quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Reflexões - Vários

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Ao que eu respondo que as escolas de Economia entraram num profundo défice de formação quando os cursos se encurtaram e os estudantes de Economia deixaram de aprender política, saindo de lá convencidos de que as economias funcionam num universo socialmente abstracto e não em contextos sociopolíticos perfeitamente definidos. E ignorando que sem perceber adequadamente estes contextos, como funcionam e interagem, não sabem como funciona a economia. Não é por acaso que a vetusta LSE inglesa se chama efectivamente London School of Economics and Political Science.
A tudo isto acresce o défice congénito da classe política, que sabe muito de politiquice mas muito pouco de ciência política e sobretudo de geopolítica. E que por isso não consegue sequer perceber o que está em jogo no futuro do país. Por isso, o Estado (e grande parte das elites) não tem pensamento estratégico e o país não tem um Conceito Estratégico Nacional propriamente dito.
Vitor Bento (DN 20.01.2018)


...A Comissão Nacional de Eleições zela por nós com um desvelo de jardim-escola, definindo o que devemos e não devemos fazer no dia das eleições. Nada de futebol nesse dia; nem sexo, nem carnes vermelhas, nem saltar ao eixo – só eleições. Qualquer outra atividade pode “potenciar a abstenção”. Como somos gente que se distrai por tudo e por nada, o governo prepara-se para “proibir espetáculos desportivos em dia de eleições” – o que se aceita desde que, no resto do ano, se proíbam políticos de se ameijoar na tribuna dos estádios a dar abracinhos aos dirigentes do futebol. Peço humildemente ao governo que na sua lei não se esqueça de mandar encerrar os cinemas e os teatros, bem como livrarias, cervejarias de bairro, restaurantes tailandeses e bares de strip-tease. Em caso de eleições durante o estio, vede-se o acesso às praias ou expulsem-se os banhistas a partir do meio-dia; durante a invernia, as autoridades podem perfeitamente proibir a chuva e os passeios à Serra da Estrela (para onde, já agora, serão desterrados os que faltarem a sessões no parlamento para ir ver jogos de futebol).

Francisco José Viegas no blog "A origem das espécies" (Set2017)



...Terça-feira. A PSP coloca um aviso na sua página de facebook explicando aos jovens que não devem engolir cápsulas de detergente. Isto é Portugal em 2018: o Governo proíbe as crianças-pais de comerem queques nos bares dos hospitais já a PSP faz comunicados explicando às crianças-filhos que não devem engolir cápsulas de detergente.
Ao confundirmos a sociedade do bem estar com um estado-recreio acabámos desconcertados num mundo em que os governos, para mais se socialistas, determinam desde os ingredientes das sandes à composição sexual dos conselhos de administração das empresas e em que consequentemente proliferam a desresponsabilização e a imbecilidade.
(Helena Matos no Observador 21.01.2018)

...Mas não é preciso sequer pensar muito para se perceber que nem os jogadores que compõem o atual plantel do Sporting nem o futebol do clube têm um passado recente de muitas vitórias. As exceções serão Coentrão e, até certo ponto, Mathieu. Os outros, mesmo que a política desportiva do clube tenha mudado com Bruno de Carvalho, podem mesmo ter desenvolvido um determinado nível de resignação próprio daqueles para quem não ganhar é o mais normal e, por isso, aceitável. Rui Patrício é um guarda-redes de classe Mundial, já é o segundo jogador que mais vezes representou o Sporting - e em breve será o primeiro -, mas não sabe o que é ser campeão nacional. Como não o soube Luís Figo, como o não souberam Cristiano Ronaldo ou Nani.
Como se muda isto? Com todos os defeitos que tem, sobretudo na comunicação obsessiva e muitas vezes incorreta acerca dos adversários, Bruno de Carvalho tem feito por isso. Passou a recusar a saída dos jogadores antes de atingirem um determinado nível de serviços prestados. Está a reforçar a equipa de uma forma massiva, apetrechando-a de soluções que, em termos futebolísticos, lhe adivinham melhorias. Se é uma aposta consciente ou uma fuga para a frente, capaz de levar o clube a grandes dificuldades, o futuro o dirá - e este texto nem é acerca disso. Mas tomara o Sporting que mais jogadores tivessem sentido os índices de revolta de Coentrão depois do empate em Setúbal, ainda que sem partir nada. E tomaram os sportinguistas que ser "feito de Sporting" fosse aquilo e não as promessas tantas vezes repetidas de "levantar a cabeça" e esperar com resignação por dias melhores.
(António Tadeia no DN 20.01.2018)

...Algumas das 88 propostas do pacto da justiça têm o seu interesse, outras não fazem qualquer sentido. Mas a ideia que subjaz ao pacto é uma ideia perversa. Ao exigir-se que os operadores judiciários se ponham de acordo para, depois, os políticos executarem esse acordo, está-se a enfraquecer a capacidade reivindicativa dos profissionais e a contribuir para irresponsabilizar os agentes políticos na área da justiça. Na verdade, os consensos obtidos entre entidades com sensibilidades muito diversas são, normalmente, apenas sobre questões vagas, impedindo assim a resolução das questões verdadeiramente importantes. O pacto da justiça corresponde, por isso, a uma solução neocorporativa, totalmente inadequada a uma democracia avançada. Os advogados e os cidadãos podem fazer uma simples pergunta: a sua situação melhorou ou piorou em consequência das medidas do pacto da justiça anterior? A meu ver, a resposta é que piorou consideravelmente. E o mesmo se vai passar em resultado do pacto agora assinado.

(Luis Menezes Leitão in jornal "I" 23.01.2018)

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