sábado, 2 de agosto de 2014

Reflexão-Maria Fátima Bonifácio

 

O nosso governo não dispõe desta vantagem, como se tem visto, enleado como vive por constrangimentos constitucionais e desapoiado por um semi-presidencialismo que paralisa o Presidente da República. Reformar Portugal torna-se assim mais difícil, pelo imobilismo sistemático da extrema-esquerda e de parte do PS, para quem toda e qualquer reforma de consequência constitui um atentado aos sacrossantos "direitos adquiridos", mesmo quando a mais elementar aritmética comprova que são incomportáveis.

Portugal vive refém de uma partidocracia caracterizada pela incapacidade de compromisso dos partidos à Esquerda. O mundo laboral, entregue ao Partido Comunista, tornou-se intocável ao abrigo de uma Constituição obsoleta. O PS, por medo ou convicção, não se atreve a tocar na arca sagrada dos direitos dos trabalhadores. Só os "neo-liberais", indiferentes à pobreza e ao desemprego, defendem reformas sócio-económicas susceptíveis de irem apetrechando o País para uma competição global bem sucedida, que é o único meio de a prazo minorar o desemprego e tornar Portugal mais próspero.

Ilude-se quem acredita que a nossa salvação está na restauração da estrutura económica assente numa miríade de micro-empresas familiares, como acontecia antes da crise e de boa parte delas terem sido irradiadas. Este mundo, que António Costa quer em larga medida reanimar (ver entrevista ao Público de 20/7), não é do Mundo de hoje. Mas, é claro, um semelhante diagnóstico só podia proceder de um "neo-liberal" tipicamente desalmado e unicamente movido pela ambição de empobrecer o País e ajudar os ricos a prosperar. Deste absurdo se acusa Passos Coelho , o ideólogo do "neo-liberalismo" doméstico que teve a ousadia de querer preparar Portugal para enfrentar o mundo contemporâneo. Infelizmente, a rigidez das instituições e a força do corporativismo deitaram largamente a perder este desígnio meritório.

Se a agenda apodada de "neo-liberal" pudesse ser levada por diante, Portugal entraria mais rapidamente no séc. XXI. Como sempre, estamos atrasados, aferrados a paradigmas que já eram velhos há trinta anos, e ingenuamente apostados em que a Europa, e até o Mundo, nos ajudarão a conservá-los.

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