(Gonçalo Portocarrero no Observador)Outro excesso recorrente neste drama: para cada bombeiro em acção há, pelo menos, cinco porta-vozes. Se a percentagem fosse a inversa, um informador para cada cinco bombeiros, provavelmente não havia tantos incêndios, nem seria preciso tanto tempo para os apagar. Mas não, todos têm que aparecer, todos têm que dar o seu parecer, todos têm que falar: fala o governo, pela voz do primeiro-ministro ou da ministra da administração interna; falam as autarquias, pelas pessoas dos seus presidentes, seguramente em campanha eleitoral; fala a protecção civil; falam os bombeiros; fala a Guarda Nacional Republicana! Não só falam todos, em simultâneo, sobre o mesmo, como ainda se divertem a contradizer-se: o autarca diz que o incêndio está extinto, mas os bombeiros dizem que só parcialmente está em fase de rescaldo, enquanto a protecção civil garante o contrário. Para uns, o fogo é num município, mas para outros é no seguinte, onde já lavram as chamas. Às onze da manhã noticia-se que caiu um avião, mas ao meio-dia afirma-se que, afinal, não se despenhou nenhuma aeronave. Um incêndio extinto para uma entidade, está apenas em vias de resolução para outra, porque não há uniformidade na informação e todos querem ter voto na matéria. Todos falam e ninguém tem razão, porque falta autoridade e coordenação.
(António Barreto no DN)Como foi possível desnaturar de tal modo a democracia e os costumes para se chegar a este ponto? Como foi possível deixar que esta democracia se parecesse com a ditadura aquando das inundações de Lisboa e de outros desastres, para já não falar dos feridos e mortos da guerra do Ultramar com os quais o governo tentava também fazer selecção e tratamento? Como deixaram os deputados, os magistrados, os militares, os médicos, os autarcas e os comandantes dos bombeiros e das polícias que se chegasse a este ponto?Que é feito dos homens livres do meu país? Estão assim tão dependentes da simpatia partidária, dos empregos públicos, das notícias administradas gota a gota, dos financiamentos, dos subsídios, das bolsas de estudo e das autorizações que preferem calar-se? Que é feito dos autarcas livres do meu país? Onde estarão eles no dia e na hora do desastre? Talvez à porta do partido quando as populações pedirem socorro e conforto.
(António Tadeu no DN)A mim, como a muitos outros integrantes deste grupo, interessar-me-ia ouvir o que tem Rui Vitória a dizer acerca do normal envelhecimento dos homens que ele já tinha substituído há dois anos - Júlio César e Jardel - e da necessidade de voltar a fazer deles primeiras escolhas ao mesmo tempo que tem de inventar mais um lateral direito, depois de ter feito nascer Nelson Semedo para substituir Maxi Pereira. Interessar-me-ia debater com Sérgio Conceição as razões pelas quais Aboubakar, que se tornara excedentário no papel de avançado de referência no FC Porto de Lopetegui, pode ser agora fundamental com Soares à sua frente - ou ao seu lado - numa equipa montada de acordo com princípios diferentes, mais explosivos. Interessar-me-ia ouvir a resposta de Jorge Jesus a uma pergunta sobre o efeito pernicioso que o sistema de três defesas que ele tem andado a testar tem na construção de jogo ou de que forma a colocação de William como um desses três pode garantir qualidade a construir desde trás.Em vez disso, temos os treinadores a lerem respostas ditadas a perguntas igualmente escritas previamente pelos mesmos guionistas e interpretadas por quem se limita a fazer um papel que devia ser bem diferente. Fica tudo em família. A este futebol digo: não, obrigado! Prefiro ir ao cinema ou ao teatro, onde pelo menos os atores têm mais jeito para a representação.
(Fernando Teixeira Mendes no "i")Este grave acidente deveria fazer a sociedade civil compreender as lacunas existentes na classe dirigente deste país e atuar com rapidez, pois cidadãos inocentes morreram porque o Estado não conseguiu garantir a sua segurançaA qualidade da democracia em Portugal está a afetar negativa e gravemente a vida dos cidadãos. Apercebi-me dessa evolução inaceitável, mas nunca pensei que as consequências fossem tão gravosas. Atualmente estão, infelizmente, bem à vista.Dessa evolução fez e faz parte, entre muitos outros aspetos, a não efetivação da reforma do Estado, por um lado, e, por outro, o facto de que sucessivos governos tenham vindo a depauperar o Estado de recursos técnicos absolutamente imprescindíveis. Conforme as áreas de atuação, optaram, posteriormente, por duas vias: subcontratar as tarefas a profissionais caríssimos e, muitas vezes, não preparados, ou pura e simplesmente permitir que o Estado deixasse de efetuar as tarefas a que está obrigado por lei.Não posso esquecer o incêndio que deflagrou há cinco semanas em Escalos Fundeiros. Muito lamento as mortes de tantos inocentes e, para as suas famílias, vão neste momento os meus pensamentos. Este grave acidente deveria fazer a sociedade civil compreender as lacunas existentes na classe dirigente deste país e atuar com rapidez, pois cidadãos inocentes morreram porque o Estado não conseguiu garantir a sua segurança. O problema não residiu nos operacionais no terreno, mas na sua falta, na falta de instruções para que atuassem corretamente e ainda na falta de resposta inqualificável aos inúmeros apelos feitos por cidadãos em pânico.
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