sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Reflexão - Rui "Loma"

(artigo de Nuno Garoupa no Público)

A progressiva transformação, em
Portugal, da democracia em
partidocracia não se pode dizer
que tenha sido surpreendente.
Era, talvez até, inevitável. Os
regimes anteriores, com maior ou
menor pendor democrático,
sempre se caracterizaram por
dois aspetos — predomínio de
uma clique endogâmica em
Lisboa (a Corte), fruto de um processo de
seleção cooptado e não competitivo, e o
caciquismo local. Seria, pois, difícil esperar
que o regime atual, para mais já longevo,
não re􀃇etisse essa realidade.
É possível que a introdução de
candidaturas independentes e a limitação de
mandatos logo em 1976 pudessem ter
suavizado um pouco, mas a opção por um
governo local presidencial forte, sem
grandes estímulos à oposição
(estranhamente parte da própria vereação),
sem grande controlo parlamentar,
inevitavelmente reproduziu o caciquismo
tradicional. Aliás, o desmantelar das forças
vivas locais (fruto da modernização social) e
a concentração de recursos públicos nos
governos locais (através dos fundos
comunitários e, depois, do galopante
endividamento, que apenas foi limitado já
bem entrado o século XXI) acabaram por
recriar o ambiente para as redes clientelares
locais, que acabam por ser uma face
pós-moderna do caciquismo do século XIX.
Não por acaso, a grande maioria dos
municípios é governada pelo mesmo partido
por períodos longos, e os dinossauros
autárquicos são 􀃆guras mitológicas dos
partidos. E sobre as regiões insulares basta
observar a durabilidade política — o PSD
governa na Madeira desde 1976; já nos
Açores temos maiorias monocolores do PSD

(1976-1996) e do PS (desde 1996).


(Reflexão do Rui Loma a propósito do artigo do Nuno Garoupa)

Interessante, mas...

"(...) depois do galopante endividamento, que apenas foi limitado já bem entrado o século XXI." 
É uma brincadeira, ou o resultado de assistir aos telejornais do sistema, só pode. O (mau) Estado português regista os índices de dívida mais elevados, desde sempre. E a dívida, apesar dos apregoados abatimentos - que também não são reais, limitam-se ao renegociamento da dívida para prazos mais alargados e a consequente redução da "mensalidade" mas a majoração do valor final: absurdo no valor, mas diferido no tempo. E os negócios continuam, é necessário assegurar lugares (tachos) para os que vão sair, garantindo lugares para os que vão entrar. Afinal as eleições estão à porta.

A democracia apregoada... é a ignorância mascarada pelas meias verdades. 
Mas qual democracia?
Muito bem, em tese, a democracia caracteriza-se pela expressão de uma vontade colectiva. O governo do povo. O esforço colectivo para o bem-estar geral... Mas essa é a democracia activa, a todo o tempo participada, como decorria na ágora, a gestão pela vontade e sabedoria do povo.
Mas, no nosso mal parado caso, falamos de democracia activa ou representada?
"Água dura em pedra mole tanto fura até que dá" (não, não é engano, as palavras estão lá todas, a ordem é que é alterada, tal como na verborreia dos representantes da democracia nacional, o que conta é a sonoridade não a ideia!) e outros ditados sonantes, 
Pensemos. Voto não numa pessoa mas num partido, que se limita a apresentar uma cabeça de cartaz. O partido eleito (presumível mas não necessariamente com mais votos) escolhe o elenco que vai constituir o governo e apresenta-o ao PR que, desde que minimamente alinhado (populista ou sem-vergonha dentro dos limites politicamente correctos) o vai aceitar. É eleita uma assembleia constituída por um conjunto de indivíduos que eu não conheço, mas vão decidir os destinos da nação, entenda-se garantir os interesses de quem ali os colocou e conforme o desempenho nesse desiderato assegura o futuro em tachos futuros.
O orgasmo legislativo consuma-se quando o PR promulga uma lei declarando ser contrário ao seu espírito e ciente da lesão dos interesses da nação, mas pela garantia da estabilidade política(?).
Afinal onde ficou a "vontade do povo"?... Pois é, a participação extinguiu-se no voto. Acabou. Foi delegada em grupelhos abjectos que, adoptaram o termo de partido - entidade incorpórea (logo, salvo raras excepções, inimputáveis) na qual os inatos cretinos (também desmemoriados) delegaram a gestão do seu destino.
Como mera reflexão o termo "partido" decorrerá de "não ser inteiro", ou seja não incorporar um todo (nação), o que fará algum sentido; ou de "party", por exemplo... "vamos a uma "party" na parede. Vocês (o Povo) encostam-se à parede e nós fazemos a "party"", o que não deixa também de adaptar-se à realidade nacional. São dúvidas que me consomem, muito mais que a desonestidade dos procedimentos.

Quanto à gerontocracia, nada de novo. Abordando o tema de forma ligeira, desde sempre que a direcção, não o governo, das sociedades (desde que se constituíram) foi assegurada pelos "mais velhos", pelo concelho de anciãos; na própria estrutura familiar era a avó que geria as relações e os negócios sociais da família - o homem era o caçador, a sua missão era assegurar o sustento, não a estrutura familiar e social (família/clã/tribo/nação). Depois veio o "pater familias", mais uma vez o exemplo venerando; no período medieval eram os "homens bons" com provas dadas e tacitamente aceites como os mais sensatos e experientes. 
Negar o valor da experiência adquirida é negar a História, é incrementar os disparates e conflitos já vividos mas que a memória ignora.

E parece-me ser esse o problema, mais do que a ignorância é a falta de memória, tal como a mulher do "outro" assumiu: "o meu marido é um cherne". Verdade profunda, muito para além da intenção da declarante. O "empeixamento" da nação portuguesa é um facto, desgraçadamente na incapacidade de memorização.
Ignorar o passado e glorificar o presente. Não interessam as consequências de determinada acção ou omissão do passado (é passado, já não volta), seriam impensáveis hoje, temos muito mais tecnologia e competências que naquela altura. Aquilo só aconteceu porque eram muito mais atrasados, tacanhos... 
Para memorizar é preciso "ver", ler, conversar, e isso dá trabalho.
Mais do que esquecer, ignora-se. E isso facilita a "aquarização", o universo é reduzido e admite-se quem decida sobre a temperatura, a luz, a acidez do meio e,claro, as espécies a introduzir. A selecção deixa de ser natural e torna-se politicamente correcta.
Esmagam-se os "betas" e incentivam-se os "guppies" e os "néons". Não prestam para nada, não "chateiam", não defendem território, mas temos um aquário muito mais sereno e colorido.

A democracia representativa é uma batata, no sentido pejorativo do termo e não por desrespeito ao tubérculo.

Abraço

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