Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho a certeza absoluta. (Einstein) But the tune ends too soon for us all (Ian Anderson)
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Reflexão-LBC
Continuo a admirar-me, o que é um mau sinal, com a indolência e desprendimento com que nós, seres humanos, debatemos e abordamos certas questões, cujas razões se metem pelos olhos dentro. A isto não é estranha a forma atípica como (des)construímos esta nossa sociedade. Sim, porque, e por muito que custe ao "quórum instalado", é aqui que reside o busílis da questão.
Perdoe-se-me o lugar comum, mas tendo consciência de que sou um pessoa minimamente razoável, e equilibrada, considero ser a ganância decorrente do estilo de vida que escolhemos, que tem presidido às nossas vidas, nas últimas décadas, "a razão". E sou ateu...
Nada se faz sem que o factor económico seja levado em linha de conta. Depois, dá nisto. Obviamente, e eu reconheço-o, que nos sabe particularmente bem ter todo um sem número de benfeitorias, desde o nosso transporte pessoal à casa em que residimos, passando pelas novas tecnologias que têm sido a peça base desta nova revolução.
Nos últimos tempos tem sido impressionante o número de desastres a nível de transportes que tem assolado o mundo. São aviões que se despenham, desaparecem da face da terra, ou têm de regressar ao aeroporto por um "problema com o equipamento"; são ferrys que ardem ou afundam; são comboios que descarrilam; são pontes que têm de fechar para manutenção; etc., etc.
Neste fim de semana, e apenas para exemplificar, foi um avião da Air Asia (voo baratinho morra depressinha) que se despenhou, crê-se, no Mar de Java, sem que ainda se tenham encontrado vestígios; e um ferry italiano que ardeu, conseguindo-se salvar a grande maioria dos passageiros. Parece que, neste último, a inspecção terá sido feita na Grécia no último fim de semana, sem que os procedimentos tenham sido criteriosamente seguidos.
Ora isto não é mais do que um sintoma da doença. E qual é a doença? Ou aliás, as doenças? Para já, e numa primeira ordem de grandeza, são três: a primeira, e quanto a mim a mais dramática e com consequências ainda incompletamente visíveis, é a que tem sido originada pela falta de manutenção, ou melhor, na secundarização a que foi vetada a manutenção dos equipamentos. E porquê? Porque "não se vê", porque se pode prescindir sem que haja grandes consequências a curto prazo, e "last but not the least", sai caro se for feita em condições.
Este problema agrava-se, claro, quando se não previne, e até se negligencia por vezes, nas fases de concepção, de construção e de fiscalização do projecto.
A segunda, na vida útil dos materiais. Se há cinquenta anos a ciência ainda não tinha evoluído o suficiente para rendibilizar todos os equipamentos, fabricando assim materiais e equipamentos com uma vida útil significativa, hoje em dia chegámos a um estado de conhecimento que ainda não permite, sobretudo por razões económicas, que consigamos atingir um equilíbrio na articulação do conjunto dos materiais que constituem os "núcleos duros" dos "hardware" dos transportes.
Finalmente, uma terceira que se prende directamente com o aspecto económico da coisa: as seguradoras. Porque elas foram, efectivamente, e tal como os bancos, concebidas para ganharem dinheiro, sempre que aparecem "as razões", o pobre desconfia...
No caso do ferry italiano deste fim de semana, parece que na inspecção, e apesar de se ter dado o ok, havia "uma porta corta fogo defeituosa"...
Ora cá temos um óptimo pretexto para a companhia de seguros eximir-se alegando um motivo óbvio para a desresponsabilizacão principal. E ainda se vai descobrir que o comandante não tinha o chapéu bem colocado...:)
Acresce a este problema, e ainda articulando-se com o de ordem financeira, os cortes, as reduções, o encurtamento de prazos, e as "atenções" que os intervenientes no processo construtivo promovem, formal ou informalmente (...), para ficar tudo mais em conta. Mas isto era outra reflexão...
Não sei se ainda estaremos a tempo de remediar o mal que está feito. Assim os actuais e futuros dirigentes tenham, para lá de um pensamento eminentemente economicista, e/ou de componente política, um de bom senso que lhes permita tomar consciência do que se está a passar.
Um colega meu do IST vem alertando, há muitos anos, mas em vão, para a catástrofe que poderá ocorrer em Lisboa, caso se não tomem medidas preventivas no que aos sismos diz respeito. Um dia destes, e pela ordem natural das coisas, acontecerá.
Porque é que só depois de "casa arrombada, trancas à porta"?
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