quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Reflexão - Alberto Gonçalves

 

(sublinhados meus)

O problema não é a avó Mortágua: é a neta

Não há nada de espantoso aqui. As patranhas estão na natureza do Bloco de Esquerda. Aliás, logo ao lado do ressentimento, as patranhas são a essência do bando. A novidade é o escrutínio.

Pelos vistos, segundo a Sábado, a senhora tinha bem mais do que 65 anos quando recebeu a carta, inventada, de um senhorio capitalista e pérfido, que afinal era uma Instituição Particular de Solidariedade Social, a ameaçá-la com o despejo, legalmente impossível, de uma casa arrendada na Avenida de Roma por 400 euros. O assunto tem alimentado farta galhofa, incluindo a procura simulada por apartamentos na mesma rua que cobrem renda similar. Eu dispenso: nunca me ocorreu residir em Lisboa e muito menos na vizinhança da família em questão. Este, porém, não é o ponto.

O ponto é que toda a gente sabe que a dra. Mortágua mentiu na história da avó. Sobretudo a própria dra. Mortágua, que anda há dias a chorar os ataques da inevitável “extrema-direita” e a alinhavar mentiras atrás de mentiras para legitimar, anedoticamente e em vão, a mentira inicial. Não há nada de espantoso aqui. As patranhas estão na natureza do Bloco de Esquerda. Aliás, logo ao lado do ressentimento, as patranhas são a essência do bando, que sem elas estaria limitado a soprar apitos em arruadas tristes em prol da marijuana ou da “Palestina”.

A novidade é o escrutínio. Por regra tácita, consagrada há duas décadas entre boa parte dos “media” caseiros, a rapaziada do BE está autorizada a mentir no que quiser, quanto quiser e como quiser sem ser incomodada por vestígios de contraditório. É até compreensível o desnorte da dra. Mortágua, que após uma carreira dedicada à tortura dos factos se vê agora humilhada em público por causa de uma falsidade comparativamente menor. Claro que é cómico. E que, assentada a poeira, é trágico.

É que a chacota em volta da avó Mortágua encobriu por completo a mensagem que a neta tentou passar. Imagine-se, por inconcebível que seja, que a dra. Mortágua tinha sido rigorosa e séria, leia-se que a avó ficara em “sobressalto” a pretexto de uma comunicação do proprietário do imóvel. E depois? Todos os cidadãos experimentam sobressaltos semelhantes sempre que recebem comunicações do Estado, com a diferença de que estas, ao contrário da outra, são reais. O pormenor é que se desconhece grande currículo de indignações do BE perante tais sustos. Ou abusos. Ou arbitrariedades.

Pior: se a dra. Mortágua mandasse, os sustos, os abusos e as arbitrariedades redobrariam em dimensão e frequência. E não apenas em matéria de habitação, sector em que a prestigiada economista da Escola de Caracas sonha com o assalto indiscriminado aos velhinhos, à meia-idade, aos jovens se for o caso. Há um par de semanas, a antecessora da dra. Mortágua, Catarina Martins, proclamou sem hesitações – nem escândalo subsequente – que “o direito à propriedade e o mercado” não podem ser “um obstáculo ao direito à habitação”. É escusado traduzir: em nome das perversões que os guiam, os senhores e as senhoras do BE defendem o confisco dos bens alheios, no imobiliário e no que calha, para que, suprimida a liberdade que resta e instituída a radical dependência que a falta de liberdade implica, o Estado, idealmente ocupado pelo BE, desfrute de poderes absolutos. E o povo, bom e mítico, possa desfrutar da absoluta miséria.

Descontada a agradável catarse suscitada pelo espectáculo de uma impostora com as calças na mão, a ficção da avozinha acabou por disfarçar o que vai na cabeça verídica da dra. Mortágua. Nessa prodigiosa cabeça, o senhorio, plausivelmente com chifres e cauda, é mau porque é “privado”, porque é um cidadão, porque é alguém que consegue ganhar a vida para lá das garras do Estado e, em última e intolerável instância, com um conforto e uma decência que o Estado que o BE concebe não admite. Enquanto nos distraímos com a mentira, esquecemo-nos da verdade. E a verdade é uma coisa assustadora.

Apesar de a ortodoxia vigente, da esquerda à obediente “direita”, reduzir a actualidade à discussão dos acordos que o PSD fará ou não fará com o Chega, o PS assumiu sem problemas nem escrúpulos a aliança com o BE, para não falar nos demais partidos comunistas, que hoje, valha a fartura, são três ou quatro. E não se trata da aliança oportunista do dr. Costa em 2015, que tantos maravilhas legou ao país, mas de um casamento apaixonado entre duas almas gémeas, o neto do “sapateiro” que tinha uma fábrica e a neta da inquilina que tinha 78 anos em 2012.

O dr. Pedro Nuno não precisa de tolerar a influência de radicais no governo: o dr. Pedro Nuno é um radical do calibre da dra. Mortágua. Como ela, também ele deseja “fazer o que nunca foi feito”, ou precisamente o que não se concluiu no PREC devido a interrupção “reaccionária”. O que se cozinha por aí não é uma mera frente de esquerda, mas uma frente de extrema-esquerda, totalitária e opressora conforme convém. A confirmar-se o pesadelo, e a propósito disto e daquilo, começarão a entrar nos CTT, entretanto nacionalizados, cartas autênticas que farão a carta forjada pela dra. Mortágua parecer um cartão do Dia dos Namorados. Antes que essa gente nos desaloje a nós, é capaz de ser vital desalojar essa gente. E não pelos correios: pelas urnas.

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