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Direito, Jornalismo e desenvolvimento económico | iOnline
Lançam-se no mercado mais de mil licenciados em Direito por ano, que engrossam o número dos "inúteis" para a economia. Mas a indústria que os produz floresce
Acabamos de saber os resultados do acesso ao ensino superior para o próximo ano lectivo. Continuamos a ser um país que o que deseja é ter licenciados em Direito e em Jornalismo. Candidatos, professores e "papás", todos militam nesse propósito.
Fazem-no sabendo que juristas, em todas as suas epifanias, e jornalistas, há mais do quádruplo dos que seriam necessários. Que mais de 80% desses licenciados ficam no desemprego ou auferem o salário mínimo. Mas persistem. Já as engenharias, tecnologias, agricultura e pescas, ficam às moscas. Nem as vagas existentes são preenchidas em muitos desses cursos. E estes é que são os que podem formar quem desenvolva o país. Mas o objectivo não é formar o que é necessário para desenvolver a economia, mas o que nos permita continuarmos a ser o que sempre fomos: um país de muita conversa, muito processo, muito escândalo comunicacional, em que tudo se discute e nada progride. E por isso estamos em crises económicas sucessivas há mais de 30 anos. Aqui nos trouxeram as paixões dos políticos pela educação... Temos supostamente "a geração melhor preparada de sempre", mas sem as qualificações necessárias para desenvolver a agricultura, as pescas, a indústria, a tecnologia e tudo o que poderia fazer de Portugal um país desenvolvido. Em compensação temos milhões de leis e de processos judiciais inúteis, a par de um panorama noticioso que é o que é.
Porque será, então, que um comportamento económica e sociologicamente irracional tem tantos adeptos? A explicação é clara.
As faculdades de Direito necessitam, para justificarem a sua existência e a dos gigantescos corpos académicos que as integram, de que o máximo número possível de candidatos queira cursar Direito. É a única maneira de garantirem os orçamentos respectivos e os salários que auferem... O mesmo com as instituições que ministram cursos de Comunicação Social. Então abrem vagas.
Advogados, conservadores, notários, juristas em geral, são aos pontapés... a maioria sem conseguir sobreviver com o exercício da profissão. E magistrados também há em demasia, o que só um controlo de produtividade da justiça demonstraria. Mas se entrassem só 50 alunos por ano numa faculdade que hoje admite quase 500, então para que seria preciso um corpo docente de centenas de efectivos? O instinto de sobrevivência diz-lhes que, quantos mais alunos entrarem, mais facilmente sobreviverão. Já as "privadas" definham, mercê das leis do mercado.
A conclusão é a de que continuamos a lançar no mercado de trabalho mais de mil licenciados em Direito por ano, que engrossam o número dos efectivamente "inúteis" para a economia nacional. O mesmo para os formados em Comunicação Social. Mas a indústria que os produz floresce.
Quanto aos "meninos" e aos "papás", norteiam-se pelo raciocínio dos que querem ser futebolistas: esquecem que nem todos serão Ronaldos nem Zidanes. E que muitos nunca chegarão sequer a jogar nas divisões de honra.
Advogado, escreve à sexta-feira
Saragoça da Matta no jornal "I"
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