Gretchen Peters - Blackbirds On A Bus to St. Cloud, com chancela da Music Fog.
Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho a certeza absoluta. (Einstein) But the tune ends too soon for us all (Ian Anderson)
Robert M. Pirsig, cientista, escreveu: "Quando uma pessoa tem um delírio, chamamos-lhe insanidade. Quando muitas pessoas partilham o mesmo delírio, chamamos-lhe religião.
Custa-me compreender aqueles que podem escolher o conhecimento (e que muitas vezes o têm) e que preferem o comodismo do engano. De certa maneira, é como se, depois de adultos, escolhessem acreditar no Pai Natal.
Numa sociedade que se pretende esclarecida*, moderna e secular, dizer que o sentido da vida ou a existência de deus se encontram num livro de ficção ou na sintonia entre o religioso e científico é uma forma de charlatanismo mais sofisticado, religião 2.0, mas não deixa de ser um piscar de olho ao delírio coletivo. Talvez por isso o triunfo do engano tenha tanta audiência.
* Um estudo de Michael Shermer mostra que entre as pessoas mais instruídas há menos religiosos. Outro, de Benjamin Beit-Hallahmi, confirma a irreligiosidade da grande maioria dos prémios Nobel nos campos da ciência e literatura.
NOTÍCIA:
Teatro Tivoli e Casa Manoel de Oliveira classificados como monumentos de interesse público
A classificação do Teatro Tivoli, em Lisboa, como monumento de interesse público, foi publicada esta quinta-feira em Diário da República. O edifício e o palco já eram imóvel de interesse público, mas as alterações levadas a cabo no imóvel, bem como a construção do Complexo Tivoli Fórum, levaram à revisão da classificação.
O “caráter matricial do bem”, o valor estético, técnico e material intrínseco, a conceção arquitetónica e urbanística motivaram a decisão de proteger o edifício.
O Antigo Liceu D. Filipa de Lencastre, atual Escola Secundária D. Filipa de Lencastre, em Lisboa, já era monumento de interesse público e passa agora a ficar integrado em zona especial de proteção. O imóvel, com projeto de Jorge Segurado, faz parte de um conjunto urbano que agrega igualmente o Bairro do Arco do Cego e a Igreja de São João de Deus, “conseguido através da articulação de desenhos e escalas, num esquema de organização urbana que reafirma a indiscutível identidade do local sem anular o contraste entre a lógica racionalista do equipamento escolar e o ecletismo dos edifícios envolventes”, pode ler-se na portaria.
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REFLEXÃO
Que pena! Que pena há não sei quantos anos, quando se demoliu o Cinema Monumental, o Éden, ou outro dos que sofreram a sofreguidão do bota-abaixo lisboeta, ou de outra decisão "na altura", não tenham tido a sorte de apanhar, nos circuitos do poder, as cabeças que agora decidiram preservar estes monumentos. Que pena!
Que critérios presidiram então, a tão despudorada decisão? E agora? Porque são estes edifícios, classificáveis desta forma, e os outros não? Porque é o Tivoli passível de ser preservado, e o Monumental não? A quem se pede responsabilidades por estas decisões de (des)interesse público?
Esta incapacidade de ver à distância, antever o contexto de decisões determinantes e de interesse nacional, como é o caso, causam-me particular estranheza. Se se aliar a isto, o habitual desajeitado trejeito que temos para gerir o poder, arranjamos o caldo com que habitualmente nos temos entornado.
Não há quem veja estas contradições da nossa sociedade?
Continuamos no faz-de-conta, no pontapé para a frente.
Que pena!
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Entendo a necessidade de termos fé em algo, mas não consigo aceitar que a fé seja um obstáculo ao questionamento e ao esclarecimento, que seja tantas vezes a aceitação do inexplicável e do inadmissível, a plataforma de lançamento do fanatismo. Um rapaz de 18 anos hoje sabe mais sobre os humanos e o cosmos do que um profeta há dois milénios. E interrogo-me frequentemente sobre a razão pela qual deus, que se revelou a indivíduos extraordinários, deixou de escolher os seus profetas globais no último milénio e meio. Serão os grandes homens de hoje - cientistas, médicos, prémios Nobel da Paz - menos merecedores e esclarecidos do que os seus antepassados da idade da ignorância?
Se eu pregasse alguma coisa, seria a dúvida, não a certeza. A pergunta, não o dogma. E só gostaria que a segurança que tenho nas minhas dúvidas fosse a mesma que os extremistas têm na sua fé - a segurança suficiente para aceitar que me questionem, e até que me insultem, sempre que quiserem, sem ter de forçar continuamente aquilo em que acredito pela goela dos outros abaixo.
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4401915&seccao=Jo%E3o%20Lopes
Atribulações culturais do sexo
O sexo e a sua perturbação mais íntima... Sim, porque não? Mas quem se lembra de Esplendor na Relva (1961), com Natalie Wood e Warren Beatty dirigidos por Elia Kazan? Além da histeria mediática dos nossos dias, onde está o carinho pela memória do cinema?
Dito de outro modo: não vale a pena lidar com o filme As Cinquentas Sombras de Grey como se fosse uma invasão de forças satânicas. O fenómeno é bastante mais rudimentar: acontece apenas que há quem, à custa de um marketing insidioso e agressivo, nos sirva uma versão requentada do velhinho Nove Semanas e Meia (1986), conseguindo a proeza de pôr todos a falar e a escrever sobre o assunto.
O mais interessante está, precisamente, do lado do que se diz e escreve, incluindo, claro, as omnipresentes derivações televisivas. Por exemplo, pessoas como Sam Taylor--Johnson (realizadora) ou Eloise Mumford (uma das intérpretes secundárias), numa atitude insolitamente defensiva, têm tentado "justificar" o filme a partir da energia que reconhecem na personagem de Anastasia (Dakota Johnson), em face dos desejos de dominação sexual de Grey (Jamie Dornan). Numa entrevista dada à revista Time, Mumford diz mesmo que "nunca faria um filme que não fortalecesse o poder das mulheres".
Na sua candura, esta é uma daquelas declarações que favorece a miséria mais ridícula de um pensamento "politicamente" e "moralmente" correto. Desde quando o discurso de um filme se confunde com os valores, sejam eles quais forem, que determinam o comportamento das personagens centrais? Será que, a partir de agora, O Padrinho (1972) passa a ser um panfleto a favor do crime organizado porque um tal Marlon Brando interpreta um chefe mafioso? Será que vamos mesmo rever a história do cinema, lançando o mesmo Brando para o caixote do lixo porque (imaginem o atrevimento...) escolheu interpretar Don Vito Corleone?
Tudo isto se agrava - num certo sentido, como uma mera confirmação - através do simplismo com que As Cinquentas Sombras de Grey se promove (e é promovido) como um filme sobre... sexo. Na miséria de pensamento que faz lei no espaço mediático, um chicote, algumas algemas e meia dúzia de gemidos mais ou menos exuberantes desencadeiam as mais delirantes "argumentações", ao mesmo tempo que décadas de formatação da vida sexual (e não só!), diariamente induzida pelos modelos "telenovelescos", são escamoteados pelo jornalismo que vive de "escândalos" e também, para nossa maior desgraça, pelos discursos políticos que reduzem a vida cultural à gestão de verbas para museus e afins.
Luiz Boavida Carvalho
O que eu gostaria de fazer quando ando nas ruas de Lisboa era poder olhar em frente e para cima (isso é, acima da linha dos graffiti), e admirar o modo como a sua grandeza está justaposta com a sua bela decadência, e contemplar este céu tão especial que dá uma cor específica à cidade neste dia.
Mas não posso, porque tenho de olhar para baixo, para o passeio, porque é preciso evitar as pedras soltas e dançar por entre as merdas de cão espalhadas na calçada.
Luco Pepper no "Observador"
Apesar de gostar do Ministro da Saúde, Paulo Macedo, não posso deixar de sorrir com o cartoon...
É o modelo de sociedade que temos!