(Comentário do Rui Lourenço Maria)
Companheiro
Deus saberá porquê, lembrei-me de uma estória: “O senhor quer que ponha areia ou vaselina?”, teria perguntado, em tom serviçal, o sujeito agachado. Referia-se, naturalmente, ao método de limpeza de um vetusto tacho de ferro que apresentava indícios de corrosão. Ignoro a resposta do “senhor”, mas, estou em crer que o serviçal teria continuado na posição agachada até que a “moda” passou.
Refiro-me à “moda” dos tachos de ferro, depois vieram os alumínios, as ligas metálicas e sintéticas ou afins e os tachos passaram a ser lavados com água e detergentes mais ou menos aromatizados, permitindo a posição erecta. E, estupefactos, os serviçais descobriram que essa posição além de ”fazer doer” muito menos no fundo das costas, permitia olhar até à linha do horizonte, muito para além do seu próprio círculo umbilical.
Assumindo-se o (autoproclamado) Ocidente como líder natural da mudança, a verdade é que todas as “modas” são efémeras, passam.
Mas aqui começam as dúvidas.
O Ocidente. Mas em relação a quê?
Do ponto de vista geográfico, parece razoável aceitar uma linha divisória convencionada para fronteira entre o Oriente e o Ocidente e, desde 1851, não se encontrou nada melhor que o Meridiano de Greenwich para esse efeito.
Mas então, com excepção de uma franja de Portugal, Espanha, França e UK, TODA a Europa se encontra no Oriente.
Pela demografia… o (autoproclamado) Ocidente – por Tratados, Uniões, Acordos e afins – não deverá representar mais de 12% (?) da população mundial, e parece-me difícil de admitir que, como os países (exemplo da Hungria) que mantêm níveis decentes de sanidade, o mundo islâmico aceite a moda do “polimento dos tachos de ferro” assim, com a submissão requerida.
Pela ideologia… não me recordo de ver publicidade aos Rolls Royce, à Parker, aos Zippo, aos “tachos de ferro”, o que me leva a admitir que os produtos de qualidade não precisam de pregões, a sua qualidade é naturalmente reconhecida e dispensam o marketing.
E há os outros que, para um mesmo produto inventam nomes quanto mais sonantes melhor, apoiados em campanhas quanto mais agressivas melhor, o que se pretende é convencer o público -alvo a aderir ao produto, mesmo com sacrifício do “fundo das costas”.
No caso vertente – a notícia sobre a “dupla derrota” –, recordo que num momento da minha vida me chamaram “capitão branco” e isso nunca me incomodou, o respeito era mútuo.
E, continuam a surpreender-me as “confusões (politicamente correctas) jornalísticas, como: “Black Lives Matter” e depois “(…) pseudo-activismo / terrorismo negro «Made in America»”. O movimento é preto ou negro? Os (ditos) terroristas é que são negros e as “pessoas de bem” são pretas?
Assim, torna-se confuso, poderá levar a expressões como “Em 2021 n pretos concluíram o Curso de Medicina com distinção.” e “foram detidos n terroristas negros que estavam a dar milho aos pombos na Praça da Figueira”, admitindo que ainda há pombos na dita praça.
Como mera curiosidade, numa entrevista a Rosane Borges - Jornalista e pesquisadora colaboradora do Centro Multidisciplinar de Pesquisas em Criações Colaborativas e Linguagens Digitais (Colabor), da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), quando questionada quanto ao termo "negro" passar a determinar a luta coletiva de um grupo populacional no Brasil a partir da instituição do Movimento Negro Unificado no final da década de 1970. Postulou que “O termo negro ganha uma positividade com maior aderência, com ascenção do movimento negro contemporâneo no Brasil, protagonizado por instituições como o MNU. Então, a partir da década de 1970, expressões que eram consideradas negativas, ruins ou não muito aceitas passam a ser adotadas como forma de resistência. A palavra negro é uma delas.
Quais foram os ganhos que o termo negro trouxe do ponto de vista do combate ao racismo? É como se houvesse “povo” negro apagando as múltiplas camadas que envolvem pessoas desse grupo populacional...
O ganho que temos com a palavra negro é que ela abriga pretos e pardos.”
Uma justificação tão legítima como outra (desde que com a mesma sustentação) qualquer, mas que se me afigura coerente.
(Nota – presumo que a Rosane quando refere “aderência” pretenderia dizer “adesão”, mas prontos.)
E continuo a aguardar o momento em que o tal movimento LG… + isso, reivindique que o 25 do A foi feito pelo direito ao agachamento inerente a (esta) moda.
Coração ao alto que as “modas” são efémeras, o problema é que também são cíclicas. As pessoas é que têm pouca memória.
Abraço
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