quinta-feira, 16 de junho de 2016

Soneto

Soneto, obra prima do trocadilho, escrito no século XVII, por António Fonseca Soares.


CONTA E TEMPO

Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta !

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta

Chorarão, como eu, o não ter tempo...

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