sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Reflexão-Saragoça da Matta

Pizzarias, Croissanterias e outras tonterias

Não há buraco que não seja transformado em residencial de quinta, decoradade madeira prensada e com pretensões culinárias e pasteleiras ridículas

O empreendedorismo português é admirável. Quando alguém descobre um bom negócio, tem todos os amigos, familiares e vizinhos a abrir negócios iguais!

Todos nos lembramos dos grandes negócios da década de '80: não havia vila, por pequena que fosse, que não abrisse um clube de vídeo. E ao lado, lá aparecia uma croissantaria. Parecia que o País vivia de películas VHS e de croissants com doce de ovos e de chocolate. E cada vez que se detectava uma dessas lojas numa povoaçãozita, logo nos espantávamos por abrir mais uma ou duas exactamente iguais nas ruas vizinhas. Foi uma década em que nos empanturrámos de croissants antes de ir ao clube de vídeo alugar o Rain Man, o Danças com Lobos e O silêncio dos inocentes.

Claro que de tanta proliferação de clubes de vídeo e de croissantarias, acabámos todos por enjoar o home vídeo e ficar enfartados de doce de ovos e de nutela. Os encerramentos foram ainda mais rápidos do que as aberturas, e em pouco tempo lá desapareceram todos. Para encontrar um croissant na década seguinte era preciso andar de candeia na mão e lupa... e os VHS desapareceram. Outra moda foram os milhares de franchises de roupa... as falências foram tão estrondosas que nem é bom lembrar.

Na década de '90 foi a explosão das pizzas: vendiam-se em lojas, por telefone, na rua... Era tal o desejo dos portugueses por pizza que não havia bairro sem pizzaria. Nem rua sem um cartaz de uma empresa de venda telefónica de pizzas. Além da Pizza Hut e da Telepizza, era a Phonepizza, a Piza na Hora, a Pizza na Braza e um sem número de outras anónimas. Embalávamos os serões entre pizzas marguerita e a Pocahontas, as Pontes de Madison County, o Bravehart, a Godzilla e o Dr. Dolittle -todas vistas em DVD, claro. Obviamente que também foi sol de pouca dura. Hoje sobram duas cadeias. Todos os demais negociozinhos de pizza desapareceram numa falência adivinhável desde o início.

No Século XXI centenas tornaram-se produtores de vinho. E outras centenas abriram lojas para o venderem. Não contentes, somaram-lhe os produtos gourmet. Ele é o Caviar Beluga e dezenas de sucedâneos mais económicos; "patês" aos milhares; azeites e vinagres com um sem número de ervas e outros aditivos. Ah! E os cafés com aromas, ou sem eles, que também inundam o mercado. Tanto gourmet só pode dar no mesmo que deram os clubes de vídeo e as pizzarias. Ao ponto de até no universo dos hambúrgueres terem surgido dezenas de restaurantes gourmet. Como se hambúrguer e "gourmet" sequer coubessem na mesma frase. A coisa é de tal modo aberrante que só num semestre no mesmo bairro contei 3 novas hambúrgueres. Em pouco tempo vamos deitar hambúrguer pelos olhos. Até lá o "modismo" fará circular o capital e esquecer a crise.

A par e passo surgiram os "hostais" e os B&B... não há buraco que não seja transformado em residencial de terceira, decorada de madeira prensada e de culinária duvidosa. Como se fosse hotelaria! É dar-lhes tempo...

Tudo isto será imaginação falha? Inépcia? Ou a pura, simples e proverbial inveja lusa?

Advogado, escreve à sexta-feira

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