(sublinhados meus)
LBC - grandes me....!
Como os media estão a eleger o Chega (e ainda se acham os heróis da democracia)
A cada ataque mediático, Ventura cresce. Enquanto fingem combater o populismo, os jornalistas estão, na prática, a abrir-lhe estrada para o poder com microfones, manchetes e boa dose de arrogância.
O crescimento do Chega no panorama político português não pode ser entendido apenas à luz do descontentamento popular ou da conjuntura socioeconómica. A ascensão do partido liderado por André Ventura resulta, acima de tudo, de uma estratégia de comunicação política altamente eficaz, que assenta no confronto, na polarização e na apropriação da crítica mediática como ferramenta de mobilização e legitimação.
Ao contrário dos partidos tradicionais, que tendem a evitar o conflito direto com a comunicação social, o Chega procura deliberadamente esse confronto e transforma cada crítica em capital simbólico junto do seu eleitorado.
Um exemplo paradigmático desta abordagem pôde ser observado na entrevista de Ventura à CNN Portugal, a 1 de agosto de 2025.
O líder do Chega envolveu-se num confronto acalorado com o comentarista/jornalista Filipe Santos Costa, a quem acusou de ser um “péssimo jornalista” e de proteger os “partidos do sistema”.
As críticas de Filipe Santos Costa, que rotulou Ventura como racista e xenófobo, foram respondidas com veemência, com o líder da Oposição afirmando que a CNN Portugal deveria reconsiderar a participação do comentarista.
O episódio gerou ampla repercussão em todas as redes sociais, onde seguidores do Chega ou não, destacaram que a má qualidade de alguns jornalistas e a perceção de parcialidade fortalecem Ventura, descrito como um “animal político imbatível”.
Críticas semelhantes foram feitas por outros internautas, que acusaram os moderadores de interromper Ventura de forma seletiva, reforçando a narrativa de que os media são tendenciosos contra o partido.
Esse confronto não é um caso isolado. A comunicação social, ao destacar declarações controversas de Ventura ou escândalos envolvendo deputados do Chega, frequentemente contribui para manter o partido no centro do debate público, mesmo que de forma negativa.
Paradoxalmente, essa visibilidade amplifica a mensagem do Chega, que se apresenta como uma força anti-establishment, vítima de um “sistema” que inclui os media.
Longe de ser um deslize comunicacional, esta postura faz parte de uma tática bem delineada: Ventura não reage, antecipa.
Ao atacar a legitimidade da comunicação social reforça a narrativa de que o Chega é vítima de um sistema corrupto e fechado, do qual os media são cúmplices.
Esta retórica ressoa com uma parte significativa do eleitorado que se sente excluído das estruturas tradicionais de representação, e que já desconfia, por princípio, da imprensa tradicional.
Neste contexto, a visibilidade negativa não é um risco, é uma vantagem estratégica. A comunicação do Chega compreende que, no atual ecossistema mediático, o escândalo e o conflito garantem centralidade.
Cada ataque mediático transforma-se em conteúdo digital partilhado nas redes sociais, onde Ventura e os seus apoiantes operam com eficácia superior à dos restantes partidos.
Vídeos de confrontos, manchetes críticas e acusações viram munições que alimentam a perceção de perseguição, indignação e mobilização.
A repetição deste padrão: ataque, vitimização, amplificação, tornou-se uma fórmula de sucesso.
A narrativa de vitimização é, aliás, um dos eixos centrais da comunicação do partido. Declarações como “a mídia está contra nós, mas o povo está connosco” não são apenas slogans, são mecanismos de identificação emocional.
Num país onde os níveis de confiança na imprensa estão em queda, como revelam inquéritos do Eurobarómetro, sobretudo entre os mais jovens e os mais desfavorecidos, esta retórica é particularmente eficaz.
O Chega oferece uma explicação simplificada, mas poderosa: a imprensa serve os interesses das elites, e o partido é a única voz que fala diretamente pelos esquecidos.
Além disso, a escolha temática da agenda do Chega – a imigração, a criminalidade, a corrupção e a insegurança – não é acidental, são temas de elevado potencial emocional, que a comunicação social, ao procurar desmentir ou criticar, acaba inevitavelmente por amplificar.
O ciclo torna-se previsível: Ventura faz uma afirmação polémica; os media reagem com veemência; Ventura acusa os media de perseguição; o tema domina a agenda pública; o Chega cresce.
Mesmo quando os dados são desmentidos, o simples facto de estarem no centro do debate já serve os objetivos estratégicos do partido.
Outro elemento fundamental na estratégia do Chega é o bypass mediático proporcionado pelas redes sociais. Ventura e os seus deputados comunicam diretamente com o público através de plataformas como o Youtube, Facebook, Instagram e X. sem depender da mediação jornalística.
A linguagem é simples, direta, emocional e altamente partilhável. A capacidade de criar conteúdo viral dá ao partido um alcance que, por vezes, supera o dos órgãos de comunicação social tradicionais.
Relatórios como os do MediaLab do ISCTE têm mostrado que o Chega domina em volume e impacto nas redes sociais, muito à frente de forças políticas mais institucionalizadas.
Importa ainda salientar que os escândalos internos, longe de enfraquecerem significativamente o partido, são muitas vezes neutralizados pela mesma lógica de comunicação.
Os casos de 2025, como o de Nuno Pardal (acusado de prostituição infantil) e José Paulo Sousa (detido por conduzir embriagado), geraram ampla cobertura negativa, mas não impediram que o Chega obtivesse 22,76% dos votos nas legislativas de maio.
A estratégia de Ventura, que respondeu com a acusação de que a imprensa sofre de “azia” contra o Chega, revelou-se eficaz para blindar o núcleo duro do eleitorado e manter o crescimento eleitoral.
A comunicação do Chega não é apenas defensiva, é ofensiva, calculada e profundamente adaptada ao ambiente mediático contemporâneo. Ao transformar a crítica em validação, o partido inverte a lógica tradicional da comunicação política.
E, enquanto os media continuarem a abordar o Chega com um tom predominantemente crítico, muitas vezes percebido como desproporcionado ou enviesado, continuarão a alimentar, involuntariamente, a própria narrativa que permite ao partido crescer.
A comunicação social portuguesa ainda não parece ter compreendido que os ataques diretos ao Chega, especialmente quando percebidos como tendenciosos, alimentam o crescimento do partido.
Casos como as críticas de 2019, as acusações de desinformação em 2024, os escândalos de 2025 e o recente confronto na CNN Portugal ilustram como a estratégia de André Ventura de transformar críticas em oportunidades tem sido bem-sucedida.
Enquanto os media tradicionais continuarem entretidos a bater no Chega com a mesma ladainha de sempre, ignorando olimpicamente as razões reais que levam centenas de milhares de eleitores a identificarem-se com o partido, podem ir preparando os especiais de televisão para quando Ventura for ministro ou, quem sabe, primeiro-ministro.
A cada manchete alarmista, a cada indignação seletiva em prime time, o Chega não recua, avança. Se a missão fosse fortalecer o partido, dificilmente fariam melhor. A comunicação social, convencida da sua superioridade moral, continua a disparar contra Ventura como quem atira gasolina para um incêndio, e depois finge surpresa quando as chamas só aumentam.
Se o objetivo é impedir o Chega de chegar ao poder, é caso para dizer: parabéns, estão a fazer um trabalho notável, continuem… ao contrário.
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