sexta-feira, 25 de abril de 2025

Reflexão - Margarida Bentes Penedo

 (sublinhados meus)


Dia das Mulheres Extraordinárias

Em que mundo é que a dra. Alexandra Leitão é extraordinária? Ou a dra. Inês Pedrosa, autora dos livros e dos comentários mais deprimentes de Portugal? Ou @s sr@s. Ministr@s que menstru@m?

A ONU estabeleceu que o Dia Internacional das Mulheres passava a ser celebrado anualmente, a 8 de Março. Também na Assembleia Municipal de Lisboa vários partidos apresentaram documentos oficiais com votos de saudação. Por dificuldades de agenda, capítulo que a sra. Presidente da Mesa domina com esforço, só se discutiu no último dia do mês.

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Primeiro comentário. É preciso reconhecer que ainda hoje há mulheres a ganhar menos do que os homens em trabalhos iguais, para desempenhar as mesmas funções. Existe sobretudo em algumas das escassas fábricas que nos restam, em indústrias de baixo valor acrescentado, tecnologia básica, em lugares de operários pouco especializados e com baixo nível de instrução. Mantém-se uma injustiça que é preciso combater e para a qual é preciso encontrar uma resposta.

Os donos dessas fábricas são por regra gente corajosa, apertada entre margens de lucro estreitíssimas, regulação implacável, rapacidade fiscal, e responsabilidade de prover a famílias inteiras, cujos membros muitas vezes são todos seus empregados. Talvez a resposta à injustiça passe por aceitar que não podem pagar o mesmo a todos; e explicar-lhes que devem pagar mais aos operários que produzem mais, independentemente de serem homens ou mulheres. Ou seja, mostrar-lhes que as diferenças de salário devem assentar nas diferenças de produtividade, e não no sexo dos operários. Isso motiva as pessoas a trabalhar melhor e pode contribuir para subir o rendimento da empresa. O maior amigo da igualdade ainda é o capitalismo: interessa o dinheiro, interessa a respeitabilidade social, não interessa as circunstâncias – sexo, origem, cor, religião, ou costumes – de quem produz.

Segundo comentário. Incide sobre a tese em voga este ano, segundo a qual “o voto das mulheres é uma conquista da revolução” (ou “do 25 de Abril”). Toda a esquerda se juntou num coro para explicar ao povo que “o Estado Novo tratava mal as mulheres, veio a revolução e deu-lhes o direito de voto”. Das teses mais estúpidas de sempre, e Deus sabe como a esquerda é perita em estupidez. Até parece que os homens votavam durante o Estado Novo, e as mulheres eram discriminadas. Peço licença para informar a nossa querida esquerda do seguinte: o Estado Novo restringiu o direito de voto das mulheres, mas também dos homens. Nesse capítulo, o dr. Salazar estabeleceu em Portugal uma ditadura bastante democrática: recusou eleições livres, tanto aos homens como às mulheres (o Estado Novo aconteceu num tempo em que o sexo era binário).

A I República, sim, negou o voto às mulheres. E mesmo sabendo que não serei excessivamente carinhosa com a esquerda, trago algumas outras ilustres memórias para recordar. A I República foi o regime mais sangrento que houve em Portugal durante os últimos 200 anos. Restringiu o direito de voto em 1913; tinha mais de dois mil presos políticos nas cadeias em 1912; reprimiu brutalmente os sindicatos; massacrou em Angola, em 1915; e negou o voto às mulheres. É neste nobre regime que a esquerda portuguesa ainda hoje se reconhece e se inspira. Entre todas as outras recomendações, a I República também foi um regime mais misógino do que o Estado Novo.

Terceiro comentário. Vai para a ideia de que as mulheres formam um bloco homogéneo e coeso, com as mesmas emoções, os mesmos pensamentos, as mesmas preocupações e aspirações, as mesmas mundividências e as mesmas ideias políticas. Pior. A juntar à sopa turva de mulheres equivalentes, as mulheres são também todas extraordinárias. Se a ideia anterior era a mais estúpida, esta é a mais irritante. Não, não somos todas extraordinárias. Há mulheres anti-fascistas, outras não querem saber disso para nada; há mulheres despóticas, mulheres liberais, e grandes estupores; há oportunistas, há malcriadas, e há senhoras encantadoras. Em que mundo é que a dra. Alexandra Leitão é extraordinária? Ou a dra. Inês Pedrosa, autora dos livros e dos comentários mais deprimentes de Portugal? Ou @s sr@s. Ministr@s que menstru@m? Safa!, quando se fala dos homens, alguém imagina que são todos iguais?

Quarto comentário. As sacrossantas cotas, porque “as cotas favorecem as mulheres”. A sério? Quais mulheres? Sim, as cotas favorecem as incompetentes e prejudicam as mais capazes. Mais uma vez, tratam as mulheres como se fossem iguais entre si, apenas diferentes dos homens, velhacos sem emenda que só pensam em achincalhá-las. Na verdade, é precisamente o contrário. Ser contra as cotas é compreender que homens e mulheres têm a mesma aptidão para atingir o mérito. Os homens não são à nascença mais capazes do que as mulheres, portanto, as mulheres não precisam da condescendência dos homens para chegar aos lugares reservados pela esquerda. Nenhum cidadão merece ser castigado por nascer homem. E nenhum cidadão, homem ou mulher, precisa de ser protegido com paternalismo. As cotas são uma forma de infantilização.

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