quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Música - Charles Aznavour ("Jornal I") 1/2

Aznavour em dez canções

Do cantor e letrista francês de origem arménia dir-se-á que foi um dos mais populares e que teve uma das carreiras mais longas de que haverá memória na história da música francesa. Olhar para a herança de Charles Aznavour pode não ser fácil. Olhemos então para dez das canções que mais marcaram uma carreira que se estendeu da década de 1940, o tempo em que Édith Piaf o ouviu cantar pela primeira vez, até à sua morte, aos 94 anos
1950. J’ai Bu
De fora da lista dos seus maiores êxitos, mas com a importância de ter sido a primeira que escreveu, depois de Édith Piaf o ter ouvido cantar - atuava na companhia do ator Pierre Roche em clubes franceses - e o ter levado consigo numa digressão pela França e os Estados Unidos. Foi a cantora francesa, para quem fazia frequentemente primeiras partes de concertos, a grande impulsionadora de uma carreira que se prolongaria por mais 70 anos. Com mais de 1400 canções e 100 milhões de discos vendidos.
 1957. Aïe mourir pour toi
“Conheci-a na Bélgica, no fim dos anos 50, ela cantava numa sala do primeiro andar e eu no rés do chão”, contou um dia em entrevista ao “Expresso” sobre a sua amizade com Amália Rodrigues, que um dia lhe terá dito que gostaria de “cantar uma canção em francês”. Aznavour escreveu “Ai mourir pour toi” inspirado no nome de um bairro lisboeta - Mouraria. A palavra soara-lhe a morte, contou na mesma conversa. “Quando soube que não fartei-me de rir.”
1960. Je m’ voyais déjà 
Descrita pelo próprio como o seu primeiro grande sucesso, escreveu-a inspirado numa jovem artista belga que ouviu um dia num bar de Bruxelas no próprio dia. Ofereceu-a a Yves Montand, que declinou o convite, e por isso cantou-a ele próprio, a 12 de dezembro de 1960, num concerto no Alhambra de Paris. A reação do público transformá-la-ia num êxito. 
1961. Retiens la nuit
A décima segunda das canções escritas por  Charles Aznavour ainda, em coautoria com Georges Garvarentz, e desta vez para Johnny Hallyday no período em que este se convertia de seguidor de Elvis Presley em intérprete de canções românticas - ao longo dos anos frequentemente escritas por Aznavour.
1962. Les comédiens 
Escrita em homenagem aos atores, aos músicos, aos mágicos, aos artistas, para um êxito que acabou transformado em hino ao mundo do espetáculo. Para a memória ficou a interpretação da canção ao lado de Liza Minnelli no Palais des Congrès, em Paris, em 1991. Já 20 anos depois, em 2012, Allain Resnais usá-la-ia na banda sonora do seu penúltimo filme, “Vous n’avez encore rien vu”.

1963. La mamma
Viriam Ray Charles, Gipsy Kings, mais duas mãos cheias de outros, interpretá-la depois dele, mas foi pela primeira vez gravada por Charles Aznavour, com Robert Gall, que lhe entregou uma primeira versão inspirada em “Rocco i suoi fratelli”, de Visconti, para o disco homónimo editado em 1963. “La mamma” tornou-se no primeiro disco do cantor a ultrapassar o milhão de cópias vendidas. 
1964. Hier Encore
Em celebração dos seus 40 anos, Aznavour fazia um balanço da sua vida numa canção que, escrita por Herbert Kretzmer, apresentava um homem a refletir sobre o seu percurso de vida. Traduzida depois para várias outras línguas (“Yesterday When I Was Young”, em inglês, “Ieri Si”, em italiano, “Ayer Aún”, em espanhol, até para japonês), foi cantada (e regravada) por dezenas de artistas. 
1965. La Bohème 
Provavelmente o seu maior êxito. Interpretá-lo era, disse o próprio na já citada entrevista que deu ao “Expresso”, em Paris, aquilo a que chamava uma “descida aos infernos”. E acrescentava, em concordância com as preferências da assistência aos seus concertos: “Não fui eu que escrevi a letra, foi um amigo [Jacques Plante], mas é uma das mais belas que tenho no meu reportório.”  
1972. Comme Ils Disent
Sobre “Comme Ils Disent” (“What Makes a Man”, na versão em inglês), disse um dia Aznavour: “Fui o primeiro homem a escrever uma canção em França sobre a homossexualidade. Queria escrever sobre os problemas concretos enfrentados pelos meus amigos gays. Via que as coisas eram diferentes para eles, que eram marginalizados”. A letra descrevia a vida de um homem que se vestia de mulher nos clubes de Paris em paralelo com a relação com a mãe.
1974. Tous les visages de l’amour
1974. Tous les visages de l'amour

Não é a francesa original a versão mais conhecida deste single editado em 1974 por Aznavour. Lançada logo de seguida, “She”, a sua versão inglesa, passou mais ou menos despercebida tanto em França como nos Estados Unidos, mas rapidamente atingiu os tops de vendas em Inglaterra. E em 1999, Elvis Costello regravou-a para a banda sonora da comédia romântica “Notting Hill”, de Roger Mitchell, protagonizada por Julia Roberts e Hugh Grant.

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