segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Reflexão - Arlindo Oliveira

Prof. Arlindo Oliveira in Público (Quantos afinadores de piano existem em Lisboa?)

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O método de Fermi consistia em partir o problema em pedaços, usando estimativas, possivelmente grosseiras, que pudessem ser combinadas para estimar a ordem de grandeza da resposta. Em Lisboa, área metropolitana, vivem cerca de três milhões de pessoas. A uma média de duas pessoas por habitação, existem 1,5 milhões de habitações. Digamos que uma em cada 30 habitações tem um piano que é a􀃆nado regulamente, uma vez por ano (esta é a estimativa mais difícil). Nesse caso, existirão (cerca de) 50.000 pianos afinados, em cada ano, na Grande Lisboa. Um afinador de pianos que afine quatro pianos por dia e trabalhe 48 semanas por ano conseguirá afinar cerca de mil pianos por ano. Serão então necessários cerca de 50 afinadores de piano para afinar regularmente os pianos da Grande Lisboa.
Este valor, obtido com esta metodologia, reconhecidamente aproximada e falível, chama-se, na gíria, uma estimativa de Fermi. A metodologia, porém, é geral, e pode ser aplicada a muitos problemas, uns mais fáceis, outros mais difíceis. Quanto é que cada cidadão português deve, como consequência da dívida do Estado português? Quantas pessoas morrem, em cada hora, em Portugal? Quantos litros de cerveja são consumidos em Lisboa, por ano? Quantos ginecologistas são necessários, em Portugal? Quantos professores devem as universidades portuguesas contratar, em cada ano?
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...Se, de facto, a nossa civilização for a única da galáxia, então resulta necessariamente da combinação dos efeitos de duas explicações possíveis: ou o aparecimento de inteligência é um fenómeno muito raro, e pode, no limite, só ter acontecido na Terra; ou as civilizações inteligentes aparecem com frequência mas extinguem-se rapidamente, e nunca se encontram umas às outras. Em qualquer dos casos (quer existam outras espécies inteligentes quer se venha a descobrir que a inteligência é muito rara na galáxia) temos
uma responsabilidade enorme de preservar o património ambiental e biológico que existe
neste planeta que, pelo menos para nós, é único. Está nas nossas mãos definir as
políticas ambientais, societais, económicas e ecológicas que permitam preservar, para o
futuro, este património único. Isso deverá ser feito de uma forma ambiciosa, mas realista,
definindo metas exequíveis e passos concretos para as alcançar

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