terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Reflexão-Saragoça da Matta ("i")


Mistério público | iOnline

Na passada semana fomos todos surpreendidos na madrugada de sexta-feira com a bombástica notícia de que um dos pilares da moralidade económico-financeira do Estado estaria alegadamente envolvido (enquanto “buscado”, apenas!) numa mega operação de investigação criminal, daquelas a que os investigadores gostam de crismar com nomes sugestivos. Nomes que fazem lembrar as grandes operações de investigação conduzidas “lá fora”… Dariam até títulos para películas de 007. Tais nomes dão à Justiça portuguesa um ar de modernidade! Haja algo!

Mais concretamente, na imprensa que já estava escrita, impressa e embalada para distribuição na quinta-feira à noite, para estar nas bancas sexta de madrugada, vinha escarrapachada a realização de diligências “secretas” de buscas e apreensões, detenções, nessa mesma quinta-feira.

Tomando por óbvio, por ser de bom senso e resultar da experiência comum (um dos critérios que a lei manda os juízes utilizarem ao julgar), que os buscados e detidos são quem menos interesse tem nesse tipo de publicidade, fica no ar uma dúvida incómoda para quem faz da Justiça efectivamente a sua missão: quem terá colocado as “novas” na imprensa? A quem interessava que se soubesse que tal “trabalho” havia sido feito? E quem conseguiria, com tanta rapidez, colocar as notícias na imprensa, de molde a que meia dúzia de horas depois dos factos terem tido lugar, já estarem postos em letra de forma?

Eu não faço a mais pequena ideia acerca da identidade de quem violou (também neste caso) o segredo de justiça, mas presumo que aos buscados fosse um tipo de publicidade que não interessaria de todo. Às suas famílias, e empregados, muito menos, por razões igualmente óbvias. Ninguém gosta de ver os seus, ou de quem profissionalmente se depende, com o nome enlameado, quem sabe sem razão!

Por outro lado, a quem não participa das investigações seria impossível saber da existência das diligências… por isso nem eu, nem quase dez milhões de portugueses, soube de nada até ver as capas dos jornais de sexta-feira nas televisões à uma da manhã. Logo, “nós”, terceiros, também não poderíamos ter sido!

Quem terá sido então? O Gato das Botas? O Coelho apressado da Alice no País das Maravilhas? A Rainha de Copas, personagem de má índole? O Capitão Gancho, que é vingativo? Ou a fada dos dentes?

Mas, Portugal, tem calma! Tudo será esclarecido! És um Estado de Direito. E democrático. Tens instituições democráticas, a funcionar regularmente. Senão o teu Presidente da República já teria zurzido em alguém, com veemência, em face de tão clamorosas violações da lei e da Constituição da República.

Assim que possamos todos estar descansados. Havendo um corpo pago pelo erário público para fazer investigações e juízes igualmente pagos por todos nós para tutelar os direitos dos cidadãos, há-de descobrir-se quem foi que tão rapidamente publicitou na imprensa escrita o que devia estar no segredo das investigações! Eu, tenho fé! Mas… é só uma fé!

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