sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Argélia-o regresso

1-“Peço desculpa”…deste interregno.
Sinto-me, por vezes, um eremita nos tempos que correm. Por tudo e mais alguma coisa. Mas neste caso específico, olho com o queixo redobradamente caído para a tv, e pasmo.
Sinto-me verdadeiramente à parte, sem perceber o que passa pelas cabeças de certas figuras públicas que, em vez de terem tino na língua e contenção no pensamento, se devem sentir obrigados a vomitar, ou aquilo que está na moda, ou a primeira coisa que lhes passa pela mente.
Depois dos Ministros da Educação e da Justiça se terem desculpado, chegou a vez dos nossos “novos” selecionáveis Tiago e Ricardo Carvalho, pedirem desculpa por atitudes do passado.
E a malta, desculpabiliza-os.
Bem, vamos ver se isto não alastra aos outros políticos, mas sobretudo, se não chega às prisões…
2-Vou partir da Argélia com o sentido do dever, uma vez mais, cumprido. Mas também com a certeza da origem das razões que poderão estar na origem de tanto ódio e inveja aos ocidentais. Depois de seis meses aqui, é possível adivinhar o que perpassa pelas mentes de quem vive desta maneira e neste grande canto do mundo. Quando se diz que a Argélia é auto-sustentável, ou não deve dinheiro a ninguém, como é voz corrente no povo com quem lidei, não se enxerga o alcance desses slogans, feitos pelos políticos para taparem o muito sol, com a pouca peneira.
As condições de vida da maior parte da população são francamente degradantes. São felizes? Claro que sim. E tal como com os nossos antepassados de há quinhentos anos, com o beneplácito da religião. É esta a grande razão que está na origem deste adormecimento generalizado, e de esta acomodação às fatalidades da vida.
Quando se vive diariamente a comer pão com azeitonas e omoletes com as mãos, numa barafunda de trânsito asselvajado onde nas filas se chega a subir para o passeio para passar à frente dos outros, nas bichas desordeiras dos supermercados, numa sociedade onde é normal as crianças guincharem em sítios públicos, onde vi mulheres a serem esbofeteadas ao ar livre, nas sucessivas festas com foguetes e buzinadas seja por causa do futebol ou por outra razão que não descortinei, quando se prega a religião pelas 4 da manhã, quando se aceita a hierarquia pelo medo, sem contestação, quando o lixo é a paisagem pública por excelência, esta é sem dúvida uma sociedade condenada.
Claro que, depois, tudo se agudiza quando confrontados com a realidade da vida ocidental, e com a qualidade de vida que se visualiza em qualquer documentário ou anúncio.

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