Recursos digitais abertos, mentes fechadas
Reproduzimos, abaixo, o comentário de um leitor. Sendo polémico, obriga a pensar.
Recentemente, no concurso de TV “Quem quer ser milionário?”, foi efetuada uma pergunta do género “Em que década do séc XX se deu a grande fome na Ucrânia, conhecida por Holodomor?” (Hipóteses de resposta – 30, 40, 50, 60). O concorrente decidiu utilizar a ajuda telefónica. Quando estava a meio da leitura da pergunta ao telefone, a sua “ajuda” pede-lhe para ler mais devagar (certamente para poder digitar no google palavra por palavra, que é o que todos fazem hoje em dia, sem pensar em mais nada). O concorrente lá foi lendo, palavra por palavra, mas é óbvio que, quando se acabou o tempo limite (30s), nem sequer tinha acabado de ler toda a pergunta!..
O que mostra este exemplo? Várias coisas:
1 - Mostra que o concorrente não era muito versado em história recente (embora, em função da questão em causa, isso pudesse não ser considerado particularmente grave);
2 - Mostra que a “ajuda” padecia da mesma condição do concorrente; (a partir de agora é mais grave);
3 - Mostra que a “ajuda” era analfabeta funcional, pois não era capaz de reproduzir em escrita uma frase completa que tinha acabado de ouvir, necessitando que lha ditassem palavra por palavra!;
4 - Mostra que a “ajuda” não sabia fazer pesquisas na net, dado que, em vez de escrever frases completas, devia procurar por palavras o mais especificas possíveis (neste caso concreto, a palavra “Holodomor” dar-lhe-ia de imediato a chave para o que procurava…mas seria um problema – teria de se ditar a palavra letra por letra!…);
5 - Mostra que a “ajuda” deposita a responsabilidade pela supressão da sua ignorância numa tecnologia que nem sequer domina, o que é natural: Se não se esforçou para eliminar a primeira, é natural que não se esforce para dominar a segunda;
6 - Mostra que a “ajuda”, ao contrário de Sócrates (do original), nem sabe que nada sabe…
O concorrente acabou por escolher a hipótese “60” (ainda por cima) e perdeu…
Outro exemplo recente, no mesmo concurso, foi a pergunta “Em que estado americano se localiza a cidade de Corpus Christi?” Como explicar em 30s à ajuda telefónica como se escreve “Corpus Christi”? O que é “latim”?! O que é “Corpo”?! O que é “Cristo”?!...
Enfim, todo um mundo por descobrir, mas a Comissária Europeia diz que não há problema porque existe toda uma “aprendizagem ao longo da vida”…esperemos que a vida seja longa, porque o atraso é muito!
Recursos digitais abertos – mentes cada vez mais fechadas!
Dervich
(In blog Rerum Natura)
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