sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Reflexões-vários

(Eduardo Marçal Grilo em entrevista ao "i" em 15.11.2013)

Hoje a política está à frente do país?

Passámos a ser uma sociedade sem valores. Muito poucos de nós respeitam o sentido da ética. A ética não se regulamenta. O que me pergunto é como é que algumas dessas pessoas conseguem dormir. Quando se perde a noção do que é moral e eticamente legítimo perde-se a ideia de que há meios que não devem ser utilizados para determinados fins. Não tenho nada a ideia de que o lucro é uma coisa perniciosa. Agora quando o dividendo é maximizado à custa de deturpação das contas, de alteração de dados, mistificação, sobrevalorização, transferências para offshores ou mecanismos estranhos, tem de haver instrumentos de regulação fortes que possam evitar e punir quem ultrapassa os limites.

E há?

Estamos um bocado naquela situação do prevaricador que sabe sempre um bocadinho mais do que o regulador. Temos o exemplo da crise americana, que contaminou a Europa e acabou depois por dar origem à crise da dívida soberana. O sistema tornou-se caótico. Temos hoje uma perversão muito grande: é que o poder financeiro sobrepõe-se ao poder político. Quando isto acontece, o poder político deixa de ter capacidade para regular.

(Ana Sá Lopes no editorial do "i" em 15.11.2013)


Estamos a viver uma espécie de fim dos tempos - embora muita gente finja ainda não ter dado por isso. Os dois partidos fundadores da União Europeia - os sociais-democratas e os democratas-cristãos - foram capturados pelos interesses financeiros, pelos negócios, pela miséria ideológica do individualismo selvagem. Na prática, socialistas e democratas-cristãos morreram e o que vemos à nossa frente é um velório prolongado. Nenhum europeu teve ainda a coragem de lhes fazer o enterro, mas é urgente fazer esse funeral e o luto subsequente. Mais vale desligar a máquina que continuar neste estado comatoso a fingir que ainda existem partidos social- -democratas, valores social-democratas ou democratas-cristãos.

O que sabemos que existe, neste momento, é uma extrema-direita a crescer e a organizar-se. Marine Le Pen deverá ganhar as eleições europeias em França e já prepara activamente uma aliança com os extremistas da Holanda, com a Liga Norte e com outras companhias do género

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