A televisão generalista deixou de ter conversas. Ou, pelo menos, conversas que me interessem. Tem pequenas ou médias entrevistas de atualidade e tem as conversas dos convidados de talk shows, em segmentos rápidos e sem grande profundidade. As poucas exceções estão na RTP2 e ao fim de semana à hora do almoço, com o Só Visto! (RTP) e, sobretudo, com o Alta Definição (SIC).De resto, é no cabo que tudo acontece. É no cabo que há vontade de voltar à base da comunicação, é no cabo que há tempo para respirar. É fácil percebermos: um hambúrguer de fast food, por mais prazer que nos possa dar em alguns momentos, não é o mesmoque uma refeição emque conversamos e fruímos da companhia e do prazer das palavras. É no cabo que encontramos esse pedacinho de televisão gourmet. Não é preciso muito dinheiro. Às vezes basta uma mesa, dois cadeirões, uma cortina preta ou, vá lá, um cenário virtual. Tudo o resto é um mano a mano,é a vontade de conhecer, de aprender. É o prazer de ouvir, de partilhar. É a capacidade de ter tempo para ir ao passado e perceber origens esquecidas. É a capacidade de saber entrar na pele do outro, abrir-lhe o coração, ler-lhe o pensamento. Quem gosta desse pingue--pongue sabe do que falo. Quem gosta disso tem de gostar da argúcia de Aurélio Gomes em Baseado numa história verídica e da inteligência de Nuno Artur Silva, em Nas Nuvens (ambos no canal Q), na simplicidade que Adelaide Sousa tinha no Entre Nós (SIC Mulher), na serenidade das perguntas de José Eduardo Fialho Gouveia no Bairro Alto (RTP2) ou na curiosidade ritmada que Anabela Mota Ribeiro tem de voltar a partilhar na televisão. Eu tenho saudades dessa televisão.
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