sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Reflexão (LBC) - Andebol (Campeonato do Mundo)





Em defesa de uma modalidade moderna (LBC)


Quando vejo um jogo como os das meias finais ou o da final do recente campeonato do Mundo de andebol no Egipto, interrogo-me, sistematicamente, qual a equiparação possível e qual o misterioso encanto que terão os jogos de outras modalidades colectivas em comparação com esta. Exasperado, no limite, ou por absurdo se se quiser, e eternamente perplexo pelo fascínio que o futebol parece ter, mesmo junto de pessoas inteligentes, questiono-me: o que é que uma disciplina como o andebol tem de comparável com o futebol?


Quando uma modalidade tem uma média de quase um golo por minuto, o que existe de semelhante no futebol? Um golo, dois em noventa minutos?…

Quando existe uma avassaladora superioridade do ataque sobre a defesa com o consequente espectáculo, o que existe de semelhante no futebol? Uma avassaladora superioridade da defesa sobre o ataque com horas e horas de passes infindáveis e jogadas sem nexo.

Quando existe uma “estética” - parafraseando os “tontó-intelectuais” de certas artes -, inigualável como a que se vê, por exemplo, seja nas impressionantes, espectaculares (e sucessivas ao longo do jogo!) defesas dos guarda redes ou no bailado e na coordenação do jogo aéreo, o que existe de semelhante no futebol? Um remate de bicicleta do Ronaldo ou um golo de meio campo do Ibrahimovic, em chapéu, de cinco em cinco anos ?…

Quando se compreende, e justifica, a agressividade existente nos confrontos na defesa, o que existe de semelhante no futebol? Entradas maldosas sem a punição devida, agressões consecutivas, cartões amarelos às dezenas, fingimento sucessivos, etc., etc.

Quando se vê qualquer jogador ou elemento do banco a ser penalizado por dois minutos por comportamento incorrecto, o que existe de semelhante no futebol? Bem, o que se vê e ouve: jogadores a chamarem tudo aos árbitros, treinadores a insurgirem-se contra decisões, etc.

Quando um jogador sofre uma lesão e está três jogadas sem intervir, o que existe de semelhante no futebol? Os jogadores generalizam o fingimento de lesões sem serem admoestados ou, quando o são, lá está, levam cartão amarelo,…de ano a ano.

Quando se vê a correcta punição de dois minutos ou a exclusão por expulsões acumuladas, o que existe de semelhante no futebol? O perdão porque foi a “primeira falta” e para "não estragar o jogo", a disparidade de critérios da arbitragem, empurrões a eito em situações habituais como as de pontapé de canto, etc.

Quando se vê a protecção efectiva (seja das regras e da arbitragem, seja dos opositores que os defendem), que os pontas têm nas entradas aos 6 metros, o que existe de semelhante no futebol? O desaparecimento quase completo do chamado “individualismo” pelo medo que os intervenientes têm das consequências do “um para um”.

Quando se vê a efectiva concretização de um sistema táctico em campo com criação de reais vantagens (como a que se viu na mudança do sistema 6/0 para o 5/1 na recente final, por parte da Dinamarca), o que existe de semelhante no futebol? Tempo e tempo com a bola para trás e para a frente, passes milimétricos de três metros para o lado, o ataque a ser perfeitamente obstipado pelas defesas, etc.

Quando se vê o aproveitamento integral do tempo de jogo, com as paragens cirúrgicas e correctas, o que existe de semelhante no futebol? A “compensação” aleatória no final do tempo regulamentar, um tempo de jogo útil de cerca de metade do real sem a reposição do tempo que foi efectivamente perdido, jogadores a abandonar o terreno do jogo conforme o resultado seja ou não do seu interesse, minutos e minutos perdidos na reposição da bola em campo, etc.

Quando se vê um passe do guarda-redes para um contra-ataque para o lado liberto do seu atacante, o que existe de semelhante no futebol? Cruzamentos sem nexo e a eito para a grande área, passes para o guarda-redes mas na direcção da baliza, etc.

Quando vejo a genuinidade e espectacularidade  de um jogo de andebol, o que existe de semelhante no futebol? Não sei! 

Tenho a ideia de que o andebol é a modalidade colectiva, a par do rugby, que mais bem equilibrada está tanto no balanço entre ataque e defesa, como nas dimensões do campo e baliza como, finalmente, no número de participantes.
A agressividade que é inerente à modalidade foi finalmente e na maioria dos casos, controlada, e os intervenientes estão mais protegidos do que há quarenta anos.


In defense of a modern sport


When I see a game like the semi-finals or the final of the recent Handball World Cup in Egypt, I systematically wonder what match possible and what the mysterious charm have  other collective modalities compared to this one. Exasperated, on the edge, or absurd if one wants, and eternally perplexed by the fascination that football seems to have, even with intelligent people, I wonder: what does a discipline like handball have to match football?


When a sport averages almost one goal per minute, what is similar in football? One goal, two in ninety minutes?...

When there is an overwhelming superiority of attack on defence with the consequent spectacle, what is similar in football? An overwhelming superiority of the defense over the offense with hours and hours of endless passes and unrelated plays.

When there is an "aesthetic" - paraphrasing the "intellectuals" of certain arts - unmatched as one sees, for example, in the impressive, spectacular (and successive throughout the game!) defenses of the goalkeepers or in the ballet and in the coordination of the aerial game, what is similar in football? Ronaldo's bicycle shot or a midfield goal from the Swede in a hat every five years ?...

When one understands, and justifies, the aggression that exists in the clashes in defense, what is similar in football? Mean entries without due punishment, consecutive assaults, yellow cards to the douzens, etc., etc.

When you see any player or member of the bench being penalised for two minutes for misconduct, what is similar in football? Well, what you see and hear: players calling everything to referees, coaches to rise up against decisions, etc.

When a player suffers an injury and is three plays without intervening, what is similar in football? Players generalize the pretense of injuries without being admonished or, when they are, there it is, they carry a yellow card,... from year to year.

When you see the correct two-minute penalty or the exclusion for accumulated expulsions, what is similar in football? Forgiveness because it was the "first foul" and for "not spoiling the game", the disparity of refereeing criteria, pushes in usual situations such as corner kick, etc.

When you see the effective protection (whether from the rules and the refereeing, or from the opponents who defend them), that the corner players have in the entrances to 6 meters, what is similar in football? The almost complete disappearance of so-called "individualism" by the fear that the actors have of the consequences of the "one to one".

When you see the realisation of a tactical system on the pitch creating real advantages (such as the one seen in the change of the system 6/0 to 5/1 in the recent final, by Denmark), what is similar in football? Time and time with the ball back and forth, millimeter passes of three meters to the side, the attack to be perfectly obstiped by defenses, etc.

When you see the full use of game time, with the surgical stops and correct, what is similar in football? The random "compensation" at the end of regular time, a useful playing time of about half the real without the replacement of the time that was actually lost, players abandoning the ground of the game as the result is or is not of interest, minutes and minutes lost in the replacement of the ball on the pitch, etc.

When you see a goalkeeper pass to a counterattack to the side freed from your striker, what is similar in football? Crossings without a goal to the great area, passes to the goalkeeper but in the direction of the goal, etc.

When I see the genuineness and spectacularness of a handball game, what is similar in football? I don't know, i really don't know

I have the idea that handball is the collective modality, alongside rugby, which is better balanced both in the balance between attack and defence, as in the dimensions of the field and goal and, finally, in the number of participants.
The aggressiveness that is inherent in the sport has finally been and in most cases controlled and the actors are more protected than forty years ago.

3 comentários:

  1. Nem mais, Luiz, sem dúvida! O único desporto em que consigo adormecer, quando estou a ver, é mesmo o futebol. A ver voleibol, andebol, futsal ou râguebi,apenas a título exemplificativo, fico sempre "colado". O futebol é um mundo à parte, a todos os níveis, e não por bons motivos...
    Abraço.

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  2. Excelente análise querido amigo LBC. Sempre desafiante e com sentido crítico bem apurado. Enfim, muitas questões que ficam sem resposta mas nós, aqueles que sempre estiveram e estarão ligados ao desporto, continuamos a admirar a beleza do desporto que é praticado com excelência e ficamos pregados à ação… independentemente da modalidade. Sobre o Futebol… será que o podemos ainda considerar um desporto? Continuo, ingenuamente ou não, a pensar que sim, quando vejo o MU,o Liverpool, o MC,etc sinto que vale a pena investir o meu tempo. Sobre a Liga Portugal no comments… claro que o meu Benfica continua a pregar-me ao televisor já que agora, ir ao estádio continua a não ser possível!! Não quero com isso dizer que goste do que vejo, deve ser de coração :-)

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  3. Concordo, em grande parte, e não é por ter sido jogador de andebol, no Belenenses, nos infantis...

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