É por isso que se revêem dez, vinte anos depois e não cansa.

Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho a certeza absoluta. (Einstein) But the tune ends too soon for us all (Ian Anderson)
Entre os pingos da chuva
Portugal arde outra vez. E, cerca de 4 meses após as primeiras chamas em Pedrógão Grande, arde igual. Assiste-se à mesma impreparação operacional, ao mesmo descontrolo, aos mesmos lamentos, às mesmas caras, ao mesmo desespero das populações, às mesmas desculpas políticas. Tudo na mesma. E não tinha de ser assim: os erros fatais nos incêndios do Verão foram há muito identificados e, em termos operacionais, só não se promoveram mudanças por opção. Por opção política, entenda-se.A questão política está, aliás, bem explícita no relatório independente sobre o incêndio em Pedrógão Grande (que, num acto esclarecedor, António Costa apresentou sem ter lido). Relata o caos operacional que se viveu no terreno. Critica o amadorismo com que a Protecção Civil (invadida de incompetentes com cartão partidário) geriu os acontecimentos, prejudicando a segurança das populações. Sugere que vidas poderiam ter sido poupadas se decisões mais rápidas e acertadas tivessem sido tomadas. Denuncia o exibicionismo político que, no local, atrapalhou mais do que ajudou. Comprova a falha do SIRESP. Descreve a manipulação dos registos da linha temporal dos factos – feita, naturalmente, por alguém com poder para a alterar. E explica que, quando foram necessários, meios aéreos ficaram no chão por picuinhices – um helicóptero não foi utilizado porque estava a 42 km do incêndio, visto que os regulamentos estipulam 40 km como distância máxima autorizada.O relato de incompetências é demolidor. De-mo-li-dor. Mas, pelos vistos, não o suficiente para provocar consequências políticas ou inflamar a opinião pública. Porquê? Uma resposta possível é porque o PS conseguiu encaixar a divulgação do relatório independente sobre Pedrógão Grande entre o pós-autárquicas e o orçamento de estado. Quando toda a gente quer saber o que lhe vai cair a mais no bolso. Quando o PSD está às turras por uma nova liderança. Quando a acusação de Sócrates vê a luz do dia e toma para si a agenda mediática. Quando, por mais estrondosas que sejam as conclusões do relatório, o ruído à volta é ensurdecedor e dispersa e abafa tudo. Quando, no fundo, já ninguém quer saber. E o resultado está à vista: o que consta do relatório chegaria para fazer cair um governo, mas nem fará sair uma ministra.É tudo estratégia de comunicação? Chamem-lhe o que quiserem, mas é assim que o PS governa: passando entre os pingos da chuva. Não leu os relatórios. Não soube das informações. Não averiguou as acusações. Não esperava tal evolução dos acontecimentos. Não havia nada que pudesse fazer. Não lhe era possível prever que o mundo mudaria tão inesperadamente. Não era consigo, limitou-se a herdar as complicações. Não viu nada de suspeito nos comportamentos de com quem privou. Ninguém o alertou para situações menos correctas. Não tem a certeza de que os problemas realmente existam – no limite, não existem. Não consegue fazer nada contra a má-fé da oposição. No fundo, a haver culpas, pertencem aos outros.Uns dirão que a táctica é de génio – até porque, a confiar nas sondagens, funciona. Mas o que é mesmo é uma vergonha um país sujeitar-se a tamanha impunidade, abdicando do escrutínio democrático e sacrificando a confiança popular no Estado. Com 65 vidas em causa e o país novamente em chamas, até onde irá o calculismo do governo?Esse calculismo irá até onde Marcelo permitir que vá. O Presidente da República tem sublinhado a impossibilidade de o país permanecer sem respostas e sem apuramento de responsabilidades políticas. Mas, como já se tornou evidente, as suas recomendações terão pela frente a resistência dos socialistas, indisponíveis para aceitar que o seu governo falhou. Eis a prova de fogo presidencial. Para garantir justiça quanto a Pedrógão, Marcelo terá de a impor usando da sua força política e, talvez, quebrar a boa relação que tem mantido com António Costa. Estará disposto a isso? É bom que esteja. Perante a gravidade dos factos, um presidente que não sirva para isso, não serve para nada.
Beware of Social Media Celebrity Doctors
Too many of them offer advice outside their specialties, choose brand-boosting over integrity and tout dubious treatments
The celebrity doctor phenomenon is not new to Americans. With the release of his first baby-care book in the 1940s, Benjamin Spock became a household name by helping mothers across America feel more confident in their child-rearing skills, long before the age of social media and daytime television. Now, decades later, some of the most prominent players in the game of celebrity doctoring are integrative medicine expert Andrew Weil, cardiothoracic surgeon turned daytime television health guru Mehmet Oz, and television’s go-to-psychologist, Phil McGraw.All of these men have come under fire in the past, usually due to questions regarding the medical safety and efficacy of their recommendations. But the controversies surrounding them have hardly made a dent in the profitability of their longstanding empires or in the dedication of their fans. Doctors and researchers have been so riled up by the lack of medical evidence for the recommendations handed down by medical television shows that a 2014 study looked specifically at this issue. Not too surprisingly, only 54 percent of the recommendations studied had even one piece of medical evidence to back them up. And less than 1 percent were accompanied by disclosures of potential conflicts of interest.But now, in the era of social media influencers, celebrity doctoring is no longer exclusively available through the handful of physicians writing books or starring in television shows; it can be found across just about every social media platform. Medical bloggers, doctor instagrammers, and physician twitterati are all reaching out to the American public, and this is a slippery slope to disaster.What started as a way to improve professional development for physicians and help disseminate credible information for patients has slowly started to devolve into a world of glamour shots, with physicians often exaggerating their credentials at the expense of a gullible social media audience. As a result, social media has created microcosms of celebrity doctoring that have started to expand unchecked and unfettered, usually at the expense of their target audience.Today’s self-promoting physicians have strayed far from the “no advertising rule” in the original American Medical Association (AMA) Code of Ethics that was in place from 1847 to 1975—mainly to prevent the practice of medicine from turning into a practice of solicitation. And while the rule ended to allow hospitals and medical practices to work on public relations efforts for the betterment of healthcare, we have to wonder about the significant potential for harm that stems from often misleading and misrepresentative healthcare information coming from these physician social media accounts.With 2.5 million Instagram followers, Dr. Mike Varshavski is one of the most popular young physicians on the social media playing field. His account can often be entertaining, albeit misleading: many of his followers likely do not realize that Dr. Mike’s experience is very different from the experiences of the average American physician-in-training, based on previous studies looking at resident quality of life. This is fairly harmless, but he also ventures into some dangerous territory, where the line between physician and social media maven begins to blur. Recently, Dr. Mike’s Instagram account has been a collection of promotional photo shoots for companies ranging from Charmin to Kenneth Cole to Braun, raising the question of how appropriate is it for a physician to be profiting from Instagram views of posts on the same platform that provides medical commentary? Unfortunately, my requests for comments from Varshavski went unanswered.Pop-star status for physicians has the potential for harm, simply because of the power wielded by physicians who have such wide access to the American public. Thankfully, in many instances, the Food and Drug Administration has cracked down on misinformation and false claims from such celebrity physicians as Oz and Weil. Oz’s claims regarding potentially unsafe arsenic levels in apple juice caused unnecessary hysteria, while Weil’s claims for his immune boosting supplements came with zero evidence that they could in fact “ward off” swine flu.When the practice of clinical medicine begins to be trumped by individual physician brand-building, patient safety and well being can become endangered. And while many of the mega-media physicians often do face scrutiny for their practices, physicians who are merely social media celebrities attract less, even though they might have just as large an audience.I am not advocating for a witch hunt, but physicians should be held to high clinical standards across every platform in which they practice—from their clinics to their Instagrams. Unfortunately, clinical standards seem to disappear in the realm of social media, where private practice physicians tout affiliations with academic institutions that they truly have no day-to-day dealings with; pediatric physicians branding themselves as integrative medicine experts for adults; internal medicine physicians branding themselves as skincare experts; and even non-endocrinologists branding themselves as thyroid and adrenal gland experts and pioneering “hormone revolutions.” The list goes on ad nauseam. Maybe we should have kept some form of the AMA’s original “no advertising rule” around.Ultimately, there is an almost complete lack of evidence about the long-term effects of social media on the practice of medicine, and right now, there are several accounts that could potentially be deceiving their followers. So what can be done in the meantime? Take everything you see, read, and hear from social media physicians with a grain of salt. Google their credentials—because for nearly all physicians with legitimate training, this information is readily available online. Lastly, take some time to scrutinize those credentials to understand if their current area of medical practice is consistent with their training.It's wise to remember that not everything “natural” is safe, and not all “expert” advice is sound.
É tão estranho! Depois de quarenta anos de democracia e de cinquenta e oito eleições, os portugueses continuam a ser tratados como analfabetos, mentalmente débeis, fúteis e facilmente manipuláveis. Na véspera de uma eleição não se pode escrever, ler, discutir ou debater política directa ou indirectamente relacionada com a matéria em causa. Quer isto dizer, tudo! No dia da eleição, domingo, ainda menos se pode debater até às 20.00 horas.Neste dia, há outra característica curiosa: não se podem ou não se devem realizar desafios de futebol. Todos? Todas as competições? Só as principais? E as amadoras? E o hóquei em patins? E bilhar às três tabelas? E concertos de música? E cinema? Neste ano, por causa de um encontro entre o Sporting e o Porto, decidiu-se, a bem do consenso, adiar o desafio para as 19.00 ou 20.00, supondo que muita gente não iria votar porque estava ocupada a ver o futebol.A ideia que os políticos e as autoridades, na verdade uma boa parte das elites, fazem dos cidadãos alimenta a sua concepção de democracia: os portugueses, uns pobres diabos, vulneráveis, incultos e indefesos perante as forças do mal, têm de ser protegidos pelos esclarecidos a fim de cumprir os seus deveres cívicos.A inibição de partidos regionais vai no mesmo sentido. A proibição de invocar o nome de deus ou de utilizar designações que possam aludir à religião é do mesmo calibre. A interdição de associar uma instituição e de incluir a palavra Portugal ou de qualquer símbolo nacional nas denominações partidárias é semelhante. A proibição de candidaturas independentes nas legislativas é convergente, tal como os obstáculos burocráticos aos independentes nos casos em que são permitidos. As dificuldades em organizar referendos reforçam esta noção iluminada da política e da democracia. A exclusão da hipótese do referendo constitucional é do mesmo cariz. As regras que regulam a comunicação, especialmente televisiva, e que se propõem preservar o pluralismo, quando, no essencial, servem para proteger os partidos estabelecidos e controlar os limites da expressão, são um contributo valioso para o colete-de-forças democrático. Mas sobretudo, acima de tudo, a recusa dos votos uninominais e pessoais é um dos mais significativos indicadores da concepção elitista, vanguardista, jacobina e partidocrata da nossa democracia. Depois destas eleições, a vida continua. A Terra anda à volta do Sol. O maior escândalo financeiro da história de Portugal, o caso BES/GES e companhia, continua à espera. O maior assalto político ao poder das últimas décadas, o caso Sócrates, espera por avanço. O mais grave acidente de segurança nacional do último século, o caso de Tancos, aguarda esclarecimento. O mais dramático acidente nacional (e, no grupo de incêndios florestais, um dos maiores do mundo), o caso de Pedrógão e vizinhanças, permanece na obscuridade da ocultação deliberada. Estes são os casos que nos esperam. A que estas eleições não respondem nem tinham que responder. Mas cujos resultados vão talvez ajudar a resolver ou, pelo contrário, contribuir para enterrar.Até porque estas eleições são mesmo interessantes. Têm, evidentemente, como sempre, leituras locais, regionais e nacionais. Vão permitir aferir os partidos, um a um, assim como os seus equilíbrios internos, em particular do PSD, à beira de uma crise muito séria. Vão ajudar a rever as posições de força dos dois partidos de extrema-esquerda que apoiam os socialistas e o governo. Darão um contributo valioso para medir a relação entre políticos e cidadãos. Vão ser mais uma medida da abstenção e do interesse dos portugueses pela "coisa pública", pela administração, pelo bem comum.