sexta-feira, 23 de maio de 2014

Reflexão-Viriato S. Marques


Pelo respeito obrigatório

Por toda a Europa os estudos de opinião revelam que o desagrado dos cidadãos com a crise europeia se traduzirá, no próximo domingo, de um modo duplo. Por um lado, através do crescimento de algumas formações radicais de direita, comprometidas abertamente com a destruição do projeto de unidade europeia. Por outro lado, e numa altura em que a participação dos eleitores seria decisiva, cresce a tendência inversa para a abstenção. Em Portugal, algumas vozes com autoridade para ser escutadas formularam a hipótese de se avançar para a introdução do voto obrigatório. Muitos países têm esse instituto, contudo é preciso avaliar se essa medida iria ajudar, ou não, a resolver o problema profundo e corrosivo do défice de confiança entre eleitores e eleitos que atinge o nosso sistema político. Infelizmente, o curso da campanha por parte dos partidos centrais não nos convida a apoiar semelhante reforma. Como na calafetagem de um navio, as mudanças no sistema político devem ser introduzidas no sítio por onde entra a água, e não ao lado das zonas em perigo. Ao verificarmos que a campanha, em vez de apontar uma estratégia para a crise nacional e europeia, tem sido desperdiçada com metáforas biomédicas, apetece dizer que o problema está nos candidatos e nos partidos que os promovem, e não tanto nos eleitores. A reconquista da confiança política tem de começar pela definição de um código de disciplina que passe pelo respeito da inteligência dos eleitores por parte dos candidatos durante as campanhas. Quando os candidatos fazem campanhas primitivas e agressivas, desenhadas totalmente no cérebro reptiliano, não se pode esperar que os eleitores respondam com as zonas mais nobres do neocórtex.

Viriato Soromenho Marques in DN

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