Bom
artigo camarada, mas...
Tudo
bem, admitamos que o real problema "somos nós"!E agora, é suposto batermos palmas pela brilhante conclusão ou sentarmo-nos a curtir a depressão (entenda-se, uma "depressinha" à portuguesa)?
Acho brilhante dissertar e concluir, mas e depois?
Lembro-me de, já em criança, ouvir dizer que "Olhão era mãe para os "de fora" e madrasta para os "filhos da terra"", agora é a tolerância desmedida para com os "terceiros" em detrimento dos autóctones... como diria o Remarque: nada de novo na frente (agora) oeste.
Em tese, nada me move contra cidadãos islâmicos, ou judeus, ou nórdicos ou mesmo abexins! Que isto fique claro.
Mas, não percebo como se afigura pacífico, senão mesmo consensual, a aceitação de comunidades.
Eu explico, nada tenho a objectar que cidadãos de uma diferente crença religiosa se integrem num mesmo espaço laboral, social ou mesmo afectivo no qual eu me encontro inserido. Não me afecta a liberdade de culto.
Mas... essa realidade não é aplicável a comunidades.
Partilho um espaço com cidadãos que se integrem na minha comunidade. É exactamente o que me é imposto quando me desloco a comunidades islâmicas (no caso). Não é em vão que se diz: "Em Roma sê romano", para quê inventar?
Agora, reportando-nos ao artigo. O articulista também não refere que nas últimas décadas do século passado a nação francesa encontrava-se em declínio, aliás como a maioria das nações europeias, depois efectuou uma aposta séria na inversão. Aumentou o regime de incentivos à natalidade e aos apoios sociais, e a verdade é que recomeçou a crescer. Esqueceram referir que isso foi essencialmente à custa de imigração magrebina e da áfrica subsariana (costa oeste e golfo da guiné), regiões maioritariamente islâmicas. Actualmente a população francesa é, cerca de, 10% islâmica, o que numa população estimada em 60 milhões significa a presença de 6 milhões de muçulmanos.
Quem quiser ter uma visão mais objectiva e desassombrada visite Marselha. Outrora um dos bastiões da francofonia para o Mediterrâneo, actualmente pouco se difere de uma praça do norte de África, avenidas transformadas em "souk" (sem o romantismo do mercado árabe), onde, quando o "almouedin" grita para a oração, é conveniente parar o carro porque a canzoada vai ocupar a faixa de rodagem, pôr-se de cócoras a orar e se o automobilista, ainda que turista e incauto, se lembrasse de buzinar para prosseguir viagem, há elevada probabilidade de incendiarem o carro com a família lá dentro, por (presumo) ofensa à liberdade de culto.
Quem pretender perceber porque não aceito a instalação de "comunidades", convido a uma procura, ainda que meramente académica, do significado de termos como "jihad", "fatwa" ou, de forma mais lata, o que é permitido/aconselhado, pelos líderes religiosos respectivos, fazer perante um "infiel" nas comunidades islâmicas.
Admito uma comunidade nacional, no caso, portuguesa que acolhe cidadãos independentemente do seu credo, crença, grupo étnico ou orientação académica ou sexual. Mais do que isso, deixa de constituir uma comunidade para se instalar a promiscuidade.
É a minha opinião e que só me vincula a mim.
Por último, nas reacções mais ou menos teatralizadas deste e doutros burgos afins, permito-me citar Torga:
(no anexo)
Abraço grande.
LM
http://observador.pt/opiniao/o-problema-nao-sao-os-outros-somos-nos/
O problema não são os outros. Somos nós
“Como é que a
Europa deve responder aos ataques terroristas? A solução passa sobretudo por
medidas securitárias, ou deve passar também pelo combate ao desemprego e pela
integração das comunidades árabes e islâmicas? São preocupantes os sinais que
apontam para o crescimento da xenofobia?” – No site da TSF estas perguntas
lançavam o Forum da passada sexta-feira.
O primeiro impulso
seria rir perante o óbvio destrambelho destas perguntas: combate ao desemprego?
Mas desemprego de quem? Onde é que na Europa alguma vez o terrorismo foi
praticado por pobres ou por desempregados? Os terroristas europeus contaram nas
suas fileiras com aristocratas, militares, jornalistas, padres, artistas,
estudantes, intelectuais, médicos… Agora que se mata em nome de Alá e não de
Marx as profissões são menos diferenciadas. Não temos em 2015 registo de nenhum
terrorista que seja editor e aristocrata como foi nos anos 70 do século passado
Giangiacomo Feltrinelli nascido em palácio, responsável pelas melhores edições
de Itália e bombista que se dizia serviço do proletariado, mas daí a ver-se nos
autores dos recentes atentados em França uns jovens que o desemprego e a falta
de oportunidades levam a matar os seus semelhantes vai um pedaço de mau
folhetim neo-realista que nenhuma realidade sustenta.
E o que se
entenderá por “integração das comunidades árabes e islâmicas”? Aliás será que
ser árabe ou islâmico faz de cada um automaticamente membro dessas ditas
comunidades? Os portugueses que emigraram para França há tantos anos quanto os
pais de muitos destes membros das actuais “comunidades árabes e islâmicas” e
que ao contrário de muitos deles nem sequer sabiam ler nem escrever e muito
menos falar francês que medidas tiveram para promover a sua integração na
sociedade francesa?
As perguntas
lançadas no Fórum da TSF são semelhantes a tantas outras formuladas nos últimos
dias. São perguntas, frases e comentários que partem sempre do mesmo princípio:
o problema da violência dos outros somos nós. Porque nós vemo-nos como
responsáveis por tudo o que aconteceu e acontece no mundo: para tudo aquilo que
os outros fazem há sempre um gesto ou uma decisão que nós ou os nossos
antepassados tomámos agora ou há quinhentos anos e que explicam, justificam e
de certa forma têm desculpado aos nossos olhos o terrorismo e os terroristas.
Nós, europeus,
temos um problema sério. Não com os terroristas que por mais chocante que seja
escrevê-lo nestes dias não é a nós, ocidentais, que causam maior dor: enquanto
na Europa se repetia “Todos somos Charlie”, na Nigéria o Boko Haram matava 2000
pessoas, na sua maioria mulheres, crianças e velhos sem que alguém se
indignasse ou sequer admirasse. Não há semana em que na Nigéria, no Paquistão
ou no Quénia o terrorismo islâmico não faça atentados. Meninas de dez anos são
transformadas em bombistas suicidas. Das vítimas ninguém sabe nada, nem a
idade, nem o nome nem o que faziam.
Ao contrário do
que sucede nesses países, o terrorismo islâmico não põe em causa o nosso modo
de vida. Muito menos os seus autores têm actualmente capacidade para
condicionar a nossa vida política como o fizeram no passado. Pense-se apenas
que em 1978 as Brigadas Vermelhas tiveram capacidade para manter Aldo Moro
sequestrado durante 55 dias! O que presentemente o terrorismo consegue é
confrontar-nos com um mundo que não é apenas os resultados dos nossos actos. E
para esse ruir das nossas ilusões não estamos preparados.
O nosso problema
com o terrorismo não são os terroristas mas sim o relativismo com que
analisamos os seus actos. E quanto mais esses actos nos parecem plausíveis de
ser explicados pela cartilha do sociolês mediático (uma espécie de marxismo
caldeado com fartura e culpa cristã por viver bem) mais os toleramos. Daí que a
condenação que fazemos do terrorismo seja quase indexada ao posicionamento
político das vítimas: durante anos e anos a ETA foi tolerada porque as suas
vítimas eram geralmente militares, agentes da Guarda Civil, militantes do PP,
empresários… enfim gente que nesse discurso justificativo se procurava sempre
associar ao franquismo. Quando se tornou óbvio que as balas da ETA não
distinguiam as nucas da gente de esquerda das da gente de direita era como se
se estivesse perante um desacerto desses rapazes um pouco excitados mas apesar
de tudo gente de causas. E só nessa fase em que ser de esquerda deixou de ser
um escudo perante a ETA muito boa imprensa tida como de referência deixou de
tratar a ETA como movimento independentista para passar a designá-la como
aquilo que sempre foi: terrorista.
Pelo contrário não
houve qualquer simpatia, enquadramento socio-cultural ou tentativa de
compreensão das razões que levaram Anders Behring Breivik a matar vários dos
seus concidadãos na ilha de Utøya. Breivik era branco e de olhos azuis, não podia
ser integrado em comunidade alguma e era de extrema-direita. Logo foi visto
como aquilo que era: um terrorista e não o resultado de uma qualquer exclusão.
Aliás se os irmãos Kouachi tivessem levado a sua mortandade a cabo não no
“Charlie Hebdo” mas sim num jornal de direita não faltariam neste momento
explicações para os seus gestos.
Por exemplo
explicações similares às que foram dadas em 2005 aquando do assassinato por um
fundamentalista islâmico do cineasta Theo Van Gogh, ele mesmo, a vítima,
definida como um “provocador”. Ou aquando dos atentados do 11 de Setembro em
que a culpa era inevitavelmente de Bush, dos americanos que “estavam a
pedi-las” e das torres que eram um símbolo do poderio capitalista. Explicações
similares às dadas quando o jornal dinamarquês “Jyllands-Posten” publicou
várias caricaturas de Maomé: condenou-se rapidamente a violência para logo em
seguida se partir para o perfil “populista” da publicação e, em seguida,
desenvolver longos raciocínios sobre a problemática da intolerância. Não, como
em abstracto se esperaria, da intolerância dos agressores mas sim daquela que
em nome das vítimas poderia vir a ser desenvolvida…
Os exemplos não
faltam. Nem vão continuar a faltar. Embora se possa ser levado a pensar que o
agora sucedido em França virá a marcar um antes e um depois na forma de olhar
estas questões na Europa. A própria forma como a sociedade francesa está a
reagir dá conta de algo que vem de muito antes e que não se restringe ao
fundamentalismo islâmico: estamos perante um país que perdeu para a Inglaterra
o lugar de quinta economia mundial e em que o ministro da Economia, Macron,
teve de se explicar porque declarou que era positivo que os jovens franceses
desejassem ser milionários. Um país onde grupos de jovens assaltantes conseguem
bloquear comboios, assaltar os seus passageiros (às vezes seleccionando nestes
e noutros ataques as vítimas pela sua aparência racial) e ainda atacar as
equipas de socorro.
Um país que
precisamente dias antes destes atentados viu com estupefacção serem publicadas
fotografias tiradas dentro de prisões francesas: a avaliar por aquilo que ali
se via de consumos de drogas e ostentação de dinheiro algumas prisões francesas
são um espaço cujo ambiente parece retirado de um qualquer festivo e sórdido
casino. Se se recuar uns meses e se se trocarem estas fotos pelos parágrafos de
um relatório policial constatar-se-á que, segundo os autores desse estudo, as
prisões francesas são um dos principais locais de radicalização dos jovens
muçulmanos pois não existe qualquer capacidade de controlar a actividade dos
imans nos estabelecimentos prisionais. Como não podia deixar de ser rapidamente
se esqueceram os avisos contidos nesse relatório para mediática e politicamente
o tomar como pretexto para um tema bem mais aliciante e politicamente correcto:
correm as prisões francesas o risco de se transformar num novo Guantanamo?
A França é o país
onde todas as semanas aparece o problema de uma funcionária de supermercado ou
escola que pretende trabalhar de rosto completamente tapado mas onde
paralelamente as activíssimas associações ditas de livre pensamento, que se
calam respeitosamente perante a actividade dos fundamentalistas islâmicos,
exigem com urgência que se proíbam os presépios nos espaços públicos. O país
onde as autoridades se regozijaram porque na noite da passagem de ano foram
incendiados apenas 940 automóveis: afinal em 2014 tinham sido contabilizadas 1
067 viaturas queimadas. (Já agora quantas notícias se leram sobre estes factos
na imprensa portuguesa? Será que os jornalistas não sabem francês ou
simplesmente não estão preparados para dar notícias que não cabem na sua
quadratura do mundo?)
Um país onde
abordar boa parte das questões que vão do mundo do trabalho, à habitação e às
escolas se torna num campo minado em que em vez de se discutirem os problemas
concretos logo se define que colocar determinada questão é discriminatório,
passando com fervor a discutir-se se A ou B é xenófobo. Patrões, professores e
funcionários estão entregues a si mesmos perante uma minoria que escudada nos
conceitos de comunidade exige de facto um tratamento diferenciado para impor a
sua vontade aos demais e retirar as maiores vantagens do sistema (não estou a
falar apenas dos radicais muçulmanos mas também deles).
Mesmo umas
prosaicas salsichas numa festa de escola infantil podem tornar-se em França no
pretexto para que algumas famílias, alegando que não comem carne de porco, não
só tenham direito, como é desejável, a uma comida diferente, mas acabem a impor
as suas regras a todos demais. Pois face à recusa destas famílias de
partilharem um grelhador onde tivessem estado carnes que consideram impuras, a
alguns professores não ocorreu melhor ideia que acabar a só servir salsichas
halal. Ou seja salsichas confeccionadas com animais abatidos segundo os ritos
da religião muçulmana. Naturalmente esta decisão foi tomada e justificada em
nome da tolerância
Com aquela espécie
de complexo napoleónico de quem já teve um imperador e agora tem presidentes em
declínio, a França adoptou perante os seus problemas a mesma atitude que tem
perante a crescente influência do mundo anglo-saxónico: fala de excepções
culturais, usa a retórica da “grandeur” e apresenta contabilidades engenhosas
para iludir a realidade. O resultado é catastrófico. Na rua a realidade
impõe-se. E na política, o país que prefere as revoluções às reformas e que
acha que o mundo em geral e a França em particular se ordenam por declarações
de vontade prepara-se para mais uma vez tentar suster a evolução da economia e
da História. Agora premiando eleitoralmente os radicais de direita. De quem
esperam exactamente o mesmo que esperaram quando a esquerda elegeu Hollande:
que façam leis que garantam à França um estatuto excepcional no mundo e que
portas adentro os consigam tirar desse inferno de intolerância a que em nome da
tolerância chegaram.
Sem comentários:
Enviar um comentário