Um cristão em Roma
OPapa Francisco tem despertado entusiasmo e esperança dentro e fora da Igreja Católica. Num tempo tão cinzento como o nosso, em que o governo do mundo parece ter sido entregue ao triângulo funesto da incompetência intelectual, da ganância económica e da iliteracia ética, é preciso ter cuidado para não nos deixarmos seduzir por promessas que, depois, correm o risco de nos desiludir. Há limites, contudo, até para a suspeita crítica. Quando se comemoram os 50 anos da Encíclica "Pacem in Terris", do Papa João XXIII, Francisco resolveu publicar uma Exortação contendo 288 parágrafos de reflexão profunda e diversificada sobre os temas mais agónicos do mundo contemporâneo. O título é significativo: "A Alegria do Evangelho" (Evangelii Gaudium). Trata-se de um documento cuja riqueza, necessariamente desigual, não se esgota numa síntese, mas se a tivermos de fazer, então a Exortação constitui uma comovente e contundente recusa da miséria moral em que habita uma sociedade mundial corroída pela "idolatria do dinheiro" e o desprezo pela condição humana. Se olharmos para a Exortação como europeus e portugueses, é impossível não perceber o contraste entre uma União Europeia que se transformou numa máquina de fazer pobres, ou Portugal, onde o Estado confunde reforma com eutanásia, e o apelo papal à justiça social e ao reforço do papel do Estado na sua defesa do "bem comum". Os interesses instalados (a começar por dentro da própria Igreja) que se cuidem. Desta vez, quem chegou ao Trono de São Pedro não é apenas um funcionário diligente ou um teólogo erudito. Há um cristão completo à frente do Vaticano. De doutrina e ação. E isso faz toda a diferença.
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