sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Reflexão - Saragoça da Matta

A sorte política de Portugal está traçada. E aborrece. Todos sabemos onde vai dar: a nenhures! A parte alguma nos conduzem, apesar de estarmos própria e devidamente ajaezados. Uma retrospecção mostra que o futuro, rebus sic stantibus, será igual ao passado. Seja na vida pessoal, seja na colectiva, não podem esperar-se mudanças sem alteração de atitudes. E se é difícil encontrar novas atitudes na vida individual, é virtualmente impossível modificá-las num colectivo.

Pior que tudo, temos por essência aceitar sempre, e de bom grado, o cabresto, o freio e as esporas! A confiança na perícia dos caudilhos é cá sebastiânica. E o busílis está aí: têm sido o que se vê! Desde os que mansamente nos sangram até onde podem, até aos que, alardeando mudança do rumo, apenas continuam as sangrias. "É preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma", disse alguém um dia. Esses caudilhos, de comum entre si, têm sempre o mesmo denominador: a auto-preservação. Ora cavalgam a montada usando selas distintas, ora, cansados desta, saltam para montadas noutras paragens. Sempre aprumados e sorridentes. E saindo sempre abastados.

Os últimos anos, fossem de oficial fartura, fossem de assumida crise, foram sempre e apenas anos de abundância de crédito. Festivais de aparência política. Galas de sacrifício do futuro de gerações aos objectivos dos partidos. A desfaçatez levou a erigir em filosofia do Estado o princípio de que as dívidas não são para pagar: como se a prudência, o bom senso e até a Justiça não exigissem precisamente caminho inverso.

A máxima da condução do todo tem sido o "quem vier a seguir, que feche a porta"! Se Portugal sempre sobreviveu, não há-de ser agora que acaba. Mas o que pode acabar não é Portugal. É a qualidade mínima de vida da classe que produz. Mas isso pouco importa, se a base e o topo estiverem contentes: aí segue a máxima do "pão e circo".

Entre os apertos de cinto de Soares e os festins de Cavaco, entre a tanga de Barroso e os tempos de prodigalidade de Guterres e de Sócrates, só há uma certeza: a de que as esperanças de desenvolvimento económico, industrial e tecnológico de Portugal morreram... sem culpas! Ficam as tristezas e angústias dos que descreram do regime. E fica a inércia dos demais, que se vão intoxicando com as oficiais liberdades civis e políticas para olvidar a miséria económica da Nação. Infelizmente, o volume dos inertes é milhares de vezes superior ao dos descrentes.

Por isso, aproximando-se eleições, temos um Governo que agora diz ponderar o aumento do salário mínimo, que sempre recusou; que tendo subido impostos como nenhum outro o fez na história, agora diz desagradar-lhe o que fez. Também por isso temos um líder da oposição que sempre foi contra os aumentos de impostos, mas confessa agora que não os baixará. E temos, por fim, dois candidatos a líder da oposição entretidos em guerrilhas pessoais, mas sem darem a conhecer qualquer ideia que possa mesmo mudar o rumo de Portugal.

Em qualidade política estamos na mesma desde os tempos d' "A Pátria" de Guerra Junqueiro!

Advogado, escreve à sexta-feira

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