terça-feira, 23 de agosto de 2011

Livros - Adriano Moreira

Conjunto de reflexões sobre o mundo, a Europa, a história, etc., numa série de comunicações diversas. Apesar de ter, pontualmente, argumentação repetida, decorrente do facto de ser um repositório de palestras várias, não é de mais recordar temas que nos deviam preocupar a todos, e não somente ao autor do livro.
Pessoas como esta, com esta lucidez, actividade, e apesar da idade, estão em extinção. E nós alegremente irresponsáveis perante o desabar do mundo. E, claro, cada vez mais sós...

Alguns excertos


"A velocidade da comunicação serve mais frequentemente a divulgação, em tempo real, dos conflitos, das suas consequências, agravando herdados capitais de queixa, do que serve o melhor conhecimento recíproco das identidades envolvidas, ou uma clarificação das causas e dos motivos da quebra da paz, ou projectos de construção de um futuro cooperante.

O resultado alarmante são as colónias interiores, com expressão física em bairros degradados, a quebra de confiança da sociedade civil, a criminalidade inerente à vida sem esperança,...

Este é um dos efeitos mais determinantes para que os empresários, na lógica da busca do lucro, reajam, deslocalizando a produção para lugares que atraem, conforme as circunstâncias, ou pelos salários mais baixos, ou pela maior eficiência dos trabalhadores.

(Eça de Queiroz) "Fomos à Índia, é verdade, mas quase três séculos são passados, e ainda estamos descansando, derreados, desse violento esforço, a que nos obrigaram alguns aventureiros que tinham pouco do fundo comum da nosa raça..."

...a essência do projecto não é a redução do tempo de retenção dos estudantes nos claustros (3+2;4+1;5+0), é rever o programa de competências que o ensino deve acreditar, não já para o território e população nacionais de cada estado-membro, não para os noventa e dois mil kilómetros quadrados portugueses, mas para o povo e mercado que se estende do Atlântico aos Urais...

Admitir que um discurso possa ter como resposta desencadear movimentos de massas que desrespeitam templos, que apelam ao combate, que apoiam o recurso a repetiçôes do 11 de Setembro, não tem fundamento em Livros Santos, tem que ver com a natureza internacional do estado que os consente, ou que os apoia, ou que os inspira.

Um velho camponês das minhas terras transmontanas dizia-me uma vez que o anúncio da velhice estava na boca dos filhos quando começavam a aconselhar aos pais o melhor lugar junto ao fogo da lareira, o agasalho mais conveniente para ir à missa, a desnecessidade de se ocupar das colheitas.

...tendo o petróleo no lugar que as especiarias tiveram na expansâo portuguesa para a Índia, e o proclamado objectivo da democratização no 
lugar da evangelização.

...as coisas ou estão de acordo com o Islão ou se ou se opõem a ele. As pessoas são crentes (muçulmanas) ou não são crentes (kafirs). O território é terra de Islão (Dar-al-Islam) ou é terra de pagãos (Dar-al-Harb). A guerra é justa (jihad) ou não é justa (fitna).

A perversão do nosso tempo é que o terrorismo global aponta para um sistema que introduz valores religiosos no conceito estratégico que proclama, e oferece a salvação em troca da conquista do poder pela vitória armada.

...a utopia do mercado cobriu o comèrcio das armas ligeiras, o comércio das drogas, o comércio das tecnologias de ponta, a proliferação das armas de destruição maciça, a liquidação das economias tradicionais, as deslocalizações das indústrias, o desemprego;...

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