quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Reflexão-Luís Melo Seara Carvalho


(Hoarding Can Be a Deadly Business in Scientific American)

Tenho duas respostas:

De facto, já fui um coleccionador compulsivo, mas não propriamente um amontoador de tralha ( esse era mais o meu pai… ). Talvez porque desde a mais tenra idade os únicos locais lúdicos onde o meu pai me levava eram museus e exposições, fiquei com a mania da exibição organizada de objectos por temas e, por causa disso, as minhas casas tornaram-se ‘museus’… Só que isso tinha um limite ( o espaço disponível ), e quando este foi todo preenchido, o espírito compulsivo do coleccionador foi-se atenuando! Aliás, porque também as peças que me interessavam foram rareando ou disparavam para preços que eu achava dementes… A última grande vaga foi a ebay, mas essa também está, neste preciso momento, a secar…

Se tiveres oportunidade de um dia ires a uma das minhas casas ( e tenho todo o prazer nisso ) ficas simplesmente atordoado… 80 tabuleiros e peças de xadrez de todos os cantos por onde tenho passado, dezenas de marionetas e máscaras dos teatros locais do extremo oriente, mais de 2000 modelos automóveis à escala, principalmente de Le Mans, que ocupam vitrines que forram integralmente até ao tecto uma das salas lá de casa, centenas de livros antigos, alguns dos quais verdadeiras raridades com 250 anos e valor bibliográfico, colecção de estátuas chinesas em Terra Cota ( sangue de boi ) de Shek Wan, algumas unidades de móveis, pinturas e peças de arte antigas de valor (provenientes de leilões) e, claro, a colecção de automóveis, que também cresceu rapidamente até deixar de haver lugar nas garagens, para não falar de rádios, TVs, grafonolas, etc que herdei do meu pai ( um dos quais hoje com 90 anos )! Como vês, quando me designo por coleccionador compulsivo, não é por acaso… cada colecção impõe uma necessidade de busca de informação sobre o tema, ou temas, que é enriquecedor, e é aqui que está o gozo principal do espírito coleccionador… Se é doentio ou não, depende… Já me senti mais ‘agarrado’, mas quando me começo a debater com problemas de espaço ou os valores começam a ser estupidamente especulativos, o meu ‘agarrado’ desvanece-se logo… Sou incapaz de dar mais de 50 euros por uma peça ( seja de xadrez, seja um modelo ) pois acho que esse é o valor razoável… Para as peças de mobília, ou arte, ou autos de colecção, já investi milhares de euros, mas aqui trata-se exactamente disso: Um investimento!

Quanto ao outro lado da questão, tal como acontecia nos longos séculos de ignorância global que a humanidade atravessou, em que tudo era classificado de acordo com um desígnio espiritual, religioso, sectário, mais ou menos baseado num interesse político duma camarilha qualquer, nos dias de hoje, no primado da ciência sobre o obscurantismo, não há comportamento humano que não tenha de ficar identificado à luz duma ‘teoria científica’. Fica bem a um obscuro laboratório ou Universidade defender uma tese que mais ninguém se preocupa em defender… Sempre dá uns artigos que talvez justifiquem uma bolsa de investigação ou um subsídio… Gosto muito da Scientific American, uma das minhas revistas mensais, mas às vezes nota-se que lhes falta tema… Nunca tinha ouvido falar de hoarding, mas que qualquer tendência de amontoar um determinado conjunto de peças seja um desvio comportamental, porra, vai lá vai… Se pudesse falar com os distintos autores destes estudos, mandava-os analisar esses desvios comportamentais para certas espécies que não fazem outra coisa senão acumular ‘tralha’, como as colónias de formigas, ou os esquilos e outros roedores, ou as gralhas, etc, etc, a um ponto tal que, nestas últimas, muitas vezes se esquecem onde as guardaram e as perdem… Isto sim, merecia um longo estudo… mas se calhar não dava subsídio, nem aparecia nos jornais…

Bicho humano ( a maior praga biológica jamais registada neste planeta! ) e a sua necessidade efémera de protagonismo, é a minha conclusão… Até amanhã!

 

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