

Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho a certeza absoluta. (Einstein) But the tune ends too soon for us all (Ian Anderson)
Língua estufada
Quase nem valeria a pena lembrar o que aconteceu à língua inglesa. Durante séculos, foi falada e escrita de maneiras diferentes na Inglaterra e na Irlanda, na América e na Austrália, na Libéria e no Gana. Não era uma simples questão de cor local, mas uma tragédia que levava um sujeito de Norwich, em Norfolk, a rabiscar colour e um sujeito de Norwich, Connecticut, a preferir color. E nunca os governos dos referidos países, inspirados por académicos e cidadãos responsáveis, impuseram um padrão comum, que unisse a grafia de Monróvia, Uganda, à de Monrovia, Califórnia. Se houve gente sensata a propor a união, ninguém a ouviu. O resultado é o que se sabe: o inglês definhou e hoje apenas subsiste, para consolo de nostálgicos e excêntricos, no cinema, na televisão, na música popular, na Internet, nos jogos de vídeo, na diplomacia, em muita literatura contemporânea, em boa parte dos ensaios científicos e no jargão das ruas do Ocidente. O desleixo paga-se caro.
Felizmente que em Portugal não se brinca com coisas solenes. Por cá, a prevenção manda e mandou consagrar aquilo que, na alma navegante de cada lusófono, constituía uma necessidade gritante: um acordo ortográfico (AO) para o português. A ideia, inicialmente mastigada por duas dúzias de génios nos seus imensos tempos livres, tornou-se oficiosa em 1991, mereceu a aprovação do prof. Cavaco em 2008, subiu a regra nos documentos do Estado em 2012 e fez-se obrigatória há dias.
Não imagino que sanções se aplicarão aos prevaricadores daqui em diante (sugiro açoites na praça ou a digestão dos discursos da dra. Edite Estrela). Sei que o AO se mostrou fundamental na afirmação do português no mundo. À semelhança de um grupo coral de afónicos, uma língua repleta de "cês" mudos, por exemplo, não convenceria ninguém. Falo (e escrevo) por experiência própria: sempre que narrava um "facto" trivial a um estrangeiro, o fulano olhava-me com desprezo ou troça. Desde que passei a contar-lhe "fatos" é vê-lo encolher-se perante a pujança da expressão. E quem respeitava os acentos agudos nas paroxítonas? Sem acentos, o português -língua fica igual ao português -povo da gesta marítima: heróico, perdão, heroico.
Por enquanto, o AO permitiu que o idioma que já se praticava maravilhosa mas obscuramente nos romances, na academia, no jornalismo, na retórica política, nos programas televisivos e nas "redes sociais" indígenas alcançasse projecção, desculpem, projeção internacional. Em breve, graças às desenfreadas exportações livreiras (crescimento de cerca de 0% em seis anos, segundo a Porto Editora) e ao contágio do tipo ébola, a projecção, chiça, projeção vai transformar-se em domínio: os anglófonos, francófonos e etc. irão abdicar dos seus dialectos, mau Maria, dialetos e, enfim, ceder ao verbo de Natália Correia e Marco António Costa.
Não tarda, a Terra toda escreverá e falará como nós. Excepto, agora a sério, alguns países lusófonos que ignoram o AO, para irritação dos que, na língua, se afligem mais com a forma do que com o conteúdo. São os mesmos que, em matéria de livros, gostam de os cheirar, tocar e dormir com eles – e depois não lêem, irra, leem nada que preste. É tara de semi -analfabetos, raios me partam, semianalfabetos.
O BOM
A revolução em marcha
Há quatro anos que activistas e o dr. Soares rezam para que o povo saia enraivecido à rua. Em vão. O povo não se maça excessivamente com impostos, "cortes" salariais, o BES e a troika. Pelos vistos, a única coisa que enfurece as massas é o Benfica ser campeão, um mistério quando as massas em questão gostam do Benfica – cujas vitórias, para adensar a intriga, são conhecidas por estimular a economia, ao menos nos sectores cervejeiro e vidraceiro.
O MAU
Um argumento infantil
Apesar da recriação em Lisboa e Guimarães dos motins de Baltimore, a indignação da semana prende-se com o polícia maluco que desancou um adepto. E se a actuação do agente sugere vocação mais adequada às "claques" do que à ordem pública, não percebo o argumento que invoca a presença de uma criança em cena. Aparentemente, fazer-se acompanhar do filho oferece completa imunidade. É melhor que os criminosos a sério não descubram este vazio legal.
O VILÃO
Ai Jesus!
Antes de me desinteressar por futebol, deixei de ligar a clubes (era do Benfica) quando percebi que o objectivo dos adeptos é a humilhação do adversário: não importa a vitória dos "nossos", mas o prazer que retiramos da derrota dos "outros". Não sendo santo, prefiro reservar esse gozo a outras áreas da vida. Na bola, hoje, a minha única convicção é a seguinte: um País que disseca e venera cada frase do sr. Jorge Jesus é tão admirável quanto o próprio.
Alberto Gonçalves na Sábado (20.05.2015)
Se a tendência dos últimos tempos se mantiver, o filme que se perspectiva para depois das legislativas é uma sequela em tons cinzentos do que conduziu ao pedido de resgate em 2011. Tal como acontece na maioria das sequelas, o filme arrisca-se a ser de ainda pior qualidade do que o original, mas num aspecto não devem restar dúvidas: o final será muito semelhante. Caso venha a ser colocado em prática, o guião do regresso ao passado será uma receita para o desastre depois das próximas legislativas.
André Azevedo Alves no Observador (15.05.2015)
Nessa altura, dezenas de portugueses resolveram ir observar aquele paraíso "dólarizado", em que a classe média se prostituía e eles se pavoneavam fumando charutos e frequentando as praias, os bares e os restaurantes para turistas. Suspeito que gostaram; e sei que nenhum abriu a boca para contar o que vira. Agora, com a hipocrisia do costume, acordaram para um mundo diferente. François Hollande, essa criatura abjecta, foi logo fazer a sua corte ao velho senil e assassino Fidel. E, em Roma, Raúl Castro, hoje o homem forte da ditadura, anunciou que se preparava para rezar ao Altíssimo por S.S. o papa Francisco, que tanto tinha ajudado Cuba. A esquerda cá de casa delirou. São os mesmos de sempre.
Vasco Pulido Valente no Público (enviado pelo MVasquesO)
O punho esquerdo assim fechado, é uma coincidência! Asseguro!
Num estudo, já de 2011, Mathieu Duchâtel, investigador dos problemas da Ásia, nas Sciences Po, usou o conceito do "culto da impersonalidade" para traçar a caminhada de Hu Jintao até reunir nas suas mãos e vontade a herança do pensamento legado pelo inovador Deng Xiaoping. Também nos ocidentais encontramos exemplos dessa política de apagamento da visibilidade, ao mesmo tempo que, entre outras práticas, procuram reservar a capacidade de falar ao ouvido do príncipe, com a imagem "de um tecnocrata apagado e consensual". É de admitir que a globalização tenha multiplicado os fenómenos assimiláveis, designadamente nas vastas redes burocráticas cuja constituição anda, até pela complexidade, afastada dos olhares das populações dos numerosos países que se congregam, e que frequentemente eles próprios usam o método da política furtiva, isto é, longe da intervenção ou do conhecimento dos eleitorados e dos parlamentos nacionais.
A evolução da União Europeia, designadamente na política do alargamento e da segurança e defesa, tem um passado refletido em muitos dos desafios que a inquietam, mas, nesta data de crise, a questão parece fazer crescer outro aspeto, talvez não novo mas subitamente avultado, no que toca às eleições para os cargos e encargos da governança interna que pertence à soberania sobrante de cada um. Um dos elementos desta situação é de expressão antiga, mas ganhando relevância a partir da crise, que é a substituição do conhecimento da identidade e das capacidades dos eleitos para os Parlamentos em listas partidárias, as quais tornam ignorados os candidatos pelo facto de ser a identidade do partido que avulta no chamamento e na determinação de voto do eleitorado. Muitas reformas do Estado, de tempos a tempos lembradas mas não concretizadas, fazem que permaneça um culto de impersonalidade que provavelmente priva a gestão do Estado de concorrência de capacidades que não apreciam o processo. Mas a questão agrava-se quando a disputa diz respeito a cargos individuais, aos quais é de esperar que concorram individualidades independentes, que podem querer preservar essa independência mesmo quando, em alguma época, passaram pelas exigências da habitualidade do sistema, que pode ele próprio estar frustrado quanto às intenções dos legisladores que o desenharam. Nestes casos, por toda a Europa, vai-se verificando que a intervenção dos meios de comunicação é dominante e que o comentarismo vai desempenhar uma função criativa no sentido de construir a imagem do candidato, eventualmente sem vida política relevante, e reserva no que respeita à sua intimidade.
O resultado, com probabilidade de não ter sido querido ou programado, é que o eleitorado seja chamado a votar numa imagem apressadamente criada, porque as pregações são curtas e as matérias são escassas, mas não sobre a realidade humana, insubstituível, discreta, que a cada um pertence. Os rituais das manifestações públicas pertencem mais ao Estado-espetáculo do que ao interior das coisas, e os desastres que temos visto destruir o projeto dos fundadores da União Europeia encontram aqui uma parte da causalidade, como que oculta, que os determina: os decisores que governam a União, pela maior parte não são do conhecimento personalizado do povo europeu. Ora, não faltam avisos de que o risco em que as sociedades europeias, e mundiais, vivem está em crescimento e não em regressão, pelo que o "culto da impersonalidade" não é o mais indicado: nem para os programas, nem para os proponentes, nem para os candidatos a qualquer das parcelas da responsabilidade e do poder de governar. Isto porque não chega assumir as teorias que são capazes de certezas de caminho único, também é indispensável conhecer a realidade dos candidatos. E nisto os meios de comunicação social, sobretudo em relação a casos de independentes, são um amparo indispensável dos eleitores, não do Estado-espetáculo.
Adriano Moreira no DN (07.05.2015)
No contexto português, há outra maneira de colocar o problema. E passa, inevitavelmente, pelo aumento galopante do número de filmes lançados nas salas, semana após semana. Sem qualquer exagero, pode dizer-se que esse número passou a ser, no mínimo, de sete títulos. Assim, por exemplo, para a próxima quinta-feira, 7 de maio, estão anunciadas nove estreias; para o dia 14, mais dez; para 21, outras dez...
Escusado será dizer que não se trata de deslocar a questão para qualquer avaliação dos filmes como "bons" ou "maus". Importa apenas colocar uma pergunta muito básica: onde é que está esse espectador utópico que tem disponibilidade e recursos financeiros para ir trinta ou quarenta vezes por mês ao cinema? Isto no país em que, em média, cada cidadão não chega a comprar dois bilhetes de cinema... por ano!
João Lopes no DN (Maio2015)
O simples facto de existirem filmes como A Humilhação significa que os tecnocratas do marketing dos "super-heróis" não conseguiram anular os valores mais primitivos de Hollywood. E que, mesmo no mais inapelável negrume, ainda há um cinema de atores.
João Lopesno DN (07mai2015)
Chegou o Vicente. E com uma boa disposição inusual! Já imagina o que o espera, de forma que, toca de rir...A Ana ainda ficou combalida com a operação. Mas vai recuperar. Ou não fosse ela - e ele! - praticantes daquela modalidade que enrijece os mais empedernidos, o Yoga (ATENÇÃO - pronuncia-se Yôga!). Na visita que lhes fiz no Cuf Descobertas, e mesmo apesar das dores dela, era evidente a satisfação! Vai ser um "menino na mão das bruxas", ainda por cima neto único do lado dela.