Coelho, vale a pena recordar que o défice das contas do Estado é escandaloso e que é preciso cortar a sério e de forma estrutural a despesa pública. Custa muito, mas tem de ser. E não vale a pena andarem por aí a chorar pelo Serviço Nacional de Saúde e pela educação pública. O Estado vai ter de reduzir o défice à bruta, não gastar mais do que arrecada em impostos, isto é, tem de passar a ser uma pessoa de bem. E antes de inventarem uma nova polémica para disfarçarem a triste e violenta realidade do país, vale a pena recordar o que disse ontem um alto responsável da União Europeia, nada mais nada menos que o presidente do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, o famoso FEEF: os países do Sul da Europa, onde Portugal se situa, seus manhosos, têm de reduzir o seu nível de vida nos próximos anos. É isto que vai acontecer, seus queixinhas muito indignados com as pieguices do senhor primeiro-ministro, com o fim de uns desfiles pindéricos tão frequentados pela elite manhosa da pátria e pelo fim dos magníficos feriados que ninguém comemorava. Pois é. A vidinha está difícil, muito difícil. A festa acabou e agora ninguém sabe o que irá acontecer no futuro. Mas não há necessidade, piegas lusitanos, de inventarem polémicas ou desculpas. Isto ou vai ou racha. E provavelmente vai rachar. Sorry.
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