Pelo
respeito obrigatório
Por toda a Europa os estudos de opinião revelam que o desagrado dos cidadãos
com a crise europeia se traduzirá, no próximo domingo, de um modo duplo. Por um
lado, através do crescimento de algumas formações radicais de direita,
comprometidas abertamente com a destruição do projeto de unidade europeia. Por
outro lado, e numa altura em que a participação dos eleitores seria decisiva,
cresce a tendência inversa para a abstenção. Em Portugal, algumas vozes com
autoridade para ser escutadas formularam a hipótese de se avançar para a
introdução do voto obrigatório. Muitos países têm esse instituto, contudo é
preciso avaliar se essa medida iria ajudar, ou não, a resolver o problema
profundo e corrosivo do défice de confiança entre eleitores e eleitos que
atinge o nosso sistema político. Infelizmente, o curso da campanha por parte
dos partidos centrais não nos convida a apoiar semelhante reforma. Como na
calafetagem de um navio, as mudanças no sistema político devem ser introduzidas
no sítio por onde entra a água, e não ao lado das zonas em perigo. Ao
verificarmos que a campanha, em vez de apontar uma estratégia para a crise
nacional e europeia, tem sido desperdiçada com metáforas biomédicas, apetece
dizer que o problema está nos candidatos e nos partidos que os promovem, e não
tanto nos eleitores. A reconquista da confiança política tem de começar pela
definição de um código de disciplina que passe pelo respeito da inteligência
dos eleitores por parte dos candidatos durante as campanhas. Quando os
candidatos fazem campanhas primitivas e agressivas, desenhadas totalmente no
cérebro reptiliano, não se pode esperar que os eleitores respondam com as zonas
mais nobres do neocórtex.Viriato Soromenho Marques in DN
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